domingo, 27 de maio de 2012

Curiosidade lagunar...

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Nunca simpatizei com os domingos…
Hoje, de companhia, deu-nos para ir dar uma volta por atalhos entre esteiros. Maré em baixa…ria desventrada.


Desta vez, reparámos mais nos desmazelos que nos encantos.


Ao tentar localizar algumas das oito marinhas que, este ano, estarão em laboração, querem saber o que encontrámos?


Ele há cada uma…

Pela ria, no Canal Central, passeiam-se barcos moliceiros de bica cortada, pendurada, leme minúsculo, pindérico, suspenso e sem mastro.
Está bem… outros tempos…tempos de mudança. É para aguentar…
Numa marinha, de que nos abeirámos, enquanto a «água vai ganhando o grau» e o parcel amornando com a quentura da tarde, não é que deparámos com um mastro engalanado, sem embarcação, amoirado em terra batida, com vela a panejar?



Meus Deus, ao longe, têm um efeito de trompe l’oeil.

Não vá a marinha ir à vela!...
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Diria o aveirense F. Pessa – e esta, hein?...

Ílhavo, 27 de Maio de 2012

Ana Maria Lopes
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sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Barco do Mar, pelas mãos de Marques da Silva - 2

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Nesse momento, todo o pessoal da companha do mar saltava a borda, agarrava-se aos remos e, aguardava a onda certa. À ordem do arrais a companha de terra empurrava a grande muleta e com a força das duas juntas de bois ainda ligadas às ferragens de ré, ele escorregava nos últimos rolos e começava a nadar.



Falta-lhe a braveza do nosso mar…mas



A segunda vaga chegava e embatendo nos delgados da proa abria para os lados, deixando que aquele que agora já parecia um grande cisne, sentisse o impulso dos quatro remos e iniciasse a sua viagem. Mesmo só em pensamento ouvia-se “Deus te guie”!



Largadas as guias dos golfiões e as da bica da ré que o tinham mantido perpendicular à linha da costa, o lanço começava, pois o reçoeiro deixado preso pelo chicote a um bordão ferrado na areia, ia escorregando por cima da borda, até que chegasse ao fim.

Era então largada a rede em arco, e começava o regresso, deixando correr a mão da barca. Este segundo cabo, passado para terra, depois do barco ter chegado à praia, iria permitir que a rede fosse apraiada pelas duas mangas que tinham conduzido para o saco o peixe encontrado pelo caminho.



Ao fim de quatro longas horas em que os bois tinham arrastado a grande rede, avistavam-se os calimotes, barris que indicavam as extremidades. Eram eles o sinal que ia apressar homens e bois, para que o saco ao apraiar viesse seguido, sem deixar fugir o peixe ou enroscar-se com o partir do mar na praia. Como recordo toda esta luta!




De regresso (simulação) …


Agora, completado que está o meu plano para a construção do barco do mar “Sto. António”, são estas memórias que me vão fazendo companhia, enquanto preparo os pequenos pedaços de madeira que irão formar o meu barquinho.

As principais medidas que encontrei foram:



Comprimento ………….15,90 m
Boca……………………..4,39 m
Pontal…………………....1,25 m
Número de cavernas………....26


Respeitando todos os pormenores de construção, utilizei madeira de tola para o fundo, choupo para os costados, limoeiro para as cavernas, rodas de proa e popa e para os remos apliquei uma vez mais a tola.

Nas varas e nos rolos, usei ramos de ameixieira, nas ferragens, arame de cobre e para os cabos da rede, fio de linho.

Procurei fazer a pintura nas cores o mais possível semelhantes à do velho Sto. António e, no final, resolvi aparelhá-lo para a pesca como deve ser.




Reprodução do cromatismo…


Caxias, 20 de Março de 2012
António Marques da Silva



Fotografias – Arquivo pessoal da Autora

Ílhavo, 18 de Maio de 2012

Ana Maria Lopes
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quarta-feira, 9 de maio de 2012

O Barco do Mar, pelas mãos de Marques da Silva - 1

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Volvidos dois meses, a dita «jóia» do maquetismo já está pronta. Refere-nos o autor:
Embora tendo conhecimento de um plano de construção do barco do mar de quatro remos da costa de S. Jacinto, resolvi fazer o levantamento cuidadoso do exemplar que se encontra no Museu de Marinha, em Lisboa, para construir um modelo fiel, à escala de 1/25 como já vem sendo meu hábito.


À escala de 1/25



Esta embarcação foi construída em Pardilhó pelo Mestre Henrique Ferreira da Costa «O Lavoura» em 1971. Foi registada em Aveiro com o número – A 21166 e o nome de Sto. António.

Trabalhou na praia da Torreira até 1975, permanecendo imobilizado a partir dessa data.

Em 1980 foi comprado ao seu proprietário, Sr. David da Silva, por 20.000$00 e transportado para o Museu de Marinha em 1982, onde foi restaurado.

Curiosidade – O transporte para Lisboa importou em 10.000$00.

Felizmente para todos nós, este barco foi recolhido e acautelado ainda em bom estado de conservação, dando assim oportunidade a que no presente seja possível observar esta tão imponente e elegante embarcação.



Pormenor da proa

Sempre guardei na memória a emoção que sentia ao observar estes barcos a entrarem no mar.



Pormenor da ré


Ficava na praia à distância permitida pelo movimento e acompanhava com atenção todo o esforço que era necessário para arrastar aquele enorme barco até à zona da rebentação.



(Cont.)



Ílhavo, 9 de Maio de 2012


Ana Maria Lopes
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