quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A construção da «ílhava» em exposição

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Embora com alguma fugacidade, não queremos que passe despercebida do Marintimidades a exposição fotográfica da construção da ílhava, exibida no MMI, aquando da apresentação pública desta nossa bateira.
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Quem viveu a aventura desta recriação fê-lo com paixão. Para além do mais, acompanhou durante meses, a perícia, o gosto, a minúcia, a arte com que a Etelvina fez estes registos fotográficos para memória futura. São apenas 20 imagens de razoável dimensão, que fazem parte de centenas que clicou durante meses, desde o lançamento da tábua da quilha da embarcação, até ao seu regresso às origens – Ílhavo.
Quem acompanhou a montagem desta exposição, teve a sensação de que se trabalhou em arame de circo, por «contratempos» de vida que o empenho e a coragem superaram. Mas, valeu a pena! Foi unânime a opinião dos observadores – um apontamento de cariz etnográfico que embrulha muito de sociológico, de antropológico, de sócio-cultural e de histórico.
Melhor do que as nossas palavras, o texto introdutório da própria autora revela o que ela procurou e viveu, neste registo. Ei-lo:

Bateira ílhava, uma embarcação secular

Uma embarcação com vínculo e apelido das gentes de Ílhavo.

Segundo dados históricos, esta embarcação é referenciada a partir do século XVIII, tendo-se extinguido no século XX.
 
Herdando o nome da sua terra natal, esta bateira terá sido criada com o propósito de servir as gentes da borda-d’água lagunar, passando posteriormente para o mar. Terá sido um artefacto de trabalho, uma ferramenta polivalente, servindo para toda a faina. Mais tarde, migrou para as águas do Douro e do Tejo, tendo-se ali extinguido, não deixando rasto.
Não restando exemplar físico da embarcação, alguns estudiosos desenharam e maquetaram um protótipo com base em documentos escritos, registos imagéticos e gráficos.
A ideia de construir uma réplica desta embarcação secular tem vindo a ser alimentada ao longo dos anos.
Em Junho de 2013, a Associação dos Amigos do Museu Marítimo de Ílhavo formou uma equipa de trabalho para concretizar este sonho – reconstruir um elemento patrimonial identitário da região, já perdido.

Por iniciativa desta Associação, estudou-se, elaborou-se, supervisionou-se e custeou-se todo o projecto. Actualmente, pode-se apreciar o belo exemplar da bateira ílhava exposto na Sala da Ria deste Museu.
Construída na borda-d’água, em Pardilhó, num estaleiro naval tradicional, por um conceituado mestre, foi imperativo manter o processo construtivo, os materiais e acabamentos tradicionais, fidedignos com a realidade de outrora.
Apresentada ao público, no dia 11 de Janeiro de 2014, a réplica da bateira ílhava, uma peça única em ambiente museológico, transmite através do sistema construtivo, dos materiais, da sua forma e história funcional, um conjunto de elementos de cariz etnográfico, identitários da nossa região.
Recuperou-se um património imaterial, materializando-se nesta réplica. Um bom exemplo e um contributo para trabalhos futuros.
Esta breve exposição de fotografia tem como objectivo dar a conhecer, através de alguns apontamentos imagéticos, algumas fases do processo construtivo da emblemática embarcação.
Pretende-se, ainda, de forma sucinta, transmitir alguns momentos de rara beleza e encantamento vividos dentro de um estaleiro, durante a construção de um artefacto artesanal – luz, odor, textura, cor, brilho, pó... tudo isto se entranha na alma!

AMI, Presidente – Dr. Aníbal Paião
Equipa de trabalho – Capitão Marques da Silva, Eng.º Senos Fonseca, Dr.ª Ana Maria Lopes, coordenadora do projecto.
Construtor naval – Mestre António Esteves (o Pardaleiro)
Vela – Marco Silva e família.
Fotografia: Etelvina Almeida

Para amostra, fazendo crescer água na boca:


Esculpindo…

Em pose…

Assentamento acrobático…

Com ritmo…

Vestida com vela içada…

Texto introdutório e imagens – Etelvina Almeida

Ílhavo, 15 de Janeiro de 2014

AML
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2 comentários:

etelvina almeida disse...

Muito obrigada Ana Maria, pelas amáveis palavras no seu Blog acerca da exposição de fotografia; pela divulgação junto dos seus leitores e pelo seu entusiasmo contagiante, antes e durante a construção desta réplica - a bateira "ílhava".

...é o "regresso" à terra que a viu nascer e da qual herdou o nome - Ílhavo!

Etelvina Almeida

Anónimo disse...

Acho estranho ver o castelo de proa da ILHAVA com uma borda da altura do quebra-mar formando uma espécie de caixa e também não vi aberturas no casco para que a agua entrada voltasse a sair... assim aqueles que se sentavam no quebra-mar, para remarem com o cambão, ficavam com as calças ensopadas e o tal quebra-mar perdia a sua função de impedir a agua de entrar na embarcação.... Não esqueçam que as ilhavas que nas fotografias estão encostadas nas praias sem leme e estão varadas de ré porque os 12 remadores ficam da meia nau para a proa e assim é mais fácil de desencalhar/galear...

Antonio Angeja