Barcos moliceiros . Aveiro
Jaime Isidoro. Óleo sobre contraplacado, 1946.
Assinado. 40x54.
"Marintimidades" foi criado para falar das coisas do mar, da ria, de embarcações, de artes, de museologia marítima e de eventos que surjam dentro desta área, publicitando-os, e sobre eles detendo um olhar...
Barcos moliceiros . Aveiro
Jaime Isidoro. Óleo sobre contraplacado, 1946.
Assinado. 40x54.
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Em
maré de romarias setembrinas, segue-se neste último fim-de-semana (27 a 29 de
Setembro), a festa da Nossa Senhora da Saúde, na Costa Nova.
Se
fosse possível regredir no tempo, por uns anos, desejaria assistir a uma
romaria dos anos sessenta, com artística armação na Avenida Marginal e nos
caminhos conducentes à Capelinha. A montagem da armação em altos escadotes
marcava o início da festa. Seguia-se a chegada das primeiras tendas. Mas quando
os primeiros moliceiros vinham do
norte e do sul da ria, os norteiros e os matolas
e atracavam mesmo aqui pertinho de mim, então a festividade estava próxima.
Recordo com
saudade a chegada das barracas das cutelarias de Guimarães, os chapelinhos de
papel de vários feitios e cores, os brinquedos toscos
infantis de lata e de madeira, o café “de apito”, a doçaria tradicional da Ti
Rosa Caçoa, com os seus suspiros melosos e açucarados e os bolinhos brancos
de gema.
Ao
lado, a Ti Adelaide Ronca com as flores das festas, de papel, com quadra
a gosto, e as coloridas e vistosas ventarolas. O Sr. Quintino Teles com os seus
pratos típicos, em cerâmica relevada, com castanhas e sardinhas assadas, ovos
estrelados, que até apetecia degustar, etc.
Ainda
os ferros forjados, as barracas das loiças de Barcelos e de alguns atoalhados e
“lingerie”, bem como, os homens dos guarda-chuvas, a leitura da sina, compunham
o ramalhete.
E
os vistosos e animados coretos com a banda a tocar!!!!.....
Não faltava
a Vida de Cristo, em movimento, descrita em voz roufenha, rouca, do
publicitador, tornada ensurdecedora pela ampliação conferida pelas cornetas do
altifalante, que tentavam sobrepor-se ao anúncio da casa dos espelhos, do
carrocel, dos carrinhos eléctricos ou cadeirinhas voadoras.
Com
muita gente, com muito barulho, acabou por se tornar impossível a festa na
frente/ria, incluindo a própria procissão, que não era recebida com o respeito
devido.
Há
uns anos largos, toca de mudar a festa para a Avenida do Mar. Ainda pior!!!!
Chegou-se a um exagero e a uma falta de sanidade, com que alguns moradores não
conviviam muito bem, quase impossibilitados de entrar em suas casas. Já não
eram vendas típicas e, por vezes, ingénuas, mas uma autêntica FEIRA, onde
chegou a intervir a ASAE.
O que se
seguiu? A procissão, após a missa festiva e pouco mais. Mas a coisa lá se tem vindo
a recompor.
Ainda se vai
passar à Costa Nova a Senhora da Saúde, quanto mais não seja, para saborear,
entre amigos, a chanfana ou o leitão assado, o que origina uma prévia
“procissão de leitões”.
O momento alto que vivo na festa é a passagem da procissão na Calçada Arrais Ançã, frente à minha varanda, com colgadura de damasco amarelada, em que reúno alguns amigos para a verem passar, num misto de satisfação, convívio, colorido, adorno empenhado dos andores e muita fé.
Algumas imagens:
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Outros
aspectos haveria mais a enumerar – irmandades, fanfarra, grupo de escuteiros,
pároco da Gafanha da Encarnação, acólitos e crentes acompanhantes, cumpridores
de promessas.
Nem gosto,
sequer, de ver a casa fechada, nesse dia.
Tradição…apesar de
já não ser o que era. É a que temos. Está a tomar uma posição sensata, sem
exageros. É para respeitar e tentar transmitir…
Este ano, vamos a ver como corre. Uma coisa, é consultar o Cartaz, outra é apreciar, de facto, os eventos.
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Ílhavo, 22 de Setembro de 2025
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Ana Maria Lopes
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Senhor Jesus dos Navegantes (O
Ilhavense de 31 de Agosto de 1930)
Como os
demais anos, também o próximo domingo, 7 de Setembro, se realiza nesta
freguesia a festa em honra do Senhor Jesus dos Navegantes, cuja imagem se
venera na igreja matriz de Ílhavo.
O programa de festas deste ano é o seguinte:
Sábado
– Arraial, à noite, tocando a Filarmónica Ilhavense e a Banda do Asilo José
Estêvam, de Aveiro, até às duas horas da madrugada. As ruas, com linda
ornamentação, serão iluminadas a luz eléctrica. Ao ar subirá vistoso fogo de
artifício.
Domingo
– Missa primeira acompanhada a orquestra; missa solene ao meio dia, a grande
instrumental. Ao Evangelho subirá ao púlpito o afamado orador sagrado, sr. Dr.
Artur Gonçalves Dias, professor do Seminário da Guarda, que pela primeira vez
será ouvido em nossa terra. À tarde sairá a procissão com a comovedora imagem
do Senhor Jesus, muitos anjos e as Irmandades.
Depois
da procissão aquelas músicas sobem de novo aos coretos, onde tocarão mais
algumas peças do seu reportório.
Na
segunda-feira haverá a tradicional entrega dos ramos e o peditório, esperando a
Comissão que todos concorram de boa vontade para o bom êxito desta festa.
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Moliceiro "São Salvador"
– nos Canais de Aveiro
Assisti ao nascimento do moliceiro São Salvador,
em 2010, em Pardilhó, no estaleiro
do Mestre António Esteves. Que alegria… mais um, em tempo de penúria… destinado
à Junta de Freguesia com o mesmo nome, em Ílhavo.
Só que o seu destino não lhe viria a trazer grandes
augúrios, porque a manutenção de um moliceiro, hoje, em dia, fica muito cara
Passou por alguns momentos altos dentre os quais
saliento a participação nas regatas de 2012
e 2013, às mãos do hábil arrais
da Torreira Marco Silva, velejador
de têmpera rija.
Em 2014, já
não participou. Dava sinais de decadência, sempre “enterrado” na Folsa dos
Coquins.
A decisão da Junta de Freguesia, devido aos custos de
manutenção, foi levá-lo a hasta pública, que, pela 2ª vez, se concretizou, em
Maio de 2015.
Tendo sido salvo por outras mãos (não sei pormenores), acabou por ter sido comprado pela amiga Maria Emília Prado Castro. Muito bem tratado e mantido, era o seu enlevo. Formou-se um grupo de amigos/as que não faltava aos passeios organizados. Não houve romaria lagunar setembrina, em que o “São Salvador” não tivesse estado presente, durante vários anos, bem como nas regatas então existentes.
Agora, entro eu na história. Em 2022 – o Mestre Zé Manel, pintor, teve a ideia de decorar o painel da proa, BB, do referido moliceiro, com a minha figura, com a anuência da amiga Maria Emília. O último passeio que fiz nele, foi nesse mesmo ano, para inauguração da nova decoração. Navegava em ria aberta, sempre que possível, à vela, desde a Torreira à Vagueira, à “Bruxa”, chegando a sair a barra, numa bela tarde de Outono, aproando na dita praia velha do Farol.
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O tempo passa, as coisas acontecem e, há cerca de dois meses, soube, que o moliceiro “São Salvador” tinha sido comprado por empresa turística de Aveiro. Esteve na Ribeira do Nacinho para restauro, mas os painéis, porque estavam bons, mantinham-se. Bem, outra vida, outro rumo…. Vou passar a navegar, a motor, sem mastro nem vela, nos Canais de Aveiro. E assim é. Pessoa amiga foi "cuscar" e, sabendo qual o cais em que atracava, teve a sorte de o ver, passeando turistas. Até quando? Não sei… Deus dirá…
Se andarem por Aveiro e reconhecerem a minha “fronha”,
num painel de um moliceiro, de cabelo branco, não se assustem, sou mesmo
eu. Talvez, alguma vez, vá dar uma voltinha, não sei…
Costa Nova, 21 de Agosto de 2025
Ana Maria Lopes
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No
88º aniversário do MMI, os Amigos do Museu (AMI), como sempre, ofereceram-lhe umas
lembranças – uns mimos.
Desta
vez, uma singela aguarela do Comandante António Jervis Pinto Basto, que foi um
aguarelista famoso (1862-1942), discípulo de Henrique Casanova.
Oficial da Armada, que percorreu meio mundo, foi, sobretudo, marinhista e pintor de barcos, especialidade em que se notabilizou. Esta aguarela, “Bênção dos Bacalhoeiros” de 1937, é de tons leves e traço delicado.
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Quase que se identificam mesmo os navios.
A segunda oferta foi, também uma aguarela de (Jaime) Martins Barata (1899-1970). Assinada e datada, 1927, “Cena de interior com pescadores”, mede 38,5x55.5 cent.
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A juntar ao bolo, mais dois “nanquins e gouaches” do nosso JOÃO CARLOS Celestino Gomes, intitulados “Gaibéus” (1994) e “Marés” (sem data), inspirados nas obras literárias de Alves Redol.
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Costa Nova, 12 de Agosto de 2025
AML.
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De dia em dia, ando para
dizer algo sobre a colecção de formas de
zagaia do MMI, que os Amigos do Museu (AMI) ajudaram a enriquecer.
Para se fazerem zagaias, gigos e chumbadas, levavam-se, a bordo, barras de chumbo, uma panela de
três pés e uma concha com bico. O molde
da forma era, geralmente, de bronze, tinha dois orifícios e dois punhos de
madeira, enfiados em haste de ferro com que se manuseava (abria e fechava). Com
o auxílio da concha, vertia-se o chumbo líquido fervente através de um orifício
e no outro, colocava-se o «pé de um duplo anzol». Arrefecia rapidamente,
abria-se e estava a zagaia feita.
Para além destas formas,
com algumas diferenças, havia também formas de zagaim, pisciformes, com ou sem escamas e barbatanas, formas de zip-zip, formas de cacete ou pissalho (molde de chumbo cilíndrico que substituía as singas, na linha de mão), formas de uma,
duas, três ou quatro singas e formas
de um, dois ou três gigos (peças
fusiformes, em que o pescador colocava uma coroa de alfinetes, bem apertados,
destinadas a apanhar lula para isco).
Tendo ido a leilão on-line, a 19 de Setembro de 2015, a colecção marítima do coleccionador Alexis Passechnikoff, no Leilão do Palácio do Correio Velho, a AMI contribuiu para a compra, em parceria com a CMI, da colecção destes moldes, em número de 25.
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Caso curioso, esta colecção de zagaias e congéneres, entretanto melhorada, tinha sido emprestada pelo proprietário ao Museu de Ílhavo, aquando da primeira exposição da Faina Maior. Quase caso para dizer, «o bom filho à casa torna», desta vez, depois de adquirida a colecção.
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Em Maio de 2016, através
da realização de uma oficina de moldagem de zagaias,
no Dia Internacional dos Museus, a colecção veio a lume.
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Ílhavo, 22 de Maio de
2016/2025
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Ana
Maria Lopes
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O “Ilhavense”, de 11 de Janeiro de
1945, referencia: “Em
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O “Inácio Cunha” na carreira – 1945
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Chegou, então, o dia festivo para o navio-motor “Inácio Cunha”, o dia 25 de Abril de 1945. Há 80 anos. Tudo a postos para a grande cerimónia.
Como a maré para o bota-abaixo fosse só pelas 17 horas, a
empresa armadora decidira oferecer, entretanto, a cerca de 200 convidados, um
lauto e regional almoço, num salão dos seus armazéns.
Na presença de todos os membros do Governo, vindos de Lisboa, das individualidades civis e religiosas, locais, dos armadores e dos muitos convidados, tiveram lugar as cerimónias da praxe, nos estaleiros da Gafanha da Nazaré: discursos, agradecimentos, bênção do navio pelo Sr. D. João Evangelista de Lima Vidal, o baptismo com o partir da simbólica garrafa de espumoso contra “a roda da proa” da embarcação, pela madrinha, Sra. D. Adília Marques da Cunha.
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(…)
“Finalmente, o Sr. Ministro da Economia cortou o cabo da bimbarra, mas o
navio manteve-se, por algum tempo, estático. Correram pressurosos os
construtores e demais pessoal, para alguns trabalhos de emergência, e, passado
algum tempo, o Inácio Cunha deslizou
serenamente na carreira para nadar, tranquilo como um cisne, nas salsas águas
da Ria.
Acenaram-se lenços, estalaram foguetes, a música executou um número alegre e os armadores e construtores receberam os abraços e parabéns da praxe.” – refere o jornal, “O Ilhavense”, de 2 de Maio de 1945.
O novo navio-motor, um dos primeiros do tipo CRCB., construídos por Manuel
Maria Mónica, na Gafanha da Nazaré, media
Por cálculos de construção,
esperava-se que viesse a carregar nos seus porões, sensivelmente, 12 000
quintais de bacalhau.
A viagem inaugural foi feita pelo
Capitão José Gonçalves Vilão, bem como a campanha seguinte (1946). Por lá
passaram, no seu comando, nos anos de
Na campanha de 1950, trouxe os náufragos do navio-motor “Cova de Iria”, que havia naufragado, devido a água aberta.
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Parece-me ter tido uma existência
pacífica, com as atribulações e perigos, inerentes àquela dura faina.
No ano de 1962, o Capitão David Marques declarou à empresa 11 162 quintais de bacalhau, de acordo com o seu diário de pesca, pelo que o navio abandonou a pesca e chegou a Aveiro sobrecarregado, pondo em perigo o navio, a sua carga, seus pertences e vidas humanas. O que se fazia por mais uns quilitos de bacalhau, para ganhar a vida!!!!
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Também Ernesto Manuel dos Santos
Pinhal comandou o navio de
A tripulação foi acolhida a bordo do navio-motor “Sotto Maior”, que a encaminhou para o navio-hospital “Gil Eannes”, a fim de ser repatriada.
Nas tranquilas águas da Ria, na
Gafanha da Nazaré, frente a Testa & Cunhas, eis, em primeiro plano, o “Inácio Cunha” e, pela popa, o “São Jorge”, de braço dado com o “Novos Mares”; avista-se, em último plano, o “Avé-Maria”.
Reinavam, por aqui, os navios-motor.
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Ílhavo, 25 de Abril de 2025
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Ana Maria Lopes
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Em visita fortuita às
reservas do Museu, deparei com uma grafonola antiga e incompleta com discos de
vinil, de 78 rotações, que me fixou o olhar, que logo transmitiu o sinal à mente.
Depois de observar o necessário, a conversa girou em torno da grafonola, a
propósito de umas cavaqueiras tidas
há muitos anos com o velho lobo do mar Capitão Almeida, assim era conhecido.
Mais tarde foi-me dada a
possibilidade de fotocopiar uns apontamentos dele, que possuo, a que recorro
com alguma frequência. E assim foi. No Museu, contei aquilo de que me lembrava
e, em casa, lá fui a esse baú, tenho
vários, e dei logo com o que queria.
Confessou-me o Capitão Almeida que, no primeiro ano de comando da pesca do bacalhau no lugre Argus (em 1933), mais tarde o Ana Maria da praça do Porto, após reconstrução sofrida no estaleiro de António Maria Mónica, na Gafanha da Nazaré, transmitiu música a bordo.
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Fui o primeiro capitão a dar música a bordo, para o que comprei, por intermédio
do meu irmão mais velho, Manuel, uma caixa de música com corda manual, que
ainda possuo, (e alguns discos de vinil antigos), com que contemplava os
pescadores, em dias de boa pesca e bom tempo. Dizia-se que dava azar música a
bordo (dizeres do povo), visto que no Titanic,
quando se afundou (1912), a orquestra tocava a bordo.
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Pensei nisso – continuou a conversa – o que me fez, um dia, em que a pesca não
estava a correr bem, partir o disco da Ramona, da Samaritana e outros de que
gostava muito.
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Mas nunca desisti de dar música, até convencermos os armadores da Parceria
Geral de Pescarias, Lda. a fazerem instalação eléctrica de música com
altifalantes para o convés.
A
música animava muito a companha e, muito principalmente, durante a escala,
último e árduo trabalho a bordo, diariamente, depois da pesca, quando o tempo
estava bom. Foi uma lição para os navios de outras companhias, em que os
capitães também gostariam de música.
Os
capitães da Parceria Geral de Pescarias, Lda. podiam, pois, considerar-se
precursores da música a bordo sem maus presságios para a pesca. Quantas vezes,
através dos nossos postos emissores enchemos o espaço de música, que outros
navios, ainda sem instalação emissora, ouviam com agrado.
Mais
tarde, foi-nos proibido pelo Gil Eannes,
porque de terra se queixavam que interferíamos nas comunicações do correio e
outras. Teria sido?
Mas,
só para bordo, a coisa não falhava por intermédio de altifalantes.
Foi à volta deste episódio que, na hora lembrei, junto da grafonola, que a nossa conversa rodou.
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A prova tinha passado por
mim, pois «aquela grafonola» tinha sido trazida da Parceria (em 1991), pela
equipa de pesquisas, preparatórias da montagem da exposição “Faina Maior”.
Giraram os discos e rodou
a vida. Tem sido um tal voltear!
Ílhavo, 10 de Março 2016/2025
Ana
Maria Lopes
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Ontem,
tiveram lugar no Museu Marítimo de Ílhavo, as Jornadas “Aquários e Cidadania
Azul”, evento que marcou a reabertura do Aquário dos Bacalhaus e que celebrou o
12º aniversário do mesmo, inaugurado, em 13 de Janeiro de 2013.
Nestas
jornadas, entre as 14 e as 16 horas, participaram vários especialistas que
falaram do papel dos aquários na “consciencialização, comprometimento e
proactividade”, em defesa do futuro do planeta, sobre a importância de
preservar os recursos marinhos para as gerações futuras.
Na
ausência de imagens de ontem, recordo algumas, tais “linhas de água”, em tons
de verde, de Cesariny, da primeira real inauguração, em 2013.
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Ílhavo,
12 de Janeiro de 2025
Ana Maria Lopes
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João
Sílvio Matias, marítimo, nasceu em 26 de Agosto de 1931. Filho de João
Fernandes Matias, conhecido Homem do Mar, e de Sílvia da Conceição Serrano.
Solteiro, não deixou descendência. Era irmão de Lucília Serrano Matias e de
António Manuel Serrano Matias. Sem grande amizade, sempre fomos vizinhos –
entre as ruas Ferreira Gordo e João de Deus – e conhecíamo-nos.
Era
possuidor da cédula marítima nº 27718, passada pela Capitania do Porto de
Aveiro, em 10 de Janeiro de 1955.
Embora,
já tendo tirado o curso, em época da pesca à linha em fase terminal, ainda fez
algumas viagens, em navios- motor e no lugre-motor “Creoula”.
Na campanha de 1955, fez uma campanha,
no arrastão” António Pascoal”, como praticante de piloto, sendo o seu
pai imediato. Na safra de 1956, estreou como piloto, o navio-motor “São Jorge”.
Nas campanhas de 1957 e
58, foi piloto no navio-motor “Lutador”, sendo o seu pai, capitão.
Na safra de 1959, passou
a imediato do navio-motor “Vimieiro”.
Nos anos de 1960 e 61,
foi imediato no lugre-motor “Creoula”, tendo acabado a pesca à linha em 1963,
no navio-motor “Soto-Maior”. Entretanto, passou para o comércio.
Na década de 90, sempre que o NTM “Creoula”, em consonância com a Câmara de Ílhavo e o Museu, visitava a Gafanha da Nazaré, sempre esteve presente , juntamente com outros seus colegas que tinham sido oficiais do navio, para uma agradável recepção a bordo.
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No dia 7 de Janeiro, com
a vetusta idade de 93 anos, partiu para uma viagem, sem retorno.
Ílhavo, 9 de Janeiro de
2025
Ana Maria Lopes
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Partiu um dos últimos e dos Grandes...
António Marques da Silva, grande amigo, filho de Manuel Marques da Silva e de Ana Nunes Pereira da Silva, nasceu na Lapa, em Lisboa, em 23 de Junho de 1931. Casou com Maria Júlia, de cuja união, nasceu o filho João Silva. Seguiu o Curso Geral da Escola Náutica, sendo possuidor da cédula marítima nº 115393, passada pela Capitania do porto de Lisboa, em 13 de Agosto de 1951. Residiu em Caxias, com largas estadias na Gafanha da Nazaré, cada vez mais longas...
O seu primeiro cargo marítimo foi como praticante de piloto, desde Março de 1952 até Fevereiro de 1953, no arrastão lateral, “Santo. André”.
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Neste ano de 1953, numa larga emposta, deixou a praça de Aveiro, para a Parceria Geral de Pescarias e passou ao lugre-motor de aço, “Creoula”, em 1953, como piloto e de 1954 a 57, inclusive, como imediato.
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A bordo do lugre motor “Creoula”
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Numa
nova emposta, entre 1958 e 64, inclusive, foi o capitão do lugre-patacho
“Gazela Primeiro”, com muito orgulho.
De
saco às costas, mudou para o lugre-motor “Argus”, entre 1965 e
68, da mesma empresa, com o cargo de imediato.
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Terminou a sua carreira na pesca à linha do bacalhau, como capitão do lugre-motor “Creoula”, de 1969 até 72, inclusive.
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Entre 1973 e 1987,
andou embarcado em navios da companhia Econave, onde desempenhou funções de
comandante em vários navios de carga geral e porta-contentores. Em 1981,
acompanhou a execução do projecto e supervisão das obras de recuperação e
adaptação do lugre Creoula a navio-escola, obras que acabaram em Agosto de
1987.
Em 1982, foi
contratado para professor da disciplina de Marinharia, na Escola Náutica
Infante D. Henrique, cargo que exerceu até Janeiro de 1993.
Por limite de
idade, aposentou-se, em Janeiro de 2002.
Mas o seu grande
trabalho começou a partir daqui, com a sua entrega à escrita e ao modelismo, de
uma forma exímia.
Entre os vários
livros escritos, salienta-se ”Memória dos Bacalhoeiros – Uma contribuição para
a Sua História”, editado pela Editorial Presença, em 1999.
A Comissão
Cultural de Marinha deu-lhe ao prelo os livros “A Força do Vento”, “O Pequeno
Herói” e “Quem Vai Pró Mar”, repectivamente em 2003, 2004 e 2005.
Em Agosto de 2016,
foi editado pela CMI/MMI e AMI o seu livro “Barcos da Ria de Aveiro – Memórias
e Modelos”.
Em 18 de Novembro
de 2017, foi editado pela CMI/MMI e AMI o seu livro “Traços de Construção Naval
em Madeira – Mastreação e Aparelho do Navio”.
Em Novembro de
2021, foi editado pelo Grupo de Amigos e pelo Museu Marítimo de Ílhavo, o seu
livro “Navios dos Descobrimentos – Memórias e Modelos”.
Em Agosto de 2024,
foi editado pelo Grupo de Amigos do Museu, o seu livro “ Embarcações da nossa
Costa – Memórias e Modelos”.
Pelo seu bom
préstimo, exímios conhecimentos e extrema habilidade, foi alvo de diversas
homenagens, a saber:
Em 2006 foi
condecorado pela Marinha de Guerra Portuguesa com a medalha da “Cruz Naval de
Primeira Classe”, na cerimónia do Dia da Marinha que teve lugar em Sines a 20
de Maio desse mesmo ano.
Em Dezembro de
2011, foi eleito por unanimidade, membro emérito da Academia de Marinha.
Em
Março de 2017, foi homenageado pela Escola Náutica Infante D. Henrique.
Em Abril de 2022,
foi entronizado Confrade de Honra pela Confraria do Bacalhau de Ílhavo.
Em Agosto de 2022,
foi homenageado pelo MMI. com a abertura de uma exposição temporária da sua
colecção de modelos e aprestos de bordo lá depositada.
Em Abril de 2023, foi
homenageado pela Câmara Municipal de Ílhavo, com a atribuição da medalha de
mérito cultural prateada.
Hoje, dia 2 de
Janeiro. com a vetusta idade de 93 anos, partiu para uma viagem sem fim.
Ílhavo,
02 de Janeiro de 2025
Ana
Maria Lopes
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