sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Bateira ílhava, modelo de Marques da Silva

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Em 2007, o MMI exibiu a exposição A Diáspora dos Ílhavos, no seu 70º Aniversário, de 8 de Agosto a 31 de Outubro, em que um modelo da bateira ílhava executado pelo hábil Marques da Silva fora vedeta.

Bateira ílhava, no Catálogo


A este propósito, referiu o autor do modelo, in Catálogo Colecção Capitão Marques da Silva, elaborado para o depósito de sua colecção, em Abril de 2008, no MMI:

Os barcos ílhavos ou varinos são como o nome sugere embarcações que vieram da Ria de Aveiro.
Digo vieram, porque nas indicações que recolhi, o seu local de trabalho era na boca da Barra de Lisboa, durante os meses de Inverno. No Verão ficavam varados nas praias de Algés e Pedrouços, onde as companhas tinham palheiros e varais, para guardar a palamenta e as redes. Durante o verão este pessoal ficava nas suas terras, onde havia trabalho nas artes da Torreira e da Costa Nova.


ílhavos da tarrafa abicados na Praia da Ribeira

Cada companha de trinta homens possuía dois barcos e com eles rebocavam, à força de remo, a sua tarrafa, rede de arrasto de superfície, com a qual pescavam sardinha. No barco da rede, embarcava o mestre e catorze camaradas, no caíque ou barco do peixe, um arrais e os outros catorze.

ílhavos de gabão e barrete, na ílhava, dedicados  à arte da tarrafa

Tal como nos descreve D. Manuel de Castello Branco, no seu livro Embarcações e Artes de Pesca, 1981, (os ílhavos são barcos longos, de fundo chato e arqueado, boca aberta e proa e popa erguidas, arrufadas e encurvadas em forma de gancho. São semelhantes aos saveiros, mas muito maiores. Têm igualmente tábua de quilha e verdugos de reforço na borda. Interiormente têm bancada com enora, carlinga fixa nas cavernas, sarretas e tilha abaulada à proa).

Dimensões de registo:
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Comprimento + ou – 13. 80 metros
Boca + ou – 2. 50 metros
Pontal + ou – 0,80 metros
Tonelagem + ou – 5, 8 toneladas
Relação comprimento/boca +ou – 5. 5 metros

Continua:

Nas minhas frequentes visitas ao Museu de Marinha de Lisboa, sempre o modelo do Ílhavo me fascinava. Não só a sua forma característica, mas achava estranho nunca ter visto nenhum, mesmo velho, nos meus passeios à volta da Ria.

Finalmente a explicação chegou no livro do D. Manuel de Castello Branco. Sendo barcos da Ria de Aveiro, a sua aplicação era em Lisboa. Aqui encontrei ainda a razão para o meu avô dizer que tinha nove anos quando veio na bateira para Lisboa com o seu pai e também recordar-se do palheiro e dos varais que os seus tios armavam na praia de Pedrouços, dos quais foram desapropriados quando da construção do caminho de ferro de Cascais.

Todas estas lembranças, reforçadas pelo gosto que os Amigos do Museu de Ílhavo mostravam ter por esta embarcação, deram-me força e coragem para que baseado no desenho Nº. 798 – 11Bb-A5 na escala de 1/25, do Museu de Marinha, resolvesse construir este modelo de Barco Ílhavo.


António Marques da Silva

Lisboa, Abril de 2007


Esta foi a primeira das bateiras que Marques da Silva construiu, não pensando ainda que seria a primeira de uma colecção primorosa de bateiras que tem vindo delicadamente a executar. A seu pedido, fui buscar os escritos ao Catálogo então feito e com ela encerramos, ele e eu, a tal colecção.

É caso para dizer que as últimas, muitas vezes, são as primeiras. Ou melhor, neste caso, a primeira foi, aqui, na postagem do blog, a última.

Fotografia de Carlos Pelicas

Ílhavo, 9 de Setembro de 2011

Ana Maria Lopes

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