segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Até à volta, Santa Maria Manuela!...




Por pura coincidência, uma sugestiva imagem do Santa Maria Manuela está ligada a um dos dias mais conseguidos e felizes da minha vida – a inauguração da Exposição Faina Maior, a pesca do bacalhau à linha, em 28 de Novembro de 1992, já que o cartaz e convite dessa exposição reproduziram o referido lugre, numa velha fotografia, em situação de pesca, encontrada nas instalações da Empresa de Pesca de Viana.
Tal exposição, após várias intervenções posteriores, ainda hoje é a grande fonte da maioria dos sucessos do nosso Museu. Ainda bem!



O Santa Maria Manuela no convite para a Faina Maior


Não é minha intenção, de modo algum, pormenorizar as transformações por que passou o histórico lugre, porque, para isso, todos podem acompanhar o seu blog promotor, mas apenas recordar algumas passagens a que estive mais directamente ligada.
Para tentar “salvar” mais um lugre das garras do esquecimento, constituiu-se e assinou-se no dia 20.12.1995, no MMI, a escritura da Fundação Santa Maria Manuela, constituída por 17 instituições públicas e privadas.
Porque os resultados não estavam a ser facilmente alcançados, apesar do empenhamento dos membros da Fundação, pelo menos durante o tempo que durou a viagem do NTM Creoula, ao Canadá (Agosto/Setembro 1998), no âmbito do projecto “De Novo na Terra Nova”, acostou-se, na Gafanha da Nazaré, o seu irmão gémeo, para tentar despertar consciências e conquistar patrocínios.

O Santa Maria Manuela, a entrar a barra de Leixões



A partir do momento, em que o projecto da recuperação do SMM foi agarrado com algum risco, mas muita alma e determinação, pela Empresa Pascoal & Filhos SA, ano de 2007, tenho seguido o seu andamento com interesse, já que muitos amigos nele estão envolvidos e é um propósito que merece ser acarinhado. Ler mais aqui.

Depois de uma visita ao navio, na Navalria, em grupo, a convite da empresa proprietária, no passado 13, em que não pude estar presente, por saída inadiável, tive conhecimento, pelas fontes de informação habituais, que a chuva e o vento, que se fizeram sentir, não deram para arrefecer os ânimos.

Hoje, o Santa Maria Manuela saiu a barra, pelas 16 horas e 15 minutos e fez-se ao mar, a reboque, para o estaleiro Factoria Naval de Marin, Galiza, onde será concluído. Cá o esperaremos, com entusiasmo, lá para Outubro de 2009, para a fase de acabamentos.
Será, de certeza, abençoado, pela chuva com que o S. Pedro o mimoseou.



A reboque, a caminho da saída…


Em 2010, estará pronto a iniciar uma nova e importante etapa na sua vida e terá um papel importante enquanto “promotor do turismo cultural de vocação marítima”. Os sectores de ciência, inovação e cultura enquadram-se, pois, nos objectivos do projecto.

Até breve, Santa Maria Manuela!...


Fotografia – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 29 de Dezembro de 2008

Ana Maria Lopes


quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Contrastes na Ria....



Duas imagens de que gosto. São o oposto.

Poder-lhe-íamos chamar: Contrastes. Qual delas a mais bonita?

É dia…

É noite…



Evocam-nos vocábulos opostos. Jogos de palavras. Por detrás da antinomia, sempre presente o bucolismo da paisagem lagunar.

Na primeira imagem, o fim do peso da rotina de mais uma emposta, as velas atadas em fim de tarde, projectada no azul celestial, aqui e ali sujo por uns fiapos de algodão, a servirem de fundo à irmandade colectiva dos amanhadores da ria. É dia.

Na segunda, um prateado sobre o azul-cobalto da ria, originando sombras negras como lava, pintadas no silêncio do recolhimento de um olhar sempre amanhecido.
Jogos de luz que se entretêm a colar tatuagens sensuais sobre o corpo da laguna, em ensaios cenográficos de volúpia deslumbrante, que a emoção colhe por inteiro, sôfrega, ainda antes da compreensão os tactear à superfície das águas.
E ali em qualquer lado, em qualquer parte escondidas, as galhetas, em bandos, à procura de poiso para dormir, em lamento, piando em baixos e agoirentos dizeres, até que a luz agonize e sejam horas do sono. É noite.

A ria dorme para serenamente embalar o moliceiro no cochilo.



As duas imagens são da nossa ria, em situações opostas. A superfície lagunar tem destas coisas: noite/dia, claro/escuro, agitação/descanso, velas brancas, mastros negros. Apreciem-nas.

Contrastes também do dia e noite de hoje: o bulício, o rebuliço, o alvoroço diurnos vão dando lugar ao sossego, à paz e à calma nocturnas.


Fotografias – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 24 de Dezembro de 2008

Ana Maria Lopes



domingo, 21 de dezembro de 2008

O vapor inglês Corinthian




Não há dúvida que entre bloguistas com interesses afins, se vão criando alguns laços de amizade. É o que me tem acontecido com um amigo recente, a quem Francisco Marques acicatara “o bichinho” da pesquisa referente a lugres dedicados à pesca do bacalhau à linha.

Tendo lido minuciosamente e apreciado o meu relato do naufrágio do lugre Golphinho, em 1914, e relativo protesto, deu conta da intervenção, no salvamento da tripulação, do vapor inglês, Corinthian, pertença da Allan Line, cujo comandante, o Sr. Bamber, foi de uma dedicação extrema, tendo a Liga dos Oficiais, à época, enviado calorosos agradecimentos a este ilustre comandante inglês, bem como participado o facto ao Instituto de Socorros a Náufragos.

À laia de prenda no sapatinho, para eu enriquecer mais a biografia do meu Avô, que ando a vasculhar, enviou-me o referido bloguista a imagem do vapor Corinthian, que resolvi editar.

O Corinthian


Alertou-me igualmente para o pormenor de que o navio em 1914 devia ter a chaminé pintada com as cores da Allan Line (companhia mãe). Na foto, o navio tem a chaminé pintada com as cores de uma associada da Allan Line, a Beaver Line, facto insignificante, porquanto era hábito, na época, transferir os navios dum serviço para outro, sem perda do respectivo direito de propriedade.

O Corinthian esteve para a tripulação do Golphinho, tal como o Carpathia para os 705 sobreviventes do Titanic, em 14 de Abril de 1912, uma das maiores tragédias da história marítima.

Ficou assim enriquecido, em mais um pormenor, o conhecimento que vou obtendo da vida de mar do meu Avô Pisco. Obrigada, pois!

Fotografia gentilmente cedida por Reinaldo Delgado

Ílhavo, 21 de Dezembro de 2008

Ana Maria Lopes


sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Desafio...1

Na cava da onda, o casco deste elegante lugre ficou praticamente encoberto. Aos visitantes peritos e mais observadores, lançamos um repto… De que navio se trata?



Fotografia – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 19 de Dezembro de 2008

Ana Maria Lopes

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Natal de 2008


É o primeiro Natal do Marintimidades. Inspirada nesta árvore navegante, resplandecente e colossal, desejo um óptimo ano de 2009 a todos os amigos, leitores e apreciadores deste Blog, apesar da vaga alterosa que nos abarca.



Ílhavo, 17 de Dezembro de 2008

Ana Maria Lopes

domingo, 14 de dezembro de 2008

As mulheres das secas



Perante três fotografias, deslumbrantes, encontradas, ignotas, lá bem no fundo de gavetas da Empresa Testa & Cunhas, guardei-as, à espera de, porventura, mais documentação.


Vista aérea da seca – 1933
Cruz de Malta, Silvina e Hernâni





Tive, por afinidades familiares, contactos, com as ditas mulheres das secas, verdadeiras heroínas, mas pelos anos sessenta, em que os trajares já eram mais aligeirados e, porventura, as mentalidades, um tudo ou nada, mais abertas.
As fotos a que me refiro, sem datação, seriam forçosamente da empresa, onde as encontrei, pois amigos, mais velhos, conseguiram-nas identificar. Reportar-se-iam aos anos 30.

Um dia, em Agosto, um post do blog Galafanha do Professor Fernando Martins atraiu-me, pelo assunto versado e pela força e beleza descritivas do texto.

Entrámos em contacto e o Amigo Professor acabou por me emprestar o livro de Maria Lamas, As mulheres do meu País, de que há pouco a editora Caminho lançou uma 2ª edição, donde o texto era extraído.
Na década de quarenta do século passado, Maria Lamas, que faleceu em 1983, com a provecta idade de 90 anos, andou pelas Gafanhas, mais concretamente pela Gafanha da Nazaré, olhando, conversando, retratando as suas mulheres, em diversas e intensas ocupações.

Mas, as das secas foram as que mais me atraíram.
Respigando o mesmo texto, utilizo-o, para complemento e esclarecimento de imagens tão fortes.

A seca do bacalhau na Gafanha emprega muitas centenas de mulheres, durante parte do ano, havendo secas onde o trabalho é permanente, porque abrange duas campanhas, a dos lugres e a dos arrastões.

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Mulheres junto a um antigo armazém – s/d



A escritora que andou pela nossa região recorda a maneira de viver das mulheres da Gafanha, com a sua ignorância, o seu fatalismo, mas também com a sua responsabilidade e solidariedade. E salienta:

No vestuário revelam maior cuidado na limpeza do que as camponesas, que saltam da enxerga, estremunhadas, antes do luzir do dia, e lá vão, para a labuta sem fim…

Assim, acentua Maria Lamas a psicologia das trabalhadoras das secas de bacalhau, desembaraçadas, faladoras e alegres, como se a vida lhes não pesasse. Em conjunto, nas horas de plena actividade, cantando em coro ou simplesmente escutando os programas de rádio, elas constituem um quadro de plena vitalidade e de optimismo. (…)
O trabalho da mulher, nas secas, consta de: descarregar, lavar, salgar e levar o bacalhau, todos os dias, para as “mesas” da seca, recolhendo-o à tarde; depois há ainda a tarefa de o empilhar, seleccionar e enfardar. (…) A lavagem faz-se em tanques; depois o peixe é colocado, em pilhas, a escorrer, sobre pequenos carros, que cada mulher conduz à secção onde recebe o sal. (…)


Ao fundo, o “Laura”; em primeiro plano, bacalhau, carros e tanques de lavagem. Ler mais em Navios e Navegadores



As mulheres, que se ocupavam nestes serviços, eram de todas as idades, solteiras e casadas, predominando as mais jovens. Tinham consciência plena da dureza daquela vida de labores diversificados e pesados. Se o tempo estava bom, a tarefa era-lhes facilitada.



Que grandes bichos! s/d


Um friso de mulheres exibe os seus trajes antigos e peculiares, de saia comprida, rodada, alçada pela faixa, longo avental, blusa tipo chambre, com cabelos apanhados que emolduram o rosto, orelhas enfeitadas, mas pés descalços.
Uma ou outra conseguia arranjar botas de borracha; a regra comum era o pé descalço e o que quase todas usavam eram canos, um tipo de meias sem pés, para protecção das pernas. Os pés, esses, eram sempre os mais castigados!


Mostram belos exemplares de peixes que só a linha permitia apanhar, espalmados, ainda com cabeça, que, praticamente, acompanham a altura delas.

Estão, certamente, a pensar que estes “bichos” seriam óptimos para a Ceia de Natal que se aproxima!

Fotografias – Arquivo pessoal da autora

Lisboa, 14 de Dezembro de 2008

Ana Maria Lopes


sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Jorge Godinho - Coimbra




Logo pela manhã, ao abrir o Diário de Aveiro, enquanto tomava o pequeno-almoço, deparei com uma crónica de Naia Sardo: Jorge Godinho – Coimbra.

Imediatamente a li e gostei. Não contava. Fiquei sensililizada. E este é o mês, em que todos temos um bocadinho da “criança” que fomos. E muito mais, quando temos netos – crianças, para quem fazer passar estas sensibilidades.

Achei que Naia Sardo disse o essencial de cada uma das homenagens dedicadas a Jorge Godinho, o guitarrista, o Professor, o Amigo, o Homem – em Coimbra, terra onde nasceu e Aveiro, terra onde ensinou e despertou muitos jovens para a vida.


O afecto falou mais alto e resolvi editá-la no blog, que, por hoje, “repousa” das Marintimidades.

Em jeito de balanço, estes tributos excederam as minhas expectativas; já tiveram alguns dos efeitos por mim idealizados e continuarão – estou certa – a cumprir esses meus intentos.

É com emoção contida que converso com algumas pessoas que se me identificam, quase a custo, como tendo sido seus discípulos ou explicandos. Pelo que me confessam, foi um Professor e um Amigo que os marcou pela positiva, de uma humanidade e um espírito de camaradagem, que, eu própria, não tive tempo para conhecer profundamente.

E, coincidência das coincidências, o nosso neto mais velho, o Jorge, completa hoje dez anitos.

A crónica do Diário de Aveiro foi, para mim, uma espécie de presente de aniversário, de Natal, o que lhe queiramos chamar, que abri e li com desvelo e transmiti com ternura.

Obrigada mais uma vez a todos os amigos, que me ajudaram a cumprir este objectivo, pela colaboração prestada, ou apenas pela presença significativa.

O Grupo “Raízes de Coimbra”, em actuação

Placa comemorativa no ISCA – UA, à entrada da Sala de Professores



Fotografias – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 12 de Dezembro de 2008

Ana Maria Lopes


terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O Gazela Primeiro "americano"





Quando o Gazela entrou em 1969, pela última vez, em Lisboa, estava obsoleto para a missão a que estava afecto.
Foi desarmado, como era hábito, na Azinheira-Velha, mas, desta vez, não iria ser preparado para a próxima campanha, mas sim para uma não menos prestigiosa carreira museológica, ao ser adquirido pelo Museu Marítimo de Filadélfia, que, entretanto, procurava um veleiro histórico.

A Empresa armadora já vira desaparecer o bonito Hortense que, entretanto, fora oferecido em 1968 à Junta Central da Casa dos Pescadores, para nele ser instalado um Museu de Pesca. Não consentira, pois, que o Gazela viesse a ter idêntico destino.

Desenvolvidas as diligências regulamentares, recrutada uma tripulação americana voluntária de vinte e dois membros, onde tinha sido incluído o Sr. Manuel da Maia Rocha, antigo maquinista do navio, o Gazela, no dia 23 de Maio, domingo, saiu a Barra de Lisboa, com destino a Filadélfia, numa viagem que durou 44 dias.
Na doca, junto ao Museu de Filadélfia, o navio mantinha o mesmo aspecto, com todos os pormenores e requisitos que o caracterizavam quando operava na faina da pesca do bacalhau.

Em 1976, quando o navio foi incorporado numa regata oceânica, comemorativa do Bicentenário dos Estados Unidos, à saída do porto de Hamilton, foi abalroado por dois grandes veleiros de casco metálico que quase o esmagaram. Submetido a uma grande reparação, tudo foi reposto na sua forma original.

Posteriormente, devido a dificuldades financeiras, o museu achou inviável a sua manutenção, entregando-o à associação Ship Preservation Guild, que tudo tem feito para que nada lhe falte. Com uma tripulação voluntária, efectua, no Verão, pequenos cruzeiros e visitas a vários portos, figurando nas mais diversas festividades.

O Gazela a navegar…em toda a sua majestade



Em 1991/2, necessitou de uma nova reparação, tendo sido substituída parte da roda de proa e o beque.

Gazela, em Baltimore, nas docas de Fort Mc
Henry
1991



Revisão do costado do navio



Também foi substituído o mastro da mezena, bem como algum aparelho fixo. Deu entrada em doca seca, para revisão do fundo e do leme (2002/2004).

A sua manutenção continua a ser extremamente cuidadosa. Anualmente, é desmastreado em terra e o navio fica atracado, protegido por uma estrutura de plástico, que permite à tripulação voluntária continuar as reparações internas: substituição do convés, renovação do circuito eléctrico, encanamentos, tanques da aguada, etc.

O Gazela protegido pela estrutura de plástico



Periodicamente, é sujeito a todas as inspecções legais, para poder continuar a navegar, em segurança.


Após uma das reparações…


É regularmente calcorreado por portugueses e jovens, em visitas de estudo programadas por escolas. Há muito quem sonhe com uma viagem do Gazela, de visita a Portugal, seu país de origem.

Em 1995 visitou novamente o porto de St. John’s, na Terra Nova, 26 anos depois de aí ter estado durante a sua última campanha de pesca.

Uns anos mais tarde, veio-se-lhe juntar o Creoula, em missão idêntica.

Actualmente, vamos seguindo interessadamente os passos da reconstrução do Santa Maria Manuela, que esperamos ainda poder ver a navegar…levando bem longe o nome da Empresa proprietária e o de Portugal.

Agradeço ao amigo Marques da Silva todas as informações dispensadas, visto que mantém contactos regulares com a Associação que cuida do “seu” Gazela.
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Fotografias gentilmente cedidas pelo Capitão Marques da Silva

Ílhavo, 9 de Dezembro de 2008

Ana Maria Lopes




sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O lugre-patacho Gazela Primeiro




O Gazela a todo o pano…1943


A memória do lugre Gazela sempre me fascinou. Não é por acaso.

Conheço já vários escritos sobre o Gazela Primeiro, mas este será mais um, que talvez acrescente algo.

O meu Avô Pisco fora o seu segundo capitão. Gostei de o saber, em 1978, quando me veio às mãos a brochura THE GAZELA PRIMEIRO, publicada nos Estados Unidos da América com a cooperação do Museu Marítimo de Filadélfia. Foi esta a página que me deu a conhecer tal facto:



Os capitães do Gazela Primeiro


O Gazela era um lugre-patacho de madeira, construído em 1883, em Cacilhas, por J. A. Sampaio, reconstruído em 1900 em Setúbal por José M. Mendes.

Propriedade da Parceria Geral de pescarias, sofreu em 1938, uma adaptação e um reforço à popa, com o fim de lhe ser instalado um motor-auxiliar; entre 1959 e 1960, suportou, de novo, uma reconstrução de casco e aparelho (arte redonda) nos estaleiros de Mestre Manuel Maria Mónica, na Gafanha da Nazaré. Efectuou a última viagem aos bancos da Terra Nova em 1969. Tendo sido adquirido pelo Museu Marítimo de Filadélfia em 1971, ainda navega sob pavilhão dos Estados Unidos, agora sob a tutela de um grupo de Amigos.

Chamavam-lhe Gazela Primeiro, Gazela, Gazelão, Gazelinha, numa linguagem terna e afectuosa de quem lá andou e dele tem saudades.

Na cidade de Ílhavo, desde sempre, os armadores de navios vieram encontrar os oficiais mais sabedores e dedicados às artes de navegar, a quem entregavam o comando das suas unidades na certeza de que estavam nas mãos de profissionais experientes e esforçados.


Capitães do lugre-patacho Gazela Primeiro:


1899 – Paulo Fernandes Bagão
1901 – Paulo Fernandes Bagão, até 1917 inclusive.
1918 – O navio não foi aos bancos.
1919 – Manuel Simões da Barbeira (Capitão Pisco)
1920 a 1923 – João Pereira Ramalheira
1924 – Aníbal da Graça Ramalheira
1925 e 1926 – João Pereira Ramalheira Júnior
1927 a 1929 – Aníbal da Graça Ramalheira
1930 e 1931 – Manuel Fernandes Pinto (Bóia)
1932 – Sílvio Ramalheira
1933 a 1936 – José Gonçalves Vilão
1937 a 1940 – Francisco da Silva Paião
1941 a 1943 – Augusto dos Santos Labrincha
1944 a 1948 – Armindo Simões Ré
1949 – João Simões Chuva (o Anjo)
1950 e 1951 – José Teiga Gonçalves Leite
1952 a 1957 – João Fernandes Matias
1958 a 1964 – António Marques da Silva (o navio em 1959 não foi aos bancos, por causa da reparação)
1965 a 1968 – José Luís Nunes de Oliveira (Codim)
1969 – Aníbal Carlos da Rocha Parracho

A naturalidade de Paulo Fernandes Bagão não a conseguimos apurar e António Marques da Silva, nascido em Lisboa, vai sendo cada sendo cada vez mais ilhavense, pelos afectos.



O Gazela em árvore seca - anos 50


O Gazela Primeiro parece que, na realidade, sempre fora tão de Ílhavo como da Parceria Geral de Pescarias. Os restantes catorze capitães são todos ilhavenses.

Há pouco, através da imprensa, soube que o Presidente Ribau Esteves, em visita ao navio, testemunhou que tencionava poder trazê-lo até cá, incorporado ou não, numa regata. Pois, oxalá consiga os seus intentos, já que nem todos os ilhavenses têm possibilidade de o ir visitar.

Há uns dias também me entristeceu saber pelo blog de António Fangueiro, CAXINAS…de “Lugar” a Freguesia, no post de 27 Novembro de 2008, que o ex-bacalhoeiro Argus, mítico
navio bacalhoeiro da frota portuguesa, imortalizado por Alan Villiers na viagem de pesca que fez nele em 1950 e sobre a qual escreveu A Campanha do Argus, se encontra, desde há vários meses, apresado num porto da ilha de Aruba, próximo da costa da Venezuela, à espera de uma decisão. Entretanto, vai-se degradando.
Ao que parece, ninguém tem interesse no navio, ex-Polynesia, devido ao seu avançado estado de degradação, proveniente de inúmeros anos sem manutenção.
Portanto, nunca é demais divulgar os lugres que estão bem preservados… como é o caso do Gazela Primeiro.

Expressiva serigrafia do Gazela Primeiro


(Cont.)

Fotografias – de Friedrich W. Baier, amavelmente cedidas pelo Capitão Marques da Silva e arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 5 de Dezembro de 2008

Ana Maria Lopes

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Lugre bacalhoeiro Guerra II




Para mim, os meses de Outubro e Novembro foram de uma guerra saudável, sadia e salutar. Algo cansativa, mas enriquecedora, em todos os aspectos.

Depois do Regresso do Litoral, por que não propor, a mim própria, uma paz e uma calma também salutares, enquanto preparo, com carinho, esta quadra natalícia para os meus netos?

Convém transmitir experiências e saberes, pode-se fazer tarde, mesmo que, por agora, não me prestem grande atenção. Mas curioso, o Manel, ao “apreciar” a contracapa do livro, comenta: Ó Avó, que giro, os barcos, dantes, eram puxados por touros! Risada… Seguiram-se as explicações apropriadas. Alguma coisa ficará.

É com a simbiose antitética entre Guerra e Paz que inicio o blog do mês de Dezembro. Apreciemos a candura e a suavidade, com que o lugre Guerra II desliza na calmaria pacífica, inspiradora, reflectora, espelhenta, das águas lagunares…

Segundo o Catálogo A Frota Bacalhoeira – Navios de pesca à linha, editado pelo MMI. em Maio de 1999, o lugre de madeira Guerra II foi construído em 1919 na Figueira da Foz por Sebastião Gonçalves Amaro para a Empresa Nunes, Guerra & Cª Lda., de Ílhavo. Participou nas campanhas de 1922 a 1930. Foi vendido à Parceria Geral de Pescarias Lda., Lisboa, para a campanha de 1933, passando a ter o nome de Corça.

Após a campanha de 1936, foi vendido à Companhia Transatlântica Lda., Porto, onde terá passado a ser o Granja, já com motor instalado. Participou nas campanhas de 1937 a 1939 e efectuou viagens de comércio, em 1940.
Naufragou em 1941, nos baixios a norte do Cabo de São Francisco, Terra Nova, quando se dirigia a portos da Terra Nova para carregar bacalhau seco.

Guerra II, Corça, Granja, que dança de nomes e de armadores…o que acontece, com frequência.

Sempre que procuro alguma imagem para ilustrar um artigo, detenho-me nesta. Que belo veleiro, espelhado em tão tranquila ria…Tem a elegância de manequim, em passerelle, ao exibir todo o seu velame. Hoje, foi o eleito para editar, pensando naqueles leitores que o desconheçam e que passem a gostar tanto dele como eu.


O Guerra II a reboque…s/d



Pressupõe-se que entra a reboque, auxiliado pelo pano, envergando, no gurupés, a giba alta, bujarrona, vela de estai e polaca.

No mastro do traquete, enverga o traquete latino e a estênsula de proa ou do traquete.

No mastro grande, enverga a vela grande e a estênsula de ré ou do grande.

No mastro da mezena, a mezena. É bem visível o amantilho da retranca, onde se notam os forros de sainete.

Tem cá um sainete, este lugre, no seu mostruário de velame!

Fotografia – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 1 de Dezembro de 2008

Ana Maria Lopes


quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O meia-lua: da praia para o Museu?...



Da praia para o Museu?

Meia-lua – Costa da Caparica – Anos 60



Museu de Marinha – Saveiro da Costa da Caparica



O meia-lua da Costa da Caparica, também conhecido pelo nome de saveiro e barco da arte era o barco usado na Caparica para a arte xávega, que lembra pelo seu arqueado e pela quase igualdade das bicas uma meia-lua perfeita. Manuel Leitão define o meia-lua como sendo mais pequeno que o barco do mar, com fundo chato, mas com um tosado importante, que o levanta numa curva bastante acentuada até às rodas de proa e de ré, produzindo o perfil característico em crescente, que dá à embarcação o seu nome.

Actualmente, esta embarcação embeleza a galeria exterior do Museu de Marinha, conducente ao Pavilhão das Galeotas. Mede de comprimento 8,50 metros, de boca 2,40 m. e de pontal 0,80 m. Existia um meia-lua, em tudo idêntico, no Museu de Exeter (Anos 90).

Expor, em seco, embarcações em salas ou galerias de museus é um dos meios de preservação de embarcações tradicionais. Satisfaz? Vantagens, terá sempre bastantes. É melhor do que nada. Quais as desvantagens? Imaginamo-las rapidamente. Poderia o país ter perseverado a quantidade interminável de embarcações tradicionais que possuíamos, desde a orla marítima, às fluviais ou às estuarinas?

Seria viável e auto-sustentável tal procedimento? Ou deveria ter sido necessário ir definindo ou definir ainda critérios de validação?

Para conhecer a riqueza do país marítimo que fomos e o que nos resta, poderá assistir no MMI. ao lançamento do livro REGRESSO AO LITORAL – Embarcações Tradicionais Portuguesas, editado pela Comissão Cultural da Marinha, pelas 17 horas do próximo sábado, dia 29 de Novembro.

A apresentação da obra estará a cargo do Comandante Rodrigues Pereira, Director do Museu de Marinha. Participará na sessão o Presidente da Comissão Cultural da Marinha, Almirante Rui de Abreu.

Imagens – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 26 de Novembro de 2008

Ana Maria Lopes



quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Regresso ao Litoral - Embarcações Tradicionais Portuguesas




O trabalho tem como objectivo uma (re)visitação do litoral, com base nos inquéritos in loco, levados a cabo nos anos 60, que deram origem à minha tese de licenciatura “O Vocabulário Marítimo Português e o Problema dos Mediterraneísmos”.
Repeti, então, para minha recreação, a visita ao litoral pelos anos 80, tendo guardado religiosamente o material, escrito e fotográfico, versando, sobretudo, e só, as embarcações “tradicionais”.

Actualmente, no 1º decénio do ano 2000 (2006/2007), séc. XXI, era altura de levar a cabo uma terceira geração de trabalho de campo, para constatar, praticamente, a "morte" anunciada das ditas embarcações tradicionais marítimas.

São intervenções que distam umas das outras 20 anos, que permitem tirar algumas conclusões, sempre tendo como termo de comparação a obra-base de Baldaque da Silva “Estado Actual das Pescas em Portugal”, de 1891.

Presentemente, senti que o que havia a fazer era percorrer incessantemente todo o litoral para recolher documentalmente um ou outro exemplar, quase todos embarcações miúdas, fotografá-las (é o mínimo que se pode fazer), descrevê-las, medi-las, para que a sua memória perdure e haja elementos para se reconstituírem, se para tal houver interesse. Sobretudo, divulgá-las. Num quotidiano em que as comunidades cada vez mais voltam as costas ao mar, a cultura marítima corre o risco de se perder.

Algumas associações e instituições de defesa do património marítimo lutam com este problema.
O que nos resta fazer perante este panorama?

Contracapa



Colocam-se algumas hipóteses possíveis e viáveis, sujeitas a análises e reflexões, de recuperação de embarcações:

- Devemos e podemos voltar a construir essas embarcações recuperando os modelos, as formas e as técnicas de construção naval, isto é, as tais réplicas navegantes, como os casos da lancha poveira do alto, a “Fé em Deus”, da Póvoa de Varzim, da catraia de Esposende, de algumas embarcações do rio Tejo, recuperadas por Câmaras ribeirinhas (a Câmara do Seixal é emblemática, neste capítulo) e do caíque de Olhão recuperado pela Câmara Municipal de Olhão, em 2002?

- Devemos musealizá-las, como é o caso do Museu Marítimo de Ílhavo com as embarcações da Ria e do Museu de Marinha de Lisboa, com diversos tipos recolhidos e expostos em seco, para citar dois dos casos que me são mais familiares?

- Devemos utilizá-las como elementos decorativos em rotundas ou centros comerciais, com toda a exposição ambiental a que estão sujeitas?

- Devemos promover a sua utilização, mantendo-as operativas, nem que seja numa actividade subsidiária, como o caso das regatas dos moliceiros da ria de Aveiro e outros exemplos?

- Ou simplesmente, devemos estudá-las e divulgá-las, utilizando software informático, mostrando as virtualidades deste tipo de representação computorizada, a chamada reconstrução virtual em 3 D?

Depois da apresentação pormenorizada e documentada do material recolhido nas três épocas, expomos as principais conclusões a que chegámos (160 páginas de texto, a duas colunas, 140 fotografias e nove planos de embarcações.

E editora? Pela experiência que vamos tendo, sabemos que não é tarefa fácil. Com o trabalho praticamente terminado, quase nem queria acreditar que as Edições Culturais da Marinha tivessem englobado esta obra no seu plano editorial de 2008. Assim foi e os prazos cumpriram-se. Muito trabalho, muita ansiedade, alguns pequenos dissabores, que foram ultrapassados. Tarefa cumprida. Mais um sonho, que, com paixão e muito trabalho, se tornou realidade.

Capa

O lançamento da obra será no próximo dia 24 do corrente mês, em Lisboa, no Museu de Marinha, no Pavilhão das Galeotas, pelas 17 horas e 30.
A apresentação da obra estará a cargo do Professor Doutor Álvaro Garrido, Director do Museu Marítimo de Ílhavo.

Fotografias – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 20 de Novembro de 2008

Ana Maria Lopes

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

PAINÉIS DE MOLICEIROS . 2





O espaço central do painel ocupa lugar privilegiado, pois é aí que os artistas têm expressado ao longo dos tempos um vasto repertório de imagens e acontecimentos.
Os elementos humanos masculino e/ ou feminino de vários estratos sociais são dos mais retratados, em corpo inteiro ou em meio corpo.


Fernando Pessoa - Anos 80



Habitualmente, a figura em meio corpo é escolhida de preferência para a personagem de carácter histórico-patriótico: Luís de Camões, Fernando Pessoa, D. Dinis, Infante D. Henrique, Vasco da Gama, João Afonso de Aveiro e tantos outros.


Infante D. Henrique - Anos 80


As figuras, normalmente, assentam num fundo azul claro ou branco. Quando o espaço é todo ocupado, o cenário tem vindo a pormenorizar-se. Por baixo, a legenda séria e adequada, sobre fundo, normalmente, branco ou róseo, completa sempre o conjunto pictórico.



João Afonso de Aveiro - Anos 80



Na galeria de figuras histórico-patrióticas, desde Afonso Henriques, até Américo Tomás, ao General Eanes e António Guterres, têm passado as mais variadas. Neste tema, as decorações deste ano não apresentaram grandes novidades.

Foi com satisfação que soube que, no âmbito do Colóquio Internacional “Octávio Lixa Filgueiras”, será lançado o livro de Clara Sarmento, Cultura Popular PortuguesaPráticas, Discursos e Representações, dedicado à cultura popular da Ria de Aveiro e à etnologia do barco moliceiro, que terá lugar no MMI, no dia 17 de Novembro, pelas 18 horas. Nunca serão demais publicações deste teor. Parabéns à Autora.



A821M – Sou bela e sinto-o por ser bem portuguesa - Anos 80


Ler mais aqui

Fotografias – Cedência de Paulo Miguel Godinho

Ílhavo, 13 de Novembro de 2008

Ana Maria Lopes


domingo, 9 de novembro de 2008

O palhabote Santa Eulália


Depois do triste fim do Novos Mares, dêmos boas notícias no que toca à preservação de navios. O Santa Maria Manuela já tem os seus quatro mastros hirtos e altaneiros, dando-lhe cada vez mais a traça original, de 1937, aquando do seu nascimento. Ainda faltam brandais, enxárcias e mastaréus, mas lá chegaremos. Está quase.
Ver Santa Maria Manuela.


O palhabote Santa Eulália, onde estive, há dias, no Tejo, e que visitei atentamente, salvou-se das garras da demolição, sendo actualmente pertença do Museu Marítimo de Barcelona. Foi nessa qualidade que esteve presente em Lisboa, pela primeira vez, atracado na Doca da Marinha, vindo de Barcelona, no âmbito da organização do XIV Fórum sobre Património Marítimo do Mediterrâneo e do 10º aniversário da Associação dos Museus Marítimos do Mediterrâneo, de que o Ecomuseu Municipal do Seixal faz parte.
A comemoração do acontecimento teve direito a bolo de aniversário e tudo, com dez velinhas sopradas a bordo, e parabéns a você.

Os palhabotes, últimos veleiros do Mediterrâneo, são embarcações com casco de madeira e aparelho de escuna, que se utilizavam como cargueiros.


Detalhe do aparelho, em material clássico



Este tipo de veleiros foi amplamente adoptado, em finais do século XIX, pelos armadores espanhóis que procuravam um tipo de barco pequeno, rápido e de tripulação reduzida.

O palhabote de três mastros Cármen Flores foi construído na praia de Torrevieja (Alicante) pelo carpinteiro naval António Marí Aguirre. O armador que o mandou construir foi o comerciante valenciano Pascual Flores, que encomendou a construção de duas embarcações que tinham que ostentar o nome dos seus filhos, Pascual e Carmen.
Em 1918, foi lançado o Pascual e, durante esse ano, também se concluiu a construção do Cármen Flores, apesar de só ter sido lançado à água nos primeiros dias de 1919. Conta 90 anos.

Em 28 de Dezembro de 1918, o navio recebeu a sua licença de navegação e desde o seu primeiro dia no activo, sob a propriedade de Pascual Flores, o barco dedicou-se ao transporte de mercadorias, especialmente cereais, madeira, sal e minério.

Em 1921 realizou a sua primeira viagem à América, levando sal e trazendo cereais, saindo de Alicante e Manzanillo e Santiago de Cuba, para voltar, finalmente, ao porto de Barcelona. Esta primeira aventura transoceânica deu lucros suficientes para amortizar o custo total da construção do barco, os gastos da travessia e os salários dos marinheiros. As suas qualidades de veleiro eram tais que rapidamente ganhou a alcunha de El Chulo (O Bestial).

Em 1931, foi adquirido por Jaume Oliver, armador maiorquino, que lhe mudou o nome para Puerto de Palma e lhe instalou motor. Também lhe retirou o mastro da mezena.


Mastro da mezena



Em 1936, passou para as mãos da companhia Naviera Mallorquina, que o rebaptizou com o nome de Cala San Vicens.



Em viagem



Como Cala San Vicens, navegou até 1975, quando foi adquirido pela empresa Sayremar, que se dedicava a trabalhos subaquáticos e de salvamento. Normalmente rebaptizado, agora com o nome de Sayremar Uno, o velho barco levou a cabo todo o tipo de tarefas para a mencionada empresa e para outra similar, até 1996.

Finalmente, em Janeiro de 1997, foi adquirido pelo Museu Marítimo de Barcelona, tendo sido sujeito a trabalhos de restauro e reconstrução, com o recurso a materiais o mais tradicionais possível. Foi rebaptizado com o nome da co-padroeira de Barcelona, Santa Eulália, tendo iniciado a sua função, oficialmente, em Abril de 2001. Esta reconstrução de um navio histórico foi uma operação pioneira em Espanha, já que pretendia ser um primeiro passo na recuperação do seu valioso património flutuante.

O palhabote custa ao Museu, por ano, com todas as suas despesas, 500.000 euros, praticamente, sem retorno financeiro. No entanto, funciona como o grande embaixador do MM de Barcelona, na bacia do Mediterrâneo. É também uma peça fundamental do museu, em todo o tipo de programas educativos e actividades pedagógicas e cívicas relacionadas com o mar. Existe até um bilhete conjunto que prevê a entrada no Museu e uma visita ou passeio no Santa Eulália. Durante a estadia em Lisboa, recebeu visitas gratuitas, individuais ou de grupo.

Algumas características técnicas:

Ano de construção: 1918
Construção: Estaleiros Marí, em Torrevieja (Alicante)
Tonelagem bruta: 167 toneladas
Comprimento total: 34 m (46 m, incluindo o gurupés)
Boca máxima: 8,5 m
Pontal: 4,60 m
Superfície vélica: 516 m2 (11 velas)
Altura dos mastros a partir do convés: 27 m
Motor: Volvo Penta 367 cavalos
Tripulação normal: 6 elementos (comandante, contramestre, três marinheiros e motorista), acrescida de mais dois tripulantes, nesta viagem
Lotação máxima autorizada: 30 pessoas

Imagens – Arquivo do M.M. de Barcelona

Ílhavo, 9 de Novembro de 2008

Ana Maria Lopes

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Triste fim, o do Novos Mares...




O berço de um barco é a carreira do estaleiro e a sepultura mais digna é o fundo do mar, a que ele pertence. Sem perda de vidas, entenda-se…

Ora o Novos Mares, em 1974, depois de ter passado o 25 de Abril ancorado no Tejo, ainda seguiu para a Terra Nova, ano difícil para a campanha do bacalhau. Regressou em fins de Julho por ordem da Secretaria de Estado das Pescas, uma vez que se haviam malogrado todas as tentativas de conciliação com os tripulantes, que reivindicavam melhores remunerações e outros benefícios.
Tornara-se um navio-histórico, pois fora o último barco da chamada Frota Branca a navegar no estreito de Narrows, com os seus dóris cautelosamente alinhados no convés (in Disasters & Shipwrecks of Newfoudland and Labrador, Vol. 3, de J. P. Andrieux, pp.121 e 122).


Dóris empilhados no convés



Já em viagem para Portugal, a cerca de 150 milhas de St. John’s, socorreu o São Jorge, com incêndio declarado a bordo, tendo recolhido toda a tripulação. Por excesso de peso, voltou a S. John’s, para a deixar, fazendo-se, de novo, rumo ao seu país.
Foi ainda, depois disso, transformado em navio com redes de emalhar com lanchas.

Passados uns três anos, o caminho errante do Novos Mares começara…


Mais parece um navio-fantasma…



Em 1977, foi adquirido pela Cooperativa de Produção Ria de Aveiro, tendo sido vendido em praça, em 1980, à Sociedade de Pesca Alavarium; mais tarde, passou para a propriedade de Brites, Vaz e Irmãos. Em 1986, por despacho da Secretaria de Estado das Pescas, foi excluído da frota pesqueira.
Em Janeiro de 1991, a empresa proprietária ofereceu o Novos Mares à Secretaria de Estado das Pescas, para fins museológicos. A localização do “navio transformado em museu” foi uma guerra incessante entre diversas personalidades, sem que nunca a S.E.P. tivesse posto o preto no branco.
Após alguns impasses e decisões definitivas não tomadas, o navio assentou no fundo da ria, em Fevereiro e, de novo, em Dezembro de 1992.


O navio semi-afundado



Foi-se degradando, recaindo os custos da reparação em cima da empresa doadora.
Um rombo no casco foi a última machadada na “bonita atitude do doador”: o Novos Mares ia ser desmantelado. Já lá ia uma indefinição de quase três anos.


O desmantelamento. 10.2.1994



Embora a viabilidade da musealização não fosse muito exequível e o tipo de navio não o justificasse plenamente, é sempre desagradável e degradante assistir a um espectáculo destes. Num bonito e solarengo dia de Inverno, lá fomos, o Francisco e eu, apreciar o bom estado de conservação das madeiras.

Durante o desmantelamento. Fevereiro de 1994



Perante o bom estado da madeira, achámos oportuno, com a colaboração da Associação dos Amigos do Museu, recolher alguns pedaços do casco desse navio, pois, à data, já era o último da valente estirpe dos construídos em madeira em estaleiros portugueses, com as dimensões que se atingiram nos Estaleiros Mónica.
Com pena de, até à data, não termos conseguido, por razões de vária ordem, levar a bom termo a ideia inicial, e tendo estes destroços, quer os que estão junto ao esteiro da Malhada, quer os do Largo fronteiro ao Museu, um aspecto pouco digno, perguntámos a opinião ao Amigo Marques da Silva, expert nestes assuntos de reconstrução e preservação, que nos disse:


O nosso Amigo Francisco Marques e outros colaboradores conseguiram deslocar, com enorme esforço e dedicação, esses pedaços do casco do Novos Mares até Ílhavo. Estou certo que quem tanto trabalhou e lutou para que essas belas peças, únicas no mundo de hoje, chegassem até cá, foi, certamente, com grande desgosto que nos deixou, vendo-as abandonadas como ainda se encontram, à espera que o tempo as consuma.



Pedaços do casco do Novos Mares. 2008



Mas ainda tenho esperança de que com os meus lamentos possa comover quem, de direito, volte a reparar nelas, arranjando-lhe um lugar adequado, onde seja possível ver e apreciar tão belo trabalho. Era, ao menos urgente, que fossem levantadas do chão para arejarem e se lhes mandasse dar cuprinol e carbonil, como sempre receberam, no estaleiro, para sua conservação.
Tenhamos esperança!

Algumas novidades! O guincho do Novos Mares, após ter sido restaurado, já foi reutilizado no Santa Maria Manuela.
Parece também que há boas notícias, por parte da Direcção do Museu, ainda não confirmadas. Aguardemos.


Fotografias – Arquivo pessoal da autora, do Comandante A. São Marcos e de Carlos Duarte

Ílhavo, 5 de Novembro de 2008

Ana Maria Lopes



sábado, 1 de novembro de 2008

Entrada do N/M Novos Mares - Campanha de 1964


A entrada do n/m Novos Mares, em 1964, para mim, teve um sabor especial.
Desde que me lembro, sempre fui assistindo à entrada dos navios de bacalhau, pelo menos, os pertencentes a Testa & Cunhas, com toda a carga emotiva que acarreta.

Na Meia-laranja, as mulheres, saudosas, ansiosas e adornadas nos seus mais domingueiros trajares, bem arreadas de ouro, esperavam os seus homens, que, na proa do navio, acenavam, igualmente comovidos, e ansiosos por calcar terra firme e por abraçá-las a elas e aos filhos, que, por vezes, ainda nem conheciam. Haviam nascido na sua ausência! Que longos seis meses!

Nesse ano, decidi passar para o lado de lá e ter uma perspectiva diferente da entrada de um navio.

Numa manhã setembrina, de ria calma e envolta numa doce neblina, embarquei no Cais dos Bacalhoeiros na lanchita da Empresa, conduzida por um fiel servidor da casa, o Zé Vicente.

Propunha-me fazer um documentário, filmado, em 8 mm (era o que se usava, então), com a minha maneirinha Bell & Howell.

Tem tudo menos grande qualidade, mas fez já 44 anos e foi filmado com grande ternura e curiosidade. Desculpem, pois, as imperfeições e apreciem os aspectos positivos. Além de não ser “profissional”, ainda tive o azar de ter de fazer a inversão obrigatória do filme, exactamente, no momento em que o Novos Mares se aproximava e nos ultrapassou. Mesmo assim, valeu a pena.

Na viagem para a boca da Barra, passaram, por nós, traineiras, pujantes mercantéis à vela, graciosos e esbeltos moliceiros, quer à vela, quer à vara, a abarrotar com elevadas marés de moliço, bateiras berbigoeiras, para não falar de dragas e navios de carga, que não me despertam tanto a atenção.

O nevoeiro lá fora, adensava, mas, por bombordo, avistava-se, altaneiro, o nosso Farol riscado de vermelho e branco.

Pela frente, o navio, imundo, bem surrado e bem pesado (tinha sido um dos melhores anos de pesca), saúdou a população no seu silvo roufenho e profundo! Já entrou a barra e dirige-se a S. Jacinto. Eis que se lê, à popa: NOVOS MARES – AVEIRO.

Saltei para bordo.

Não tinha olhos para tanto movimento e estrafego!

Os pescadores, já bem lavados, barbeados e aperaltados, aguardavam, pelo convés, que era exíguo, para tanta tralha: sacos de lona das suas roupas, uma golpelha ou goropelha algarvia, barricas que levaram 30 litros de vinho e traziam caras, samos e línguas (a caldeirada dos pescadores), bidões de óleo, gasóleo e óleo de fígado de bacalhau (brrrr!), sessenta e seis dóris atulhados de panas, bancos, ferros, remos, forquetas, etc., distribuídos por dez pilhas, para sessenta e quatro pescadores.

Entrou para bordo o encarregado da Alfândega, que marcava os sacos, um a um, a giz vermelho.

De S. Jacinto, em bateiras, chegavam famílias de pescadores, de lá naturais, para aquele forte abraço entre marido e mulher e entre pais e filhos!
O imediato, à época, Tibério Paradela, junto da escada de portaló dava andamento às diligências necessárias.
Por estibordo do navio, atracaram dois possantes mercantéis, para onde eram arriados, por um sistema de teques, os sacos já inspeccionados. Pertenciam aos pescadores que moravam em localidades cujo acesso era fácil através da ria: Murtosa, Gafanha da Encarnação, Costa-Nova, Vagueira e outras.
O Capitão, António Morais Pascoal, pomposamente fardado, localizado na asa da ponte, controlava todo o movimento do convés, assim como supervisionava manobras e alcançava o horizonte com amplitude.
Chegada a hora conveniente da maré, o rebocador procurou posição e passou ao navio o cabo de reboque.
Começara, para mim, a grande viagem de S. Jacinto até à Gafanha da Nazaré!

Avistam-se as instalações da seca, já parcialmente remodeladas.

Homens, em botes, auxiliam, a atracação do navio, à proa e à popa.
Entretanto, o guarda-livros e auxiliar entram para bordo, para procederem ao pagamento dos salários, de acordo com a informação de pescado previamente fornecida pelo capitão.
No cais, as famílias, que, entretanto se deslocaram da Barra para a Gafanha, esperavam com ansiedade, os seus entes queridos. Ei-los que começam a sair, bem preparados, aos poucos, em botes, normalmente com duas lembranças, uma em cada mão, quase sempre do mesmo género: um Cristo luzente e cintilante para a parede do quarto e uma boneca, bem vistosa, para a sua menina, de quem tinham tantas saudades!


Agradeço ao amigo Tibério Paradela que, gentilmente, me tirou algumas dúvidas, bem como ao Sr. Capitão Pascoal que, com os seus 85 anos, me foi explicando, pacientemente, ao visionar o filme, a sequência das acções. Também consegui proporcionar-lhe uns agradáveis momentos, já que não sabia da existência de tão modesto documentário!

Saboreiem-no, pois, que vale a pena, apesar de alguns evidentes defeitos!


E assim terminou a campanha de 1964 do n/m Novos Mares, com um dos melhores carregamentos!


Filme – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 1 de Novembro de 2008

Ana Maria Lopes

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Bota-abaixo do N/M Novos Mares





Passados vinte dias, já que outros assuntos oportunos surgiram..., vamos retomar o Novos Mares.
A 19 de Março de 1958, tive pois oportunidade de reviver toda a minha emoção de madrinha, com o bota-abaixo do N/M Novos Mares, agora já uma “senhorinha”. Com os meus catorze anos, calçara, pela primeira vez, uns sapatos de saltinho alto. Lembro-me tão bem! Eram brancos!

Relembrar, neste blog, o bota-abaixo do São Jorge:



Com a mudança de alguns actores, todo o cerimonial se repetiu, relativamente ao do lançamento à água do São Jorge: a chegada de autoridades em comboio especial, o almoço no Galo d’ Ouro, em Aveiro.

Pormenor de alguns convidados

A ementa era personalizada por uma bonita fotografia de Testa & Cunhas e seus navios: Cruz de Malta, Inácio Cunha e São Jorge.


Pormenor da ementa



Terminado o almoço, formou-se um extenso cortejo de automóveis, que se dirigiu aos Estaleiros. Não havia dúvida que era dia de grande festa.

A população ribeirinha de Aveiro e Ílhavo sempre demonstrou especial predilecção pelas cerimónias de bota-abaixo, sentindo-as e compreendendo-as como poucas, não admirando, portanto, que a Gafanha da Nazaré registasse um movimento extraordinário.

A nova embarcação era produto do labor esforçado de cerca de 120 operários, durante catorze a quinze meses. Daria trabalho a uma tripulação de oitenta e três homens, que se viam privados do convívio das mulheres e dos filhos, durante seis longos e árduos meses. Foi seu primeiro capitão o Sr. Weber Pereira da Bela. A partir de 1961 e até 1974, última viagem de pesca à linha com dóris, seguiu-se o Capitão António Morais Pascoal.

Junto à proa do Novos Mares, na tribuna habitual para convidados, sucederam-se os acontecimentos usuais: bênção da nova unidade pelo Sr. Bispo auxiliar de Aveiro, D. Domingos da Apresentação Fernandes, discursos, baptismo pela Senhora D. Maria Flor Ferreira Queirós, que já havia sido madrinha do primeiro Novos Mares (1938), a quem ofereci um bonito ramo de flores. Continuava a ser uma honraria para a tal “senhorinha”, a querer espigar, participar em actos tão solenes, assistindo, perplexa e deslumbrada.

Bênção da nova unidade



Entre os discursos, com o seu feitio acalorado, o do Mestre Manuel Maria Mónica, era sempre emotivo. Ao falar aos colaboradores, armadores e governantes, o seu facies transformava-se de perturbação e envolvimento.


A um sinal de Mestre Mónica, o Sr. Eng. Higino de Queirós cortou o cabo da bimbarra, começando o navio a deslizar suavemente. Depois mais rapidamente, as obras vivas, como que num choque, mergulham nas águas da ria pela primeira vez.

Pormenor, à esquerda, do cabo da bimbarra


O Novos Mares penetrou nas águas da ria



Com os navios embandeirados em arco, como sempre, nas cerimónias festivas, entre o estalejar de foguetes e os silvos das sirenes dos barcos, o novo navio procura posição, enquanto ocupantes de pequenas embarcações, como habitualmente, recolhem das águas alguns restos de madeira, com que vão atear a fogueira de Inverno, que os aquecerá, nos dias mais frios.

Cerimónia sempre impressionante e comovente!


(Cont.)

Fotografias – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 29 de Outubro de 2008

Ana Maria Lopes

terça-feira, 21 de outubro de 2008

XIV Fórum sobre Património Marítimo do Mediterrâneo

Até para justificar a minha ausência, no próximo dia 23, vou zarpar até ao Seixal, a fim de “palestrar” sobre a (Re)visitação do Litoral Português – Embarcações Tradicionais Portuguesas – assunto a propósito do qual tenho vindo a reflectir, desde a década de sessenta, através do material recolhido em três intervenções distintas e equitativamente distribuídas no tempo, in loco, ao longo do nosso litoral.

A 24 e 25 de Outubro de 2008, o Ecomuseu Municipal do Seixal acolhe o XIV Fórum da Associação dos Museus Marítimos do Mediterrâneo, tendo para a sua organização sido adoptado o tema dos “Inventários e divulgação de património marítimo e fluvial – o papel dos museus e a participação das comunidades”, tema que é um dos meus predilectos.

A experiência dos museus de temática marítima na investigação, na documentação e na divulgação de património poderá ser rentabilizada quer através do envolvimento e participação das comunidades, quer por meio dos projectos de difusão em redes, privilegiando o acesso público à informação e aos conteúdos produzidos através da Internet.

Constata-se a necessidade da realização de inventários de património marítimo e fluvial em Portugal, incluindo embarcações tradicionais. Aqueles devem abarcar a identificação e a classificação de tipologias, procurando em simultâneo desenvolver o quadro legal e definir medidas de protecção e de salvaguarda patrimonial, em relação às embarcações existentes, e integrar o património material e imaterial.


O XIV Fórum sobre Património Marítimo do Mediterrâneo centrar-se-á nestas matérias.


Divulga o Ecomuseu Municipal do Seixal que, através da sua organização, visa contribuir para promover a troca de experiências e do desenvolvimento da cooperação entre museus marítimos e outras entidades envolvidas no conhecimento, na salvaguarda e na valorização do património marítimo, tendo por referência o Mediterrâneo.

É exactamente disso que estou à espera: rever amigos, conhecer outras pessoas com gostos afins, partilhar experiências e saberes e ….revisitar o Seixal, cujo Município, através do seu Museu, tem tido um papel preponderante na preservação de embarcações tradicionais do rio Tejo.

A par do programa científico, destaca-se a visita e estadia no estuário do Tejo do Palhabote Santa Eulália, pertença do Museu Marítimo de Barcelona.

Palhabote Santa Eulália



Aguardo com expectativa a intervenção de representantes de Museus ou Associações nacionais, nomeadamente:

Graça Filipe – EMS – Valorização do património e da cultura flúvio-marítimos: o papel dos museus

Elisabete Curtinhal e João Martins – EMS – O projecto e a realização do inventário de embarcações tradicionais no estuário do Tejo

João SerranoA candidatura da Cultura Avieira a património nacional e a acção das associações para o desenvolvimento humano

Celso Santos da Associação Cultural para a Preservação e Dinamização do Património Naval e Cultural do rio Sado

José A. Rodrigues Pereira, Director do Museu de Marinha de Lisboa - O Museu de Marinha e a preservação das embarcações tradicionais portuguesas

Das intervenções dos representantes de museus, associações ou fundações estrangeiras, interessam-me, sobretudo, as participações:


Le Fichier des bateaux d’intérêt patrimonial, en France, por Marc Pabois

O inventário do património marítimo italiano, por Giovanni Panella

El mundo de las asociaciaciones en la preservación del património: el caso del Museu Marítim de Barcelona, por Elvira Mata

Le comunità litorali del médio Adriático, por Maura Silvagni

Após a sessão de Debate e Conclusões, que terá lugar no final da manhã do dia 25, sábado, seguir-se-á, pelas 15h e 30 um passeio no Tejo, a bordo do bote de fragata Baía do Seixal.


10 – 9 – 1981 - O BOA VIAGEM



Imagens – Arquivo do M.M. de Barcelona e pessoal da autora

Ílhavo, 21 de Outubro de 2008

Ana Maria Lopes