quinta-feira, 31 de julho de 2008

PAINÉIS DE MOLICEIROS .1


Em época de Verão, de férias, relaxem, distraiam-se, saboreiem o que ainda nos vai restando da ria. Mais duas bonitas, frescas e pitorescas proas de barco moliceiro para a colecção de painéis.
A temática é variadíssima, mas a vertente maliciosa é transversal à maioria dos assuntos, salvo algumas excepções bem distintas. Com o andar dos tempos, a malícia vai-se tornando um pouco mais descarada.

“VIRA-A” PARA CÁ MARIA

SE TE APANHO ENFIOTA



As cercaduras campestres, que evoluíram muito mais que as marítimas, são um pouco de acordo com a criatividade de cada um dos pintores destes painéis. Transmito-vos com certeza: do mesmo artista é que não são.

Na primeira proa, há um cruzamento de dois temas – a malícia e o folclore, ao mesmo tempo que se brinca com o duplo sentido da palavra vira. Na segunda, a brejeirice, neste caso, “vai a cavalo”, animal tão utilizado pelos pintores da ria. Não me cansarei de dizer que os erros ortográficos “eram” uma forte característica das legendas, fruto, à época, do analfabetismo dos artistas mais populares.


Fotografias – Cedência de Paulo Miguel Godinho

Costa-Nova, 31 de Julho de 2008

Ana Maria Lopes

sábado, 26 de julho de 2008

Representação de Ílhavo no Milenário e Bicentenário de Aveiro



Em Julho de 1959, Aveiro comemorou o Milenário da primeira referência, conhecida, à sua existência, expressa no documento da doação feita em 26 de Janeiro de 959, pela Condessa Mumadona Dias, ao mosteiro de Guimarães, por ela fundado. Aveiro contava-se entre as terras então doadas ao referido Mosteiro.
Em simultâneo, na data referida, Aveiro comemorou o Bicentenário do registo da Carta de Provisão (26.07.1759), em que D. José outorga e faz mercê, que dessa data em diante, Aveiro fique erecta cidade.

A representação de Ílhavo nas festas comemorativas do Milenário e Bicentenário de Aveiro, nomeadamente no Cortejo Folclórico, foi exemplar. Faz hoje, sábado, portanto, dia 26 de Julho, 49 anos…Era domingo, em 1959.

Dia de festa em Aveiro. Ruas e avenidas apinhadas de gente, varandas ornamentadas de colgaduras, a abarrotar… todos quantos acorreram a Aveiro procuraram local de onde pudessem apreciar o espectáculo que se lhes deparava. Corriam de um lado para o outro para bisar os aplausos a todos quantos nos seus bonitos trajes, antigos ou modernos, nas suas danças e canções os encantavam.
Todos os concelhos do nosso distrito cooperaram, participando com os bonitos carros alegóricos representativos das suas actividades comerciais, industriais e agrícolas.

Ílhavo não poderia faltar. Não só porque as histórias das duas povoações tiveram origens e percorreram caminhos comuns até certo período da sua história, confundindo-se durante largo período as suas gentes, já que Sá, sita no termo de Aveiro, pertencia a Ílhavo. Sujeitas aos mesmos momentos de fartura ou de privações, e até catástrofes, conforme o estado da laguna que era a circunstância destas gentes da borda. Mas a ligação entre os dois agregados populacionais ainda se reforçou aquando da grande crise de abastecimento da vila de Aveiro, verificada no séc. XVI. Ílhavo foi, naturalmente, pelas ligações referidas, dos lugares vizinhos que mais comparticipou para suprir as carências sentidas na vila vizinha, fazendo-o dos mais variados modos, com os mais variados produtos em que o termo da vila era rico. Forneceu pão, cereais (milho, trigo, painço), lenha, vinho e ainda carnes e muitos outros produtos, de que Aveiro precisava para sustento da sua população que teria crescido de um modo explosivo a partir do séc. XV, com a presença de muitos mercadores estrangeiros, que ali se vieram fixar.
Por estes motivos, a participação do concelho de Ílhavo, nas festas do Milenário, deveria ter uma dimensão muito vasta e variada, na expressão e motivação.

Embora todo o concelho de Ílhavo tivesse uma representação à altura, é, do nosso grupo, de que eu e muitas das minhas amigas fazíamos parte, que tenho uma memória mais viva.


Abertura da representação de Ílhavo


A abrir, um dístico com a palavra ÍLHAVO, conduzido por dois autênticos pescadores. A seguir, um friso de jovens pescadeiras, seguidas por mais seis padeiras e outras tantas ceifeiras, vestidas a capricho. Um grupo de lindas tricanas antigas e modernas, tendo havido o cuidado de, naquelas como nestas, escolher lindos palminhos de cara, dentre as mais graciosas das nossas gentis meninas. – in “O Ilhavense “ de 1 de Agosto de 1959.

O desfile


Pelo menos, as ceifeiras entoavam alegremente a “Canção das Ceifeiras” que o nosso conterrâneo João Aníbal Ramalheira me ajudou a situar como fazendo parte do repertório da revista infantil “A Nossa Escola”, com letra do Prof. José Pereira Teles e música do vaguense Berardo Pinto Camelo.
Ei-la, completa:



Côro das Ceifeiras

As nossas doces cantigas
São tecidas ao luar
Apanhando as espigas
Em constante labutar.

Côro

Ceifeiras! – lêdas, morênas,
Cachopas da nossa terra
Sois como as lindas falênas
Vôejando pela serra

Estas searas amigas
Dão-nos fartura de pão
Andai, andai, raparigas
Ceifai – as por nossa mão.

Em desafio constante
Andam cigarras no ar,
Não suspendais um instante,
Continuai a ceifar.

Trigo loiro, sazonado,
Vai em seguida p’ra eira
Onde o solsinho doirado
Lhe dá cor mais lisonjeira.

Seguiram-se representações do Illiabum Clube, da Fábrica da Vista-Alegre, da Gafanha da Nazaré, da Indústria de Conservas de Peixe da Barra, o carro da Capelinha da Nossa Senhora da Saúde…

Fechava esta parte do cortejo um carro com uma alegoria de Ílhavo (a vela não podia faltar), estruturada sob um feliz desenho modernista de Emanuel Macedo e ladeada pelos bombeiros Voluntários de Ílhavo.

O carro alegórico

Segundo a fonte jornalística já referida, foi um cortejo que fechou com chave de oiro todas as festas mundanas do Milenário e Bicentenário de Aveiro.

E lembrar a azáfama que antecipou todo este folclore?


O centro do mundo era a casa da Senhora D. Dadinha Lé, pequenina, gordinha e gaiteira, com o bairrismo à flor da pele.
Em cima da mesa da sala de jantar, metros e metros dos mais variados tecidos (cetins, sarjas, veludos, chitas, fazendas, feltros, etc.) e acessórios: chapéus, lenços, cestos, canastras, faixas, xailes, foices e outros.
E as idas ao Porto àqueles grandes armazéns de têxteis, em busca dos tecidos mais apropriados?
E as provas, que farra!

Na nossa juventude, queríamos apresentarmo-nos o melhor possível: o calçar da bota, da meia riscada de vermelho e branco, o arriar do saiote, o içar da saia com a faixa, o trilhar do avental, o ajeitar da blusa ao peito e o dobrar da aba do chapéu da maneira que melhor condissesse com o rosto.

Ceifeiras lêdas, morênas…

Eram estas as gentis ceifeiras, da esquerda para a direita: Célia Ré, Ana Maria Lopes, Maria Manuela Vilão, Rosa Armanda Mano, Idalina Bela e Elisabete Moreira.

Fotografias – Arquivo pessoal da autora

N. B. – No Coro das Ceifeiras, respeita-se a grafia da época, 1933.

Ílhavo, 26 de Julho de 2008

Ana Maria Lopes



domingo, 20 de julho de 2008

Regata / Painéis de Moliceiros - Julho de 2008


A regata de moliceiros Torreira – Aveiro, ontem realizada, não se pode dizer que tenha sido um êxito, mas ficou para a história. Não há memória de que outra tenha demorado tantas horas… Saí, ao entardecer, de Aveiro, e nem um barco havia chegado. Por curiosidade, vim pela antiga estrada da Gafanha da Nazaré e avistei, ao longe, por entre as ervagens, cinco velas que mais pareciam estáticas, imóveis, paradas.

Porquê?

– “O vento caiu completamente, os barcos vêm contrauga e alguns até tiveram de botar mão ao motor” – explicaram-me.

Ao largo do Cais dos Bacalhoeiros, avistava-se mais uma vela hirta e outro barco, de vela arriada, que se socorrera do motor fora de borda. Naturalmente, já desclassificado.
Os restantes ainda nem tinham dado a volta em S. Jacinto e teriam chegado, a Aveiro, lá pelo anoitecer.
Hoje de manhã, lá coloriam o Canal Central da cidade, no Rossio, se bem que longe da infinidade de outrora.
Dos vinte e cinco barcos, cinco eram pequenos moliceiros (7 metros de comprimento), talvez para recreio, fora dos cânones e, normalmente, também, de concurso.
Passando uma vista de olhos pelos painéis e respectivas legendas, na expectativa de encontrar alguma referência a factos actuais ou do quotidiano, tipo, crise governamental, crise petrolífera, crise futebolística ou qualquer outra…há tantas…Não!
Para se abstraírem da dita “crise”, os pintores da ria resolveram refugiar-se, salvo raras excepções, na tradicional malícia e na evocação das moribundas actividades do moliço e do sal, apelando à salvação da ria.
Notei também que alguns dos painéis do ano passado se mantinham, não tendo sido renovados, ou sofrendo, apenas, uns ligeiros retoques.

A malícia fica ao sabor de cada um, estará na mente do leitor. Os turistas sorriam…
Pelos trocadilhos, pelos duplos sentidos, pela evocação de tempos antigos, pelo apelo à salvação da ria, eis alguns com que mais engracei:


Não me pises os tomates!...


É lá!...Que rica toca!...



Saudades do tempo antigo


Curioso que este painel tem uma fonte de inspiração que me é muito familiar: uma marinha de grande dimensão, Moliceiros, óleo sobre tela, 1939, de Sousa Lopes, em exibição na Sala da Ria do MMI.

Tempos que já não voltam…

Anda, moço, que se faz noite!



Não deixem morrer a tradição!...


Fotografias – Ana Maria Lopes

Ílhavo, 20 de Julho de 2008

Ana Maria Lopes

terça-feira, 15 de julho de 2008

FESTA DA RIA - Concurso de painéis de moliceiros

O concurso de painéis do barco moliceiro integrado, actualmente, na Festa da Ria, em Aveiro, no S. Paio da Torreira, e, mais recentemente, na Senhora da Saúde, na Costa-Nova, tem dado um certo incremento à renovação dos mesmos. Foi sob a presidência de Arnaldo Estrela Santos que a Comissão Municipal de Turismo do Concelho de Aveiro, segundo acta de 9 de Novembro de 1953, o instituiu. Realizava-se no dia 25 de Março, na abertura da Feira, no Rossio, com júri escolhido para tal finalidade.
Foram inseridas algumas modificações no regulamento, na constituição do júri, e em 1978, o concurso passou a fazer parte de uma Festa da Ria, de dimensões maiores.
Devido à construção das comportas do canal central da cidade, de 1982 a 1988, foi interrompida a festividade, tendo sido retomada com um programa cada vez mais abrangente, em que a regata e o concurso de painéis têm sido o prato forte.

Preparativos…

Mais ou menos nos mesmos moldes, decorre a regata e o concurso de painéis, na Torreira, no S. Paio, a 8 de Setembro e, mais recentemente, na Costa-Nova, na Senhora da Saúde, no último domingo de Setembro.

Nesta duas praias, não é mais do que um reavivar do tempo em que os moliceiros ali se deslocavam, numa peregrinação natural, já que a laguna era o meio de ligação mais acessível entre as terras ribeirinhas.

Nesse ano de 1988, comecei a fazer parte do júri do concurso de painéis da Festa da Ria, juntamente com o Dr. Artur Jorge Almeida, da Rota da Luz, com o Dr. Daniel Tércio Guimarães e o reconhecido artista plástico aveirense Jeremias Bandarra, durante 15 anos consecutivos, até que me comecei a sentir um pouco cansada do cargo. Mas, aprendi muito: mais de um milhar de painéis observados, possibilidade privilegiada de os fotografar, trocas de impressões com os colegas de júri e com pintores de barcos que, por ali, pelo Rossio, se iam encontrando.

Reunião do júri, em terra


Observação dos painéis, de barco…

O júri, criteriosamente, fazia uma observação dos quatro painéis da embarcação, dois de bombordo e dois de estibordo, a pé, pelo cais, e de barco – moliceirinho, bateira ou zebro – com timoneiro paciente, que nos fizesse penetrar por todos os espacinhos possíveis.

A beleza do painel, a originalidade, o humor das legendas, a adequação e o estado de conservação, eram sempre factores a ter em conta. Estes quadros ainda vão constituindo, ano após ano, uma galeria de arte flutuante e fluida, que se vai renovando.

No Verão, época de férias por excelência, em tempo de festividades da ria, e em que nem todos têm acesso à internet, não há nada como ir dando a saborear aos leitores do Marintimidades uns painéis de moliceiros, para incentivar a boa disposição. Painéis “naïfs” e brejeiros…a que cada um junta a dose de malícia e picardia que entender.

Painel de ré



Os erros ortográficos…atenção (!) são (ou melhor, eram) uma das características fortes.

Painel de proa



É pena que a Festa da Ria, em que participarão 25 barcos moliceiros, deste ano, não dê continuidade ao I Encontro Internacional de Embarcações Tradicionais que se iniciou, no ano passado. Seria muito mais proveitoso para a preservação destas embarcações do que o anúncio assustador da possível construção do chamado “moliate”. Tal embarcação apavora-me e creio que vai ser uma forte machadada nas embarcações tradicionais que a laguna ainda consegue manter.
Este ano, a regata Torreira – Aveiro da Festa da Ria e o concurso de painéis realizam-se nos próximos dias 19 e 20 , respectivamente. Espectáculo a não perder! Preparem as objectivas, enquanto não chega o “moliceiro cabinado”.

Fotografias – Arquivo particular da autora e amável cedência de Paulo Miguel Godinho

Ílhavo, 15 de Julho de 2008

Ana Maria Lopes



quarta-feira, 9 de julho de 2008

Exposição João Carlos e Cândido Teles (Parte I I)


António CÂNDIDO Patoilo TELES nasceu em Ílhavo, a 1 de Janeiro de 1921 e faleceu a 31 de Outubro de 1999, deixando a sua obra para a posteridade.
A recente doação, por parte da Família, de obras suas à CMI., é um gesto nobre que nos permite ter ao nosso alcance um maior número de trabalhos seus do que aquele que existia no acervo do Museu Marítimo.
Obrigada, pois, pelo acto generoso!

Em vez de traçar a biografia que vem nos Catálogos, que tão carinhosamente me oferecia e dedicava e que carinhosamente guardo, preferi respigar uma sua entrevista fixada em “Os trabalhos e os dias”, em Outubro de 1988, altura em que foi agraciado com a Medalha de Mérito Cultural da Câmara Municipal de Ílhavo. Daí transcrevi as frases que me pareceram mais eloquentes e elucidativas:


(…) O meu contacto com a arte começou desde muito cedo com o meu avô materno que era um ceramista e um barrista de mérito (…). O meu pai, Amadeu Simões Teles, nunca abandonou a pintura. Vi-o morrer com 84 anos ainda a pintar. Foi outra grande influência que tive (…).
Com os meus 18 anos, na Costa Nova, tive a felicidade de conhecer um pintor: Fausto Sampaio. Era de Anadia e vinha para a Costa Nova sobretudo pintar (…).
Comecei por o ver trabalhar e, por último, trabalhar a seu lado (…). Dava-me conselhos sobre o enquadramento, composição, retoques…Ele era um naturalista de ar livre e a minha pintura tornou-se isso, de início.

Em 1939, C. T. fez a sua primeira exposição no Salão Arrais Ançã, na Costa Nova, salão de diversão atrás do Café Coração da Praia. Houve uma reacção de interesse pela obra exposta.
Depois, a vida profissional do Artista proporcionou-lhe ambientes distintos: Açores, Madeira, Angola, Alentejo, Algarve, Moçambique, entre outros. Em todos sofreu a influência dos meios.
Quem não conhece os verdes e os negros das fases africanas de Cândido Teles e os laranjas, ocres e vermelhos da fase alentejana, sem esquecer o sucesso do chamado Alentejo branco, o Alentejo de Monsaraz?

Em 1962, na Madeira, foi importante para C. T. o encontro com Júlio Resende, amizade que se prolongou durante a sua estadia em Évora.
Foi um conselheiro e um grande amigo, agora a somar ao seu avô, ao seu pai e a Fausto Sampaio.

(…) Depois é o regresso a Ílhavo (em 1977) e a reintegração que estou a fazer há mais de dez anos, empenhado em ir buscar as coisas que estão a desaparecer: a arte da xávega, os temas da pesca na ria, da faina do moliço que procuro reviver…Agora dedico-me mais à figuração, fui buscar as figuras, os barcos que ainda existem e evoquei o sul da Costa Nova. Não voltei a pintar ao natural. Adquiri uma série de conceitos novos que depois aplico aos temas que tratei no passado (...).

Então, voltado para a ria e coisas da ria, experimentou a escultura e empenhou-se a fundo na cerâmica, de que é exemplo flagrante o painel cerâmico, de grandes dimensões, sito na Rua dos Galitos, em Aveiro, executado por encomenda da C. M. de Aveiro, em meados dos anos 80.


Cândido Teles muito me incentivou a levar por diante a minha pesquisa sobre os Moliceiros, que ambos apreciávamos, com olhares diferentes.
Em longas conversas de inverno, no conforto da lareira da sua saleta, o Artista, a Esposa e eu, trocávamos e partilhávamos ideias. Os motivos iam brotando e os esquissos ganhavam contornos. Cada um via e entendia o barco à sua maneira.
Serões agradáveis esses, e quase sempre frutuosos!

Os cadernos de apontamentos gráficos de Cândido Teles eram rigorosos e, enquanto os folheávamos, as conversas pareciam não ter fim. Foram estes “bonecos simples”, mas fiéis, que permitiram ao Artista evocar e pintar em 1994/5, cenas de 1940/41. É o caso da típica Malhada de então, da Barquinha, de cenas lagunares com moliceiros, junto ao Palheiro, a caminho de Vagos.

Após o seu regresso definitivo a Ílhavo, passei a ser visita assídua da casa, ainda antes de se situar ali, ao fundo, no Arenal.

Iniciei paulatinamente a aquisição de quadros, entre 1975 e1985, começando por aquilo que considero as pequenas relíquias dos anos trinta e quarenta, normalmente, de temas lagunares ou marítimos: moliceiros, companhas, o sul da Costa Nova com as suas bateiras, palheiros, marinhas… Sempre escolhas em casa do Artista, bem pensadas, e com a sua opinião.


Nas aquisições, mantive-me fiel às ambiências lagunares da nossa região. É delas que vos dou conta, na perspectiva de dar ainda mais a conhecer a obra deste saudoso Amigo. Mais uma vez por ordem cronológica, aqui estão:



Palheiros, 1947
Óleo sobre madeira, 18x27 cm

Companhas, 1948
Óleo sobre madeira, 14x24 cm

Moliceiros, 1967
Óleo sobre platex, 27x36 cm



Costa Nova, 1971
Óleo sobre platex, 69x99 cm



Consertando redes, 1977
Óleo sobre platex, 23x26 cm


Grupo de peixeiras, 1982
Óleo sobre platex, 87x87 cm



Remendando redes, 1982
Óleo sobre platex, 87x87 cm



Não deixem, pois, de visitar a Exposição.

Fotografias – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 9 de Julho de 2008

Ana Maria Lopes




domingo, 6 de julho de 2008

Exposição João Carlos e Cândido Teles (Parte I)


A Exposição João Carlos e Cândido Teles, ontem inaugurada na sala de exposições do Centro Cultural de Ílhavo, prolonga-se até ao dia 28 de Setembro como exposição temporária, para ser refeita como espaço permanente, na ala direita da mesma sala, depois de repensada, melhor organizada, amadurecida e melhor seleccionada, suponho.
Congratulo-me, pois, com o cumprimento de uma promessa da CMI, com mais de quinze anos, pelo menos, no caso de Cândido Teles, e com bastante mais tempo, relativamente aos Familiares de João Carlos.
Orgulhemo-nos pois de poder visitar e admirar a obra de dois notáveis Artistas da nossa terra.

JOÃO CARLOS Celestino Pereira Gomes nasceu em Ílhavo, a 5 de Outubro de 1899 e morreu em Lisboa, a 11 de Novembro de 1960, estando sepultado em Ílhavo, conforme desejo por si formulado.
João Carlos, figura multifacetada, foi médico, escritor, pintor, entalhador, ilustrador, desenhador e xilógrafo. Tentou também a cerâmica, a escultura, o ferro e o mosaico, onde deixou curiosos e interessantes exemplares. Pena é que, nesta exposição, com tanto espaço disponível, demais, alguns destes aspectos não tenham sido contemplados!
Ao reler, minuciosamente, um texto que Frederico de Moura lhe dedica na “Evocação” do Catálogo João Carlos – Retrospectiva, 1991, não resisti à tentação de transcrever este excerto:
(…) A altura em que o seu lápis e o seu pincel eram tocados de poesia, era quando ondulava o tronco duma peixeira de Ílhavo, quando individualizava a musculatura dum pescador da Costa Nova, quando catava motivos decorativos na proa dum moliceiro, quando se auto-retratava, ainda menino, com a opa vermelha da Irmandade do Senhor, ao lado de seu avô, ou quando aparecia com um moinho de papel da romaria da Senhora da Saúde. Tinha Ílhavo no coração e a sua obra é a tradutora mais rica da sua ambiência e da nossa etnografia. Por isso, merece a gratidão da gente da sua terra, da gente que o seu lápis e o seu pincel acarinharam numa obra perene de beleza e muitas vezes marcada de sentido humano (…).

Em vez de tecer considerações relativamente à obra exposta ou aos critérios seguidos na sua selecção, o Marintimidades, hoje, aconselha os leitores a visitar a exposição e fornece-lhe mais alguns dados de reflexão.

Obras de João Carlos que apenas estiveram expostas em Ílhavo uma vez, porque de uma Retrospectiva se tratava, em Abril /Maio de 1991, são aqui recordadas. Já lá vão 17 anos.
De posse de alguns desses dados, não os quero reservar só para mim, receando que os mais novos os não conheçam. Adoptando um critério cronológico, ei-las:

Ceifeiros, 1934
Técnica mista, 42x35 cm
Col. Feverónia Mendonça, Lisboa

Caminhos do Sangue, 1942
Nanquim, 24x20 cm
Col. Moreira das Neves, Lisboa

A Ceia, 1951
Óleo sobre tela, 200x300 cm
Col. Seminário dos Olivais, Lisboa


Flor de Plástico, 1959
Óleo sobre cartão, 56x45 cm
Col. Feverónia Mendonça, Lisboa

Lisboa, 1959
Óleo sobre tela, 81x65 cm
Col. M. Luisa C. Saldanha Q. R. dos Santos, Lisboa



Curioso que a presente Exposição, bem como o Catálogo, apresentam um pequeno Apontamento para “Lisboa”, desenho a tinta-da-china sobre papel, sem data. Constata-se que, de facto, se trata da mesma obra e, belíssima obra, que ela é.

Cartão para figurino dos Pajens de Santa Joana, 1959
Nanquim e gouache, 33x33 cm
Col. Paço Episcopal de Aveiro


D. João II, 1960
Nanquim, 56x43 cm
Col. Museu de Marinha, Lisboa

Para terminar, apreciemos a capa de uma Revista editada pela C.M.I., em 1932, em que a Costa-Nova, publicitada por uma banhista escultural e naïve, daria um dos melhores cartazes para a nossa praia. É uma sugestão.
É pena que alguns dos ingredientes apregoados já não sejam os mesmos: a ria a beijar as casas, as bateiras atracadas aos moirões em frente aos palheiros, o barco do mar com toda a beleza e empolgamento da arte que praticava.

COSTA-NOVA, 1932

(Continua com Cândido Teles)


Fotografias – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 6 de Julho de 2008

Ana Maria Lopes