quinta-feira, 14 de abril de 2022

A 110 anos do naufrágio do inafundável "Titanic"

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O maior modelo ja
 O maior modelo jamais construído
 O maior modelo jamais construído

Desde que me lembro, conheço seis colheres sóbrias e pesadas, de prata, com a estrela relevada, no cabo, logotipo da WSL, companhia a que o Tinanic pertenceu. Desde sempre o meu Avô me contou a história delas, repetida mais tarde pela minha Avó, após a sua partida.

O Titanic, paquete colossal e luxuoso, naufragara contra um malvado e gélido iceberg, na sua viagem inaugural, quando saiu de Southampton (Reino Unido) em direcção a Nova Iorque, na madrugada do fatídico dia 14/15 de Abril de 1912.

Por essa altura, costumavam os veleiros portugueses da pesca do bacalhau partir dos diversos portos que os apetrechavam, em direcção aos Grandes Bancos, de onde voltavam por meados de Setembro a Novembro. Ora, consta que, em Ílhavo, algumas famílias possuem talheres provenientes do Titanic, mas todos com a mesma origem. E o que nos dizia a tradição?

Na primavera de 1912, ao dirigirem-se para a pesca, pescadores do lugre Trombetas, da praça da Figueira da Foz, «pescaram» uma cómoda que boiava, mais ou menos no sítio, um pouco mais a norte, onde tinha naufragado o luxuoso paquete. Era seu capitão, à época, o ilhavense João Francisco Grilo, de alcunha, Frade, casado com a irmã Rosário da minha bisavó, a «arraisa» Joana Caloa. Nesse mesmo ano, o meu Avô, Manuel Simões da Barbeira, mais conhecido por Capitão Pisco, sobrinho e afilhado do achador, comandara o lugre Golfinho, também da mesma praça da Figueira da Foz. Entraram essa barra, ambos, a 27 de Outubro de 1912, testemunha o jornal «A Voz da Justiça», da Figueira da Foz.

O capitão, à chegada, deu contas do achado ao seu armador, da Lusitânia Companhia Portuguesa de Pesca, mas, talvez, tendo este ficado com alguns talheres, não deu grande importância ao assunto e aconselhou o Capitão Frade a trazê-los para Ílhavo, ficar com alguns e distribuir os restantes por familiares e amigos. Foi esta a origem das minhas, hoje, seis colheres de prata, com a estrela relevada da WSL.

Esta história mítica, mas «com pernas para andar», porque as coincidências e probabilidades são mais que muitas, manteve-se dezenas de anos no seio destas famílias ilhavenses que não gostavam muito de falar do assunto – fui constatando.

O interesse pelas colheres mágicas ressalta-me, e, na qualidade de Directora do Museu Marítimo de Ílhavo, na década de noventa, tinha gosto em certificar mais esta tradição. Eis que o National Maritime Museum – Greenwich – Londres, em 1994, em grandes parangonas, anuncia a exposição – The Wreck of Titanic. Sorvi a informação e pus-me lá, em dois tempos. Mas, embora tenha apreciado muito, talheres iguais não eram apresentados. Desconfiei…, mas, o peso da tradição ilhavense tinha mais força.

Dez anos mais tarde, o Mercado Ferreira Borges, no Porto, exibiu uma exposição idêntica, que também não me elucidou completamente. Foi preciso chegar a uma terceira exposição apresentada na Estação do Rossio (Restauradores), em 2009, em Lisboa, quando, ao visitar a secção de objectos de cozinha, da baixela e faqueiros da sala de jantar, não me contive que não soltasse uma exclamação de alegria e espanto:      

Aqui estão talheres (eram vários) do Titanic iguaizinhos às colheres que temos lá em casa. Sorri com um brilho nos olhos. Pois, pudera, já tinha comido sopa com elas!!!!!!!!!

Para recordar, um dos filmes feito no Centenário, há 10 anos. Não foi assim há tanto tempo!...

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Ílhavo, 14 de Abril de 2022

Ana Maria Lopes

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