segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Centenário do jornal "O Ilhavense"

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Talvez seja uma das pessoas de Ílhavo que mais tenha consultado o jornal “Ilhavense”, sobretudo, a partir dos anos 80 – com diversos objectivos: registo das doações ao Museu dos Ílhavos, desde o início anos 20, porque o Museu e o Jornal, nasceram, praticamente, de braço dado, a rubrica anual da relação das saídas dos navios para a pesca do bacalhau, desde 1922 até 1969,  (“Ei-los que partem”, Eles lá vão para os Bancos da Terra Nova”, “Deus os leve… Deus os traga”, “Boa viagem!”, “Aquelas Naus”, “Relação dos navios que este ano vão aos Bancos da Terra Nova”, “Frota Bacalhoeira de Portugal”,” Eles que partem”, “Amigos! Até à volta! Que os ventos vos soprem de feição!”, “NOSSA SENHORA vos leve em paz”, “Partamos, que o mar nos chama!”, “A bênção dos bacalhoeiros”, Vamos lá com Deus”, etc.), com a anotação de capitão, (e nem sempre do imediato e piloto), vários naufrágios e acidentes, cerimónias de bota-abaixo, normalmente, na Gafanha da Nazaré, com toda a sua alegria, pompa, circunstância e entusiasmo, obituários com mais interesse, numa prosa mais empolada, que permitem melhorar o sítio do cemitério, dados sobre os sucessos e retrocessos da Costa Nova do Prado, assuntos e imagens preferidas de alguns.

Da consulta destes dados e outros, nasceram alguns livros de vários autores.

Consultar os jornais antigos é uma pesquisa, mas também um mimo e uma diversão, porque, para além do que realmente procuramos, os olhos fogem-nos para as notícias de aniversários, de casamentos, de “délivrances”, de personalidades que estavam doentes, das que andavam em veraneio, das quotas dos jornais em atraso, dos concursos de beleza das mais belas mulheres de Ílhavo, etc., etc., etc.

Durante a década de 90, em que exerci o cargo de Directora do Museu Municipal, a direcção do jornal, com quem mantive sempre um bom relacionamento, mostrou o maior interesse por tudo quanto se passava na instituição museológica.

Voltou-se a uma rubrica mensal, PELO MUSEU, que veio recordar uma que houve em tempos idos, que fazia apelos a ofertas para o museu e que elencava, pormenorizadamente, as doações que haviam sido feitas.

Para “memória futura”, transcreveram-se sempre os discursos de abertura de todos os eventos.

Transcreveram-se, na íntegra “as folhas de sala”, espécie de inventário/catálogo, sem imagens (o dinheiro não abundava na CMI), da exposição Faina Maior – Pesca do Bacalhau à linha e da abertura da sala da ria – A Nossa Ria.

Também agradeço a “O Ilhavense”, toda a abertura e espaço que deu ao meu blogue “Marintimidades”, criado em Abril de 2008.

Do conjunto de “posts” dedicados às miniaturas do sr. Capitão Marques da Silva e dos seus textos explicativos, à linguagem das marinhas usada durante uma safra de outros tempos e a “Homens do Mar”, acabaram por ser dados ao prelo, os livros “Bateiras da ria de Aveiro – memórias e modelos”, em 2011, “Uma Janela para o Sal”, em 2015 e “Tributo a Capitães de Ílhavo”, em 2017.

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Parabéns ao Jornal, pelo seu centenário, a que chegou com muitas dificuldades, dada a sua pequena equipa e carência de meios. Durante, sobretudo, os primeiros 80 anos, retrata a vida de Ílhavo, da grande vila que, então, foi.

O seu papel, na actualidade, mudou levemente, com a internet, com as redes sociais e com a rapidez com que as notícias nos chegam a casa, pelos telemóveis, pelos ipads e pela televisão.

Neste mundo infortunado, em que vivemos, tive, há dias, o consolo de saber que no Ciemar, “O Ilhavense” já se encontra digitalizado até 1986, inclusive.

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Ílhavo, 20 de Novembro de 2021

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Ana Maria Lopes

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quinta-feira, 25 de novembro de 2021

E assim "partiu" o Tibério Paradela...

 


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Libânio Tibério Boia Paradela, filho de José António Paradela e de Rosa de Jesus Boia, nasceu em Ílhavo, na Rua de Alqueidão, em 9 de Julho de 1940.

Possuidor da cédula marítima nº 115.820, passada pela Capitania do porto de Lisboa, em 29 de Dezembro de 1960, foi Homem do Mar. Além de, na safra de 1962, ter sido praticante de piloto no arrastão “Santa Mafalda” , foi de imediato com o Capitão António Pascoal, no navio-motor “Novos Mares”, nas campanhas de 62, 63 e 64. Filmei essa entrada na barra e foi aí que conheci o Tibério.

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Botes empilhados   no “Novos Marres”
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Foi casado com Maria Elisabete (Betinha) Barata de Matos Moreira, de cuja união nasceram os filhos Ana Margarida e José António Barata Moreira Paradela.

Andou pelas Àfricas, sempre, Homem de Mar. Nunca tive grande contacto com ele, mas, de Verão, na Costa Nova, passava de bicicleta, quase diariamente, para o encontro dos “ílhavos” no café Atlântida.

Era este o Tibério que conheci, sorridente, solidário e bem-disposto. Pertencente ao Club dos Lions de Ílhavo, socializava. Hábil na escrita, foi colaborador do jornal “O Ilhavense”. Tentou outros voos difíceis, e deu ao prelo no Verão de 2014, o romance ficcionado “Neste Mar É Sempre Inverno”, apresentado no CVCN.

Já que ainda participou, como imediato, na pesca nos botes, gostava de saber como sentira esse tempo. Embora não concordasse com alguns aspectos apresentados, deparei-me, ao lê-lo, com vários excertos de uma bela prosa.

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Sessão de autógrafos
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No último Verão, um ar débil tomou conta dele e, de problema em problema, assim “partiu”, ontem, 24 de Novembro de 2021, com 81 anos, para essa viagem “sem retorno”. Esperemos que seja por um mar calmo, já que ele o amava.

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Ílhavo, 25 de Novembro de 2021

Ana Maia Lopes

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domingo, 14 de novembro de 2021

O Dia do Mar de 2021

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O Museu Marítimo de Ílhavo vai celebrar o Dia Nacional do Mar (16 de Novembro) no próximo dia 20 de Novembro, sábado.

A epopeia dos descobrimentos portugueses, um dos áureos períodos da navegação e exploração marítimas, ficou marcado por feitos heróicos, por homens arrojados, por marcantes avanços tecnológicos e por um conjunto de sete navios que acompanharam o século e meio da expansão portuguesa.

A precisão e sabedoria do Comandante António Marques da Silva, um dos mais reconhecidos modelistas portugueses, apetrechou a Sala dos Mares do Museu Marítimo de Ílhavo com os modelos dos sete navios dos descobrimentos que, agora, a Associação dos Amigos do Museu lança em livro – "Os Navios dos Descobrimentos. Memórias e Modelos".

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Contracapa e capa
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Outros e variados eventos terão lugar, ao longo da tarde, do mesmo dia.

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Fonte – MMI.

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Ílhavo, 14 de Novembro de 2021

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Ana Maria Lopes

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segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Os últimos vão "partindo"...

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Cap. António Tomé da Rocha Santos

 

 

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Nado e criado em terras de Ílhavo, Tomé Santos, afectuosamente conhecido pelo capitão Tomèzinho, nasceu a 24 de Julho de 1928. Descendente de família de homens do mar, de entre os quais o seu pai, António dos Santos, seguiu-lhe as pisadas.

Pertencendo já à última geração de capitães da Faina Maior, concluiu a Escola Náutica, em 1949, sendo portador da cédula marítima nº115266, passada pela Capitania do Porto de Lisboa.

Casou com Dina Teresa Rodrigues Madalena, já falecida, de cuja união, nasceram os filhos António José, Henrique Manuel e Maria Teresa Madalena Santos.

A sua primeira viagem aconteceu em 1950, ao embarcar como imediato do lugre-motor “Adélia Maria”, tendo-se sucedido o “José Alberto”, o “Bissaya Barreto”, o “Ilhavense II” (1954 e 55), o “Capitão Ferreira” e o “Ilhavense” (de 1957 a 59), entre os cargos de piloto e imediato. A 16 de Agosto de 1955, enquanto imediato, naufragou no “Ilhavense II”, com incêndio fatídico a bordo.

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Lugre-motor “Ilhavense”
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Já com um saber de experiência feito, pegou com mestria no navio-motor “Ilhavense”, que comandou durante 11 anos, de 1960 a 1971. Em 1965, durante a reunião anual dos capitães com o Almirante Henrique Tenreiro, o Capitão António Tomé da Rocha Santos foi agraciado com a Placa de Prata e o Diploma da Mútua dos Navios Bacalhoeiros, em virtude da assistência prestada ao navio-motor “Celeste Maria”, na campanha de 1964.

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Navio-motor “Ilhavense”
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Reparem na coincidência do nome!... Neste caso, o Jornal “O Ilhavense” era “comandado”, à mesma data, pelo Prof. José Pereira Teles.

Depois da passagem de mais dois anos pelo navio-motor “Rainha Santa”, na pesca do bacalhau, fez algumas viagens em navios de comércio, para acabar a sua faina de mar, no comando, entre 1976 e 1982, do arrastão "João Corte Real", mais tarde apelidado de "Maria de Ramos Pascoal".

Depois de umas boas décadas a saborear a sua merecida reforma junto da Família, deixou-nos com a provecta idade de 93 anos, para uma longa viagem sem retorno, em 31 de Outubro de 2021.

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Ílhavo, 1 de Novembro de 2021

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Ana Maria Lopes

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