quarta-feira, 2 de junho de 2021

Na Escola Primária da Costa Nova

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A propósito de um escrito de Senos da Fonseca, relativo à Gafanha da Gramata, depois da Maluca e, por fim da Encarnação – veio-me à cabeça um capítulo da minha vida escolar em que também tem lugar a Escola Primária da Gafanha da Encarnação.

Vou para a Costa Nova desde que nasci, sempre para a mesma casa.

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O bonito palheiro em 1948
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Antes de ter a arquitectura actual, era um bonito palheiro de rés-do-chão em adobe, com varanda, o terceiro da Calçada Arrais Ançã (lado sul), a partir do actual Largo da Marisqueira, de onde se usufrui uma paisagem inebriante e mutante, de dia e de noite, ao amanhecer e ao entardecer. Era esta a vista da minha casa, até 1973, inserida num horizonte sem fim.

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Mota actual, em 1942

 

Com o aterro parcial da laguna (seria necessário?), foi-me roubada.

Costa Nova dos meus encantos!!!!! Adeus, bateira Namy, atracada ao moirão multicolor, em frente a casa! Adeus, serventia do embarcadouro da barca! Adeus, travessia, para a “Bruxa”. Adeus, pesca, ao caranguejo da muralha com fio, pedra ou concha e uma lasquita de bacalhau! Também passaram à história as belíssimas atracações da barca, ao perto, em dias de nortada ou de inverno, com marola forte e vento rijo, não sei se à Labareda nem se não. Mas lá que eram bonitas, certeiras e arrojadas, eram.

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Cenário frente a casa, em 1973
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Mas, voltando à história, frequentei a 1ª e 3ª classes da Escola Primária, nesta linda praia, entre ria e mar situada.

Foi minha professora, a Senhora D. Palmira, de quem guardo gratas recordações, bem como de algumas colegas que ainda hoje reconheço.

O local para a Escola Primária que frequentei foi criado em 1930, na então Avenida Boa-Vista, a norte.

Um belo dia, a Senhora Professora informou a minha Mãe que eu, com 5 anos, chegava demasiado cedo à escola. Gostava sempre, antes das aulas de ir ver o mar. Vem de longe, esta tendência…

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Escola Primária, no r/ch, 1948
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Chegado o final do ano lectivo de 1950-51, o exame da 3ª classe estava à porta. O meu primeiro exame. E onde fazê-lo? Tinha de ser na Escola da Gafanha da Encarnação.

Sempre que lá passo, me lembro.

Claro, tínhamos que ir de barca, à vara, tão calmo estava o dia de Julho, e, a pé, até à escola. Vestido novo… toda enfeitada.

Uma nova escola, novos professores, novo ambiente…algum nervosismo.

O texto que me saiu em sorte foi “A libelinha e as folhas de nenúfar”. Correu bem e, no final, bom resultado.

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Escola da Gafanha da Encarnação em 1959
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Voltámos. A minha Mãe e Avó esperavam-me…com ansiedade. A sua menina a chegar do primeiro exame… e de barca!!! Quem se gaba do mesmo?

Um pequeno percalço, no regresso: escorregou-me um lápis novinho em folha, costado abaixo e enfiou-se debaixo dos pesadões paneiros da embarcação.

Por mais que pedisse, lamuriosa, ao barqueiro, ele não se compadeceu da minha mágoa. Será que um insignificante lápis merecia o trabalhão de levantar um ou dois paneiros da grande barca?... Lá ficou para sempre, mas não me esqueci…

O que interessava é que estava na 4ª classe, com as férias à porta…

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Ílhavo, 2 de Junho de 2021

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Ana Maria Lopes

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