domingo, 21 de fevereiro de 2021

Aníbal da Graça Ramalheira

 

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Tendo-me pessoa amiga perguntado se eu tinha a biografia do capitão Aníbal da Graça Ramalheira, fui direita às fichas do Grémio, sem me lembrar que a dele estava quase em branco, sem os dados básicos e com o registo de meia dúzia de viagens, apenas. Valendo-me de pessoas amigas e de outros elementos, os habituais, tentei reconstituí-la. E ei-la:

Aníbal da Graça Ramalheira nasceu na Rua do Pedaço em 30 de Julho de 1900, filho de João Pereira Ramalheira Júnior, marítimo e Vitorina da Graça Ramalheira. Do casamento com Leonilde Vitorina Corujo em 30 de Outubro de 1921, nasceram os filhos Vitorina Paula Corujo Ramalheira, Aníbal Leonídio Corujo Ramalheira e Maria do Rosário Ramalheira.

Frequentou o Liceu de Aveiro e o de Viana do Castelo, porque nessa altura, entre 1914 e 1918, época da pneumónica, o pai dirigira uns terrenos para secadouro, pertencentes à Parceria Geral de Pescarias (PGP), em Darque, Viana do Castelo.

Mais um Ramalheira que dedicou o seu tempo aos navios da Parceria, no Barreiro, bem como, na parte final da vida, à empresa, seguindo as pisadas do pai.

Do que se consegue apurar, foi ao bacalhau na campanha de 1922 na “escuna Creoula”, conhecida como “Creoulinha” como piloto, com o capitão António Marques e na de 1923, foi de capitão.

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Escuna “Creoula”
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Nos anos de 1925 e 26, foi capitão do “Argus” velho, futuro “Ana Maria”, pertença da praça do Porto. Era um donairoso e elegante veleiro.

No lugre-patacho “Gazela I”, fez quatro viagens de capitão – as de 1924, 27, 28 e 1929. Quase toda a gente ouviu falar do lugre patacho “Gazela I”, do Gazelinha ou Gazelão, conforme as épocas, que hoje ainda é mantido pelas Américas por um grupo de Amigos.

Teve a honra de fazer a viagem inaugural do lugre “Hortense”, em 1930, onde residiu como capitão até 1936 (inclusive), construído na Gafanha da Nazaré, nos estaleiros de Manuel Maria Bolais Mónica.

Era obrigatório equipar com radar, os navios construídos a partir de 1950, mas Aníbal Ramalheira adorava tanto o” Hortense” e achava-o tão elegante, que dizia que o mastro da antena do radar iria tirar o brilho ao navio. Conseguiu-o aguentar sem radar até 1961, ano em que as autoridades não autorizaram a sua saída.

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O lugre “Hortense”
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Mais uma vez se orgulhou de inaugurar o lugre “Creoula”, construído nos estaleiros da CUF, em tempo record, para a viagem de 1937, tendo ficado por lá mais o ano de 1938, que ficou célebre pela negativa. Foi um ano fatídico com um ciclone que soprou no oceano, tendo atingido fortemente alguns navios. Dentre eles, foi o “Creoula”, do comando do sr. Aníbal Ramalheira, que perdeu quatro homens da sua tripulação, entre eles, o imediato, sr. Carlos Eduardo Miranda Calàs de S. Pedro do Sul, sofrendo também avarias de grande monta. O “Brites” e o “Maria da Glória” felizmente não tiveram perdas pessoais, mas sofreram, igualmente, prejuízos importantes.

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O “Creoula”

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Não há dois sem três e em 1939, fez a viagem inaugural do lugre “Argus”, construído na Holanda, tendo deixado, então, o mar, por motivos de saúde.

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O “Argus”, com a pintura original, de sangue de boi
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Conhecedor e amante de navios, bom profissional, sabedor e habilidoso, seguiu as pegadas do pai, tendo passado a exercer o cargo de gerente da PGP, em Fevereiro de 1941. Supervisionou a frota dos Bensaúde, no Barreiro, depois de uma carreira longa e notável, à frente de vários lugres.

Uma bela panóplia de “navios históricos” passou-lhe pelas mãos, com mestria.

Aposentou-se em 30 de Junho de 1970, tendo vindo morar para Ílhavo.

Deixou-nos em viagem sem retorno, em 6 de Dezembro de 1976 com 76 anos de idade.

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Ílhavo, 21 de Fevereiro de 2021

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Ana Maria Lopes

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