sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Museu marítimo a céu aberto, na Gafanha da Nazaré

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Foi com algum espanto que comecei a ver no FB a reprodução de belas imagens que me espantaram, uma espécie de um museu a céu aberto que ia nascendo na região, talvez mesmo nos pilares de um viaduto da Gafanha da Nazaré. Fui ao seu encontro.

Passam a surgir as grandes mulheres, que foram, as das secas, dedicadas a um trabalho duríssimo, algumas pessoas que identifiquei, bem como cenas de pesca do bacalhau em dóris, na sua grande maioria, inspiradas em retratos de Alan Villiers, da sua memorável viagem no “Argus”, na campanha de 1950.

Num fim de tarde claro, mas acinzentado, antes daquela tempestade subtropical, que assolou o país, depois de duas semanas bem quentes e calmas, aventurei-me por esta região que bem conheço. Lá fui…

Perto do retrato do então jovem capitão Valdemar, fardado, estacionei na berma da estrada e parti, à descoberta, de olhos arregalados – do tal museu a céu aberto.

Dei de caras com um senhor simpático, que me identificou e me disse que o desafio daquele trabalho partira de Leonardo Aires, proprietário da empresa “Frigoríficos da Ermida”, ali situada e que tinha começado com um painel gigante que retrata ursos polares. Já me dera na vista.

E depois? Seria de utilizar os pilares do viaduto que dá acesso ao Cais dos Bacalhoeiros, que por ali passa, para celebrar histórias tão “gafanhoas”, com raízes nas secas de bacalhau, que por ali abundavam e dos homens dos botes (dóris) que pescavam o bacalhau nas terras gélidas dos mares do Norte?

Depois dos entendimentos legais junto da APA e da CMI, passou-se, então, ao início do trabalho, para o qual foi encontrado o autor, António Conceição, pintor natural do Mindelo, Cabo Verde, mas, que, actualmente, vive em Vagos.

Com jeito e gosto pela pintura, tirou o curso de Belas Artes, na Universidade do Porto, em 2005. Centrou-se em quadros que, entretanto, foi expondo em galerias, mas começou por perceber que a sua grande paixão era a pintura de ruas e os grandes murais que são uma obra de todos – a rua é a sua tela.

Começando pela grande base do viaduto, a cores, que retrata as várias tarefas, duros trabalhos, das mulheres das secas, seguem-se outras cenas de mulheres das descargas do bacalhau, que a escritora Maria Lamas, no seu livro “As Mulheres do meu País”, imortalizou. Andou, em 1948, pela Gafanha, observando e fazendo inquéritos às mulheres das secas, de onde resultaram textos belíssimos. Também o Capitão Valdemar Aveiro, que numa vetusta idade está ainda entre nós, muito freso, foi escolhido para ser homenageado e o armador dos mais empreendedores, que foi Egas Salgueiro. E de pilar em pilar, vão-se retratando cenas piscatórias da difícil tarefa dos homens dos dóris e dos moços, pau para toda a obra, a bordo.

Vejamos algumas das imagens:

 

Visão parcial do viaduto
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Mulheres das secas
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Maria Lamas

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Valdemar Aveiro

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Egas Salgueiro

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Homem do dóri
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Moço com bacalhau gigante


Raparigas das secas
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O arriar do bote

O último pilar decorado

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Na convicção de que vos tenha convencido, visitemos aquele santuário de quando em vez, com o sentido de observar e apreciar o que vai surgindo.

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Ílhavo, 9 de Outubro de 2020

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Ana Maria Lopes

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4 comentários:

Jaime Pião disse...

Belas pinturas ,faz-me recordar outros tempos dos tempos dos meus Avós ,do meu Pai e até do meu tempo ,costumo dizer que foram tempos que o tempo não apaga ?

vieira da silva disse...

Muito bom. Vou partilhar.

Unknown disse...

O meu pai era muito amigo do capitão Valdemar Aveiro e se ainda estivesse entre nós ía adorar estas magníficas obras de arte que homenageiam o valor incomensurável destas mulheres e destes homens do mar.
Muito obrigada por perpetuarem a memória de um povo, por vezes tão esquecido.

Anónimo disse...

Os homens do mar e as Guerreiras das secas agradecem do fundo do coração a sua intervenção e divulgação da presente homenagem. Bem Haja Ana Maria Lopes.