domingo, 29 de dezembro de 2024

Inauguração da Estátua do Bispo do Mar

 -

Inauguração da Estátua do Bispo do Mar

 

Faz, exactamente, hoje, cinquenta e seis anos, que Ílhavo viveu um dia festivo – 29. 12. 1968.

Um evento não muito bem aceite por todos… Mas história é história e D. Manuel Trindade Salgueiro, figura eclesiástica e homem de cultura, de grande relevo, era de Ílhavo (1898 – 1965) e tem tido o seu Largo, amplo, lá em baixo, que todos conhecemos, a que chamamos Largo do Bispo.

-

Largo do Bispo
-

Há três anos, foi mudado de sítio para trás da Igreja Matriz, junto à entrada do Centro de Religiosidade Marítima.

Traseira da Igreja Matiz
-

Entrada do C. de R. Marítimo
-

Ílhavo, terra de homens do mar, alia, sobretudo, a figura de D. Manuel, ao Bispo que, durante anos, entre as décadas de 40 e 60, celebrou a Missa campal e dirigiu as pomposas cerimónias da Bênção dos Navios Bacalhoeiros, em Belém, frente aos Jerónimos.

 -

Bênção, em 1960
-

Filho de pescador desaparecido em naufrágio, sempre que visitava a sua terra natal, alojava-se na modesta casinha, aqui, na Rua João de Deus, nº 82, rezando missa, de madrugada, na capelinha privada de S. Domingos, sita à Rua do Curtido de Baixo, e já demolida.

Era domingo, tal como hoje, numa manhã calma, luminosa e fria de Dezembro.

A Vila de então preparara-se para a recepção de ilustres visitantes.

Das janelas, pendiam luxuosas e aveludadas colgaduras; “mariatos coloridos engalanavam as ruas apinhadas de curiosos. O relógio da torre marcava o meio-dia menos vinte, quando a comitiva saiu da Igreja Matriz, onde missa festiva havia sido celebrada. Do céu choviam milhares de papelinhos multicolores; estacionados ordeiramente, os Mercedes-Benz governamentais aguardavam os ocupantes; as vestes cardinalícias, no seu tom de nobreza, esvoaçavam, por entre a populaça bisbilhoteira.

Os convivas, guiados pelo Senhor Dr. Amadeu Cachim, Presidente da Câmara, à época, fizeram o percurso a pé, entre a Matriz e o referido Largo, onde duas tribunas montadas para o efeito os aguardavam.

Após os discursos da praxe, a estátua do Bispo da Gente do Mar, da autoria do escultor Leopoldo de Almeida, foi descerrada pelo Senhor Presidente da República, para gáudio da multidão que acorreu à cerimónia. Algumas figuras etnográficas da vila, trajadas a rigor, emprestavam à festa um colorido característico. Depois de um almoço opíparo, servido à comitiva, entidades locais e convidados, houve lugar a romaria ao Museu Marítimo e Regional de Ílhavo, na altura, sito na Rua Serpa Pinto. O que prova que fosse quais fossem as suas instalações, o nosso Museu Municipal parece, sempre ter sido a grande Sala de Visitas de Ílhavo.

Ílhavo, 29 de Dezembro de 2024

Ana Maria Lopes

-

-


domingo, 22 de dezembro de 2024

Conto de Natal - o milagre na companha

 -


Anteontem, fui à Costa Nova, buscar a minha prenda de Natal de Senos da Fonseca. Como se pressupõe, foi um Conto de Natal por ele escrito.

À noite, li-o e reli-o e pensei:

Conto curtinho, narrado com uma prosa expressiva e malandreca, muito ao jeito do autor.

Quem não conhecer o calão dos “ílhavos” , o seu linguajar e alguma terminologia marítima, não entende metade. Recontando-o:

Em dia de temporal, o meia-lua, na praia, não conseguia ir ao mar e, nem que se aventurasse a ir, a rede vinha esgalmida de peixe.

O mulherio, na praia, via os seus homes partir em busca de sustento, ou na apanha de batatas pelas Galafanhas, ou de pinhas e lenha, que vendiam pelas portas da vila e outros, pelo contrário, gastando os últimos patacos, a escorropichar uns copos, encostados ao balcão das tascas.

Na praia, o meia-lua e o mulherio, só. Assim, não governavam vida. Decidiram ir ao mar. Mulherio, havia. E arrais? Bateram á porta do “Ti Noé”, velhote de 80 anos, que convidaram para tal. Até o levavam ao colo, colo esse que era mais macio que as ondas do mar. O cheiro do mulherio sabia-lhe a guloseima e lá foi.

Entretanto, o autor lança mão de comparações e metáforas, a das cócegas ao remo (ui!), a do furacão do Toino em cima da mulher, esfomeado de ternuras, depois de uma viagem ao bacalhau e outras… , que o lápis azul não deixaria passar.

As cachopas, apressadas, lá saltaram para dentro do barco, quando a Micas, grávida, com um barrigão, prestes a romper as águas, endiabrada, também embarcou. Como que por milagre, o mar aquietara-se e até cheirava a peixe.

Ao som do puxa…puxa, dirigido ao remo, a Micas, prenha, ao ouvir esta ordem, dá um grito e o “Ti Noé” olha-lhe para os pés, onde vê uma poça de sangue, donde saíam os berros de uma criança. Saca do canivete, limpa-o à camiseta, e com ele corta a imbide, que o unia à mãe. Lava o menino nas águas do mar, que, por milagre, ficara morna. Senta-se no cagarete, com ele, embrulhado na camisa, logo baptizado, de Jesus “das Águas”.

Já tinham feito o cerco, faltava, apenas, levar a “mão da barca”, à praia.

Quando se aperceberam que a rede vinha pesada – uma sacada com peixe vivinho no estertor da morte – observaram o milagre do peixe! O “Ti Noé”, com o mesmo canivete   que usara, no parto, corta o porfio do saco da rede. Que fartura, que dádiva da natureza – outro milagre! As mulheres ergueram os braços ao céu, em sinal de agradecimento.

E o menino, o Jesus “das Águas”, esse, lourinho e de olhos azuis da cor do mar, como que nada tendo a ver com o milagre, sorri-se.

Assim, recriei o conto, resumindo-o, para um leitor vulgar.  Este passará nos traços da censura, decerto.

AML. 2024.

-

sábado, 7 de dezembro de 2024

"Fafeiras - uma história de vida"

 -


Há dias, em conversa com amigos, veio à baila o livro “Fafeiras – Uma história de vida”.  Emprestaram-mo e passei a lê-lo. Há muito que ouvia dizer que muitas das mulheres das secas, na Gafanha da Nazaré, tinham vindo de Fafe, mas nunca tinha lido nada sobre o assunto. Chegou a hora.

Tive conhecimento deste livro, pela primeira vez, pelas palavras do Professor Fernando Martins, pelo muito que sabe sobre a Gafanha da Nazaré e, pelo muito que incentivou e ajudou os Autores, na feitura deste livro. Teve mesmo uma apresentação na Gafanha da Nazaré, no ano passado. Não sei como, mas tudo me passou ao lado.

Gostei de o ler, com todo o seu pormenor. Aconselho-o, portanto. Será uma interessante prenda de Natal.

É uma edição de autor, pela pena de Paulo Moreira e António José Novais, fafenses, com 338 páginas e bastantes ilustrações, não numeradas. Mentiria, se dissesse, que não conhecia a maioria delas, sobretudo, as marítimas.


Mulheres das secas
-

Dele constam cerca de 140 interessantes depoimentos de fafeiras, com fotografia das mesmas.

Antes de mais, esta obra é um hino às Fafeiras, às mulheres de Fafe que, em tempos muito difíceis, extremamente preconceituosos, condicionados e condicionantes, tiveram a ousadia de, à procura de uma vida melhor, deixarem a sua terra e migrarem.

Ílhavo, 7 de Dezembro de 2024

Ana Maria Lopes

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Par de Esculturas Ilhavenses

 -

A Câmara Municipal de Ílhavo adquiriu, no Leilão Especial 200 anos da Vista Alegre, no dia 26 de Outubro de 2024, o par de esculturas ilhavenses produzidas na Fábrica de Porcelanas da Vista Alegre em 1944.

Esta aquisição revestiu-se de grande importância por se tratar de duas exímias esculturas – uma figura masculina e outra feminina – que retratam a indumentária dos ilhavenses em finais de Oitocentos, e também pelo facto de acrescentarem valor patrimonial à sub-colecção de cerâmica do Museu Marítimo de Ílhavo, considerada uma das mais importantes pela forma como foi incorporada ao longo dos oitenta e sete anos da vida do Museu.

Casal de ilhavenses

Esculturas de fino recorte, em porcelana moldada e relevada são decoradas com policromia diversa e com apontamentos a ouro e prata. Pintadas à mão, sem menção ao mestre pintor que as executou (a informação não se encontra mencionada no Verbete da Fábrica), ostentam na base a marca nº 31 (1924-1947) e podem ser inseridas na corrente miniaturista de representação da cultura popular portuguesa que, em meados do século XX, esteve tão em voga na porcelana portuguesa.

Estas belíssimas esculturas estão expostas ao público no átrio do museu (na vitrine junto à recepção), onde poderão ser apreciadas por todos aqueles que visitarem o Museu Marítimo de Ílhavo.

-

Ílhavo, 6 de Dezembro de 2024

-

Fonte – Agenda do Município de Ílhavo