domingo, 25 de fevereiro de 2024

Manuel Simões da Barbeira (Capitão Pisco)

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Manuel Simões da Barbeira
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O meu avô Pisco, bisavô dos meus filhos e trisavô dos meus netos…

Manuel Simões da Barbeira (Capitão Pisco) nasceu a 29 de Julho de 1885 e era filho de João Simões da Barbeira, o Pisco, marítimo, e de Joana Correia, de cujo casamento nasceram quatro filhos – Manuel Simões da Barbeira, Francisco dos Santos Calão, David, que morreu muito cedo e uma filha, Nazaré Correia.

Morador na Rua João de Deus, casou com Maria Sacramento Simões, de cuja união nasceu Maria Manuela Sacramento Simões.

Desde que existem algumas provas, o Cap. Pisco comandou, com 23 anos, o iate Mondego, de 1908 a 1911, da praça da Figueira da Foz.


O iate Mondego, in Ilustração Portuguesa
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Nas campanhas de 1912 e 1913, passou para o comando do lugre Golfinho, da mesma praça.

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O lugre Golphinho, em dia de bota-abaixo, 1912
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Nas campanhas de 1915 a 1917, comandou o lugre-escuna Figueira, que foi construído em Inglaterra em 1904 e na de 1918, o lugre Voador, da praça da Figueira da Foz.

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Lugre Voador. Figueira da Foz.
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Vivo de referências da vida do meu Avô que quero passar   aos meus filhos e aos meus netos. 

Na campanha de 1919, fora o segundo capitão do famoso lugre-patacho Gazela Primeiro.

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Lugre-patacho Gazela I
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Manuel Simões da Barbeira, já na praça de Aveiro, começou por comandar o lugre Silvina, de 1921 a 1927.


O lugre Silvina, na Gafanha da Nazaré
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Neste ano, abrandemos o ritmo dos navios e das viagens e dediquemos algumas palavras à sua faceta empreendedora.  Foi um dos sócios fundadores da empresa Testa & Cunhas, Lda., constituída em 16 de Dezembro de 1927, enquanto, anteriormente, já tinha feito parte da Empresa de Navegação e Exploração de Pesca, Lda., de Aveiro.

Voltando aos navios, o Capitão Pisco comandou o lugre Cruz de Malta de 1928 a 1937, com uma interrupção em 1932, em que o navio não foi ao bacalhau.

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O lugre Cruz de Malta, na Gafanha da Nazaré
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Na campanha de1938, fez a viagem inaugural do lugre de quatro mastros Novos Mares, aí se mantendo até 1942 (inclusive), acabando, então, a sua vida de mar.  

Por informação do Jornal de Notícias de 8.12.1938, tive conhecimento de que o Novos Mares, no dia anterior ao entrar a barra e ao passar a restinga, encalhou, pelo que os restantes cinco navios, que aguardavam fora do porto, ficaram para o dia seguinte. Esse encalhe, felizmente, sem consequências, foi originado pelo lamentável estado da barra, agudizado pela não existência de motor, a bordo. Na campanha de 39 embora um pouco mais tardiamente, o Novos Mares já partiu com o novo equipamento, indispensável.

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O lugre Novos Mares, à entrada em Leixões
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Então, depois de muitas procelas, maus bocados, aflições, preocupações, angústia, saudades da família, própria deste tipo de vida rude e dura, ficou em terra, depois de cerca de quarenta anos de mar, apto a, em 1943, iniciar assuas funções de Avô. Adorava-me, estragava-me com mimos, levava-me com frequência à chegada das redes (artes), nas companhas da Costa Nova, s, amiúde, no quadro da bicicleta, à seca, na Gafanha da Nazaré.

Bonacheirão, bondoso, humano e afável, empreendedor e trabalhador, entregou-se, após as fainas do mar, às visitas sistemáticas à firma de que fora um dos sócios fundadores. As lides agrícolas, ali, no quintal do Curtido de Baixo, ocupavam-lhe o resto do tempo. Deixou marcas profundas na minha existência, e, ainda, hoje, guardo, com carinho, alguns dos instrumentos náuticos de seu uso pessoal – em tempo incerto, não saio sem consultar o “seu” barómetro. Curiosa, a diversidade de navios em que embarcou. Daí, não ter sido fácil, mas atractivo e apelativo, articular as informações. Partiu, cedo, numa viagem sem retorno, vítima de uma intervenção à vesícula, malsucedida, em 16 de Fevereiro de 1953, com 67 anos.

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Ílhavo, 25 de Fevereiro de 2024

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Ana Maria Lopes

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