domingo, 10 de março de 2013

A ida ao mar, em imagens, na Costa Nova (Anos 40) - 1

-
Conseguir, parcialmente, uma ida ao mar, em imagens, na Costa Nova, no final dos anos 40, não é, propriamente, fácil. Não é só farfalho, nem sorte. É preciso andar na esteira. Acontece a quem procura.
Teria os meus 7 anos e era visita assídua das companhas. O meu avô já deixara a longínqua e perigosa pesca do bacalhau para acompanhar e apaparicar a neta querida.
Mais tarde, renovei as minhas visitas, pois estes assuntos sempre me interessaram, por razões óbvias.
 
 
O barco da Costa Nova, de 4 remos bem cruzados, altivo e pujante, espera a hora da maré. No areal, a bombordo, redes e outros aprestos que os homens ultimam. Uma junta de cornígeros animais passa lentamente – a tal ruralização do litoral que encantou Unamuno.


 
Por ordem, todos os aprestos ocupam o lugar próprio na embarcação, – a manga de retorno, o saco que volteia a ré, a primeira manga e os cabos enrolados e acamados ordenadamente, à ré e mais a vante. A companha de bordo ocupa o lugar no barco e a de terra coopera. Poucos mirones. Meia dúzia de homens, no mar, de calça arregaçada, aguenta as varas, sobre as quais os rolos e o barco deslizam. À proa, o vareiro, em pé, vigia e ordena.


 
Arrais, sempre atento, à ré. Reçoeiro em terra. Momento de perigo. Os bois puxam o barco para a beirada do mar, a muleta, à ré, orienta. Após as três vagas sucessivas, o mar amolece (a mesma técnica para a entrada no banho, em tempos idos).
A esbelta embarcação bate no cavado da onda, que chapisca. Os remos equilibram. Mar chão e imenso. Mais imenso, ainda, o céu! A emoção é grande! É agora!!! Agora!!!

 
 

Um dos perigos foi ultrapassado. Já flutua. Uma segunda vaga é alcançada e superada com sofreguidão, evitando o atravessamento do barco de que poderia resultar o maior desastre.
 
Que siga em nome de Deus!!!
 
O pessoal afasta-se e juntas de bois fogem, assustadas pelo bater do mar, em forte correria, pelo declive do areal acima.

(Cont.)

Ílhavo, 10 de Março de 2013

Ana Maria Lopes
-

4 comentários:

Anónimo disse...

Lá lhe "roubei"mais 3 fotografias,que me refazem a juventude...Excelente texto,claro...Cumprimentos,"kyaskyas"

Ana Maria Lopes disse...

Está autorizado. Acredito. Obrigada.
Cumprimentos.

etelvina almeida disse...

Imagens e texto precioso.

Uma ida ao mar, contada na 1ªpessoa, por quem viu e se interessou, desde menina, por esta faina.

Obrigada Ana Maria pela partilha destas belas e ilustradas recordações, que nos trazem um pouco de história da nossa região.

Anónimo disse...

Obrigado. Gostei muito. Sou da Costa Nova mas ja estou quase a 20 anos na Suiça. E ler assim o texto é das melhores coisa... Mais uma vez obrigado e continue assim.