segunda-feira, 13 de junho de 2016

Homens do Mar - Capitão Augusto dos Santos Labrincha - 10

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Éramos vizinhos, com uma casa de permeio e um beco – um dos becos de Ílhavo. Pelas traseiras, menina e muito moça, lá conseguia ir até casa da Zerinhas e por lá ficava uns bocados, pois ela também era amiga da minha prima Milú, que, às vezes, me levava ao laró.
Zerinhas, sim, isto é, Maria dos Prazeres Valente Labrincha, cujo pai era o Capitão Augusto dos Santos Labrincha (1899-1982) e a mãe, Maria Valente Labrincha.
Ao procurar a notícia da «partida» do capitão Augusto Labrincha, no jornal O Ilhavense, que sempre faço, fiquei a saber que, além de pessoa bondosa e afável, que já sabia, enquanto piloto do lugre bacalhoeiro Infante de Sagres, capitaneado pelo ilhavense Fernando M. Lau, em 23.5.de 1927, salvou em pleno Atlântico, o Marquês de Pineda e mais dois compatriotas.
Pelos seus doze anos, o que acontecia quase todos os ílhavos, com familiares no mar, teria ido de moço de câmara com algum parente. Era geracional, em Ílhavo. E lá terá ido cumprindo o seu percurso, até que, em 10.8.1926, se tornou 3º piloto.
Folheando pacientemente todos os artigos Eles lá vão para os Bancos da Terra Nova, Sobre as águas do mar… Deus os leve e Deus os traga!, Boa Viagem!, Aquelas Naus…. Relação dos Navios que, este ano, vão à peca do bacalhau, etc., do jornal O Ilhavense, com alguns hiatos, de início, consegui repescar que foi piloto dos lugres Silvina, em1922, do Algarve 5º, em 1926, do Infante de Sagres, em 1927 e 28 e em 1929, do lugre Rainha Santa, da Firma Pascoal & Cravo, capitaneado por seu parceiro António Marques.
Na viagem de 1936, tornou-se capitão do lugre Corça, pertencente à Parceria Geral de Pescarias, que foi vendido após essa campanha, tornando-se no lugre Granja.

O Corça, na Terra Nova. S/d

Capitão no Corça. 1936

Entre vida familiar com gostos e desgostos, como todos nós, a vida profissional lá foi andando, conhecendo o sabor salgado de vários navios.
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Nos anos de 1937 e 38, comandou os lugres Neptuno II, no de 1939, o Gamo e no de 40, o lugre Hortense. 

No Gazela, 1937 – Augusto Labrincha, João Campos Pereira, António dos Santos e imediato do Gazela, Júlio Paião
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E em 1941/42 e 43, surge-lhe o comando do famoso lugre-patacho Gazela Primeiro, o navio mais famoso da Parceria Geral de Pescarias.
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De 1944 a 49 (inclusive), volta ao comando do lugre Hortense, de malogrado destino.
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Entre 1950 e 53 (inclusive) esteve à frente do lugre com motor Adélia Maria, que foi lançado à água a 24 de Abril de 1948, nos estaleiros da Gafanha da Nazaré para os armadores Ribau & Vilarinhos. Durou vinte anos. Naufragou, por incêndio, no Virgin Rocks, em 1968. 

Adélia Maria, a arder, em 1968

Em 1953, durante a cerimónia da Bênção, foi condecorado juntamente com os capitães ilhavenses, João Grilo, António Marques e o irmão, João dos Santos Labrincha (Laruncho).
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Em 1954, estreou o navio-motor, em aço, Capitão José Vilarinho, construído nos Estaleiros Navais do Mondego para José Maria Vilarinho, com sede, em Aveiro.
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Lá pesquei, não foi fácil, uma imagem de Augusto Labrincha, de boné de lado, a bordo do Capitão José Vilarinho, em 1955, a apontar o bacalhau pescado, à chegada dos botes. Neste tempo, já seria numa pequena agenda ou ainda numa tabuinha de madeira, como de início?

A bordo do Capitão José Vilarinho, em 1955, a apontar o bacalhau pescado
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Depois de sete viagens a bordo deste navio, deixou o mar, para viver uma vida sossegada, descansada e calma, junto da família, encontrando-se com oficiais do seu tempo, para a chalaça, perto da Farmácia do Manuelzinho, no Café Central, central, porque o era, onde jogavam cartas ou dominó ou no jardim Henriqueta Maia, no centro da então vila, quando ainda era hábito passear-se ao domingo, em volta do jardim, quando ele ainda tinha flores, que, entretanto, murcharam.
Também era obrigatória a ida à barbearia do senhor Leopoldo. Bom ponto de encontro. Lá «pescava-se mais bacalhau» que no Grande Banco da Terra Nova e Groenlândia juntos.

Pelos anos 70, o descanso dos guerreiros: Capitães Adolfo, Augusto Labrincha e Salta
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Fotografias – Arquivo pessoal e gentil cedência da Família do Capitão
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Ílhavo, 09 de Maio de 2016
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Ana Maria Lopes
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1 comentário:

vieira da silva disse...

Gostei de continuará a aprender e a recordar alguns pormenores destes textos valiosos. Obrigado.