domingo, 4 de outubro de 2015

Vamos à romaria da Senhora das Areias! - 2015


Em dia de reflexão, nada como moliceirar até à Senhora das Areias, em São Jacinto, de véspera «como os gaiteiros».
Sendo impossível fazê-lo no domingo, devido ao dever cívico que todos sabemos, e à trabuzana anunciada, optámos pelo sábado.
Outra perspectiva da romaria. Porque não? Preparativos do principal dia festivo, com eucaristia dominical e procissão em que o ponto alto será o encontro dos andores da Senhora das Areias e da Senhora do Ar, na marginal junto à ria e próximo da base militar (RI 10).
À partida, no Oudinot, uma calmaria pungente, «nem uma agulha bulia na quieta melancolia dos pinheiros do jardim». Um sol envergonhado, em céu acinzentado, espreitava, aquecendo-nos os corpos e libertando-nos a mente, em sábado outoniço, verdadeiramente setembrino.
O SÃO SALVADOR, espera-nos aquietado, no seu poiso habitual, espelhado e vaidoso.

O São Salvador nem acredita…

Passadas a zona do Forte, do Farol, da entrada da barra, do Triângulo (cenários sempre imperdíveis), eis-nos perto de S. Jacinto com bons encontros, embarcações exuberantes ou típicas e encantadoras, que nos cativam.

Embarcação do Norte da Europa 

Antes do almoço, o nosso objectivo, hoje, para além do prazer de navegar, era visitar as barracas de romaria e a secular capelinha hexagonal da Senhora das Areias, podendo assistir aos enfeites dos andores, com o brio e a fé que caracterizam «aquelas gentes».
Nem «um barco do mar» em estrado apropriado faltará na procissão, para recordar os tempos em que «a arte de xávega» se praticou naquela praia, antes de se estabelecer na Costa Nova do Prado, depois de se ter fixado a abertura definitiva da barra, em 1808.

Foto de arquivo (2014)

«Ògada» pelas tendas que já não existem há uns bons anos na Senhora da Saúde, toca de fazer algumas compras sazonais características – um guarda-chuva para os invernos tempestuosos que nos têm assolado, cutelarias e una atoalhados garridos para as cozinhas.
Outras barracas de frutos secos, de doçaria regional – suspiros, suspirinhos, raivas, cavacas, bolinhos de gema, beijinhos, regueifas -, de brinquedos e de calçado típico, também nos prenderam o olhar!

Tamancaria portuguesa

Depois de uma grelhada variada num restaurante da frente ria, em cordial convívio, fomo-nos deixando ficar um bocado, «em suave remanso», pela nova margem de S. Jacinto, a saboreara a beleza e a doçura lagunares, sob um calorzinho tépido, sonarento e convidativo ao sonho.
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Meninos e meninas, deixem-se de mazanzices e toca a despertar. São horas da partida – ousou o arrais.
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No regresso, um sol anémico espelhava-se na laguna, por entre nuvens acinzentadas, deixando-a chumbada de prata, num efeito agridoce e envolvente.

Ria chumbada de prata brilhante

O nosso arrais havia-nos preparado uma surpresa e, ultrapassada a Meia-laranja, aproou o SÃO SALVADOR à Praia Velha da Barra.
Uns ocupantes saltaram para a água, outros banharam-se, outros foram ao Café Farol comprar umas «minis»…

Que belo cenário!...

Não é todos os dias que se aprecia esta paisagem, local histórico que foi palco de prantos e de alegrias com naufrágios, entradas e saídas de navios, lembrando, sobretudo, as campanhas do bacalhau, nas suas chegadas e despedidas de navios e tripulações.
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Imagens – Da autora do blogue
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Ílhavo, 4 de Outubro de 2015
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Ana Maria Lopes
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