segunda-feira, 6 de junho de 2016

VIII Encontro de Embarcações Tradicionais em Esposende

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Cheguei há pouco de Esposende. Cansada, mas de alma cheia. Dois dias diferentes, a registar. O meu grande agradecimento à Amiga Ivone Magalhães, Directora do Museu Municipal e à Conceição, pela simpatia e acolhimento com que me receberam. Dia de festa em Esposende… Dia do rio e mar e de sua comunidade piscatória.
Ontem, para além de uma actividade interessante, no Museu Marítimo, passei a tarde na rampa junto à lota, à beira-rio, a tentar identificar as embarcações tradicionais que participaram no VIII Encontro de Embarcações Tradicionais em Esposende e a saborear-lhes a beleza das suas manobras.
Algumas embarcações já me eram bem familiares, como a catraia de Esposende, réplica navegante construída em 1993, a Sta. Maria dos Anjos, algumas «dornas galegas» e a lancha de fragata ou o catraio tejano, bem bonito e centenário, trasladado por gosto do proprietário, do Tejo para a laguna de Aveiro, de seu nome Costa Nova.
Catraia Sta. Maria dos Anjos

O catraio tejano Costa Nova
As tais memórias tradicionais marítimas de Esposende, que são relevadas pelo carinho e genica de alguns, iam-se sucedendo e preparando, ao mesmo tempo. Ao fim da tarde, algumas pescadeiras enfeitavam devotamente os andores que participariam na procissão fluvial de hoje e no lançamento de uma coroa de flores, ao mar, após a difícil saída da barra, em memória dos homens do mar falecidos em acidentes marítimos.
Na lota, algumas das divindades incorporadas
Algumas «estórias», tradições, memórias, lendas foram recordadas, enquanto transpúnhamos a fé e o carinho com que enfeitavam os andores, com as respectivas divindades. Pescador e fé caminham de braço dado – Nossa Senhora da Barca do Largo, Nossa Senhora da Graça, S. Pedro, a Senhora da Bonança (freguesia de Fão), a Senhora da Guia, a Senhora de Fátima, e o, para mim, conhecido, mas nunca visto, S. Bartolomeu do Mar.
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O dia de hoje, com a dita procissão fluvial, num clima ameno, calmo e morno convidava ao passeio. Sem contar, mas sem hesitar, aceitei o convite de última hora para embarcar. Todo o desfile foi magnífico, neste caso, em catraias modernizadas, ditas «voadoras», a motor. Embandeiradas em arco com bandeirolas multicolores, desfraldavam à pouca aragem a beleza e o significado da bandeira nacional. Cenário alegre, garrido, penetrante e envolvente. A procissão teve dois momentos altos: um, o do encontro, em que as embarcações se dirigem mais para montante, para receber a Senhora da Bonança (da freguesia de Fão), que vem incorporar-se no cortejo.
A incorporação da Senhora da Bonança
O outro, em navegação a jusante, em direcção à barra, o lançamento à água da simbólica coroa de flores, em homenagem aos pescadores mortos em acidentes marítimos. Um misto de respeito e temor pela ondulação do próprio mar e do entrecruzar da agitação dos motores das embarcações, era o que sentíamos a bordo.
No mar, a coroa de flores
Chamou-me a atenção um barco com quatro fotografias de rostos – explicou-me a Ivone que era um barco de memória fúnebre, o Flecha, ao recordar os quatro últimos homens do mar, que faleceram de uma mesma família – a família Nibre.
Barco de memória fúnebre
De regresso à lota, donde saímos, parece que soube a pouco. Belo, empolgante e salutar!
De regresso do rio
Duas bonitas proas de embarcações com diferentes origens, saudosas da participação, já se sentem isoladas.
Uma portuguesa e uma galega

Fotografias da autora do Blogue
Ílhavo, 5 de Junho de 2016
Ana Maria Lopes

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