sexta-feira, 17 de abril de 2015

Rotas lagunares - de passageiros

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O mercantel foi a barca, por excelência, de transporte de passageiros, a partir do século XV, entre os diversos centros urbanos, entre os quais não havia ligações terrestres. Inês Amorim, in Aveiro e sua Provedoria no século XVIII, refere um extenso número de locais onde havia barca da passagem – Serém, S. João de Loure, Lamas do Vouga, Pessegueiro do Vouga, Almiar, Óis, e Aguada, isto no interior dos rios. No litoral, para lá da carreira Ovar-Aveiro, refere Soza e Pedricosa.
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É bastante conhecida uma gravura de mercantéis no Rossio, em Aveiro, datada de 1877 que tiveram o seu auge até meados (sétimo decénio) do século XX.

Aveiro, no Rossio, em 1877

O último mercantel construído pelo Mestre Lavoura, em Pardilhó, para serviço, foi em 1973. Em 2001, o Mestre Esteves, também de Pardilhó, construiu o último mercantel tradicional, para exibição na Sala da Ria do Museu Marítimo de Ílhavo.
De Aveiro para Ovar e vice-versa, havia carreiras diárias de mercantel, durante a noite, que eram das mais importantes, custando o preço da viagem Ovar-Aveiro, a quantia de 100 réis.
Como a viagem era longa e pouco confortável, mesmo à chuva e ao frio, de Inverno, havia quem alugasse a proa, por um preço mais elevado, se ainda não estivesse reservada.
Com irregularidades no cumprimento de horários e  preços tão elevados, o Governador Civil de Aveiro (em 1854) chegou mesmo a intervir no assunto.

Algures, na ria, com passageiros

Com saída de Ovar, em 1843, havia diversos fretes de mercantel, com destino à Torreira, a S. Jacinto, a Aveiro, a Águeda e à Costa Nova, sendo este de ida e volta, com preços diversos, em estação alta e baixa, bem mais elevados que a barca da carreira. 

Transporte lagunar, em Aveiro, século XIX

Claro que a curta travessia, que nos meus tempos de rapariga me era mais familiar era a passage da Costa Nova para a Gafanha da Encarnação e respectivo regresso. Frequentando a escola primária, à época (em 1951), na, então, 3ª classe, na Costa Nova, até o exame me obrigou a ir prestar provas à Gafanha da Maluca, de barca. Que satisfação! E com que saudade o recordo!
 
Costa Nova. A nova MOTA. 1941

Não quero concluir sem referir que os mercantéis chegaram a transportar passageiros reais:
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A rainha D. Maria II, aquando em visita ao norte do país, deslocou-se do Carregado (Ovar) a Aveiro, com o seu séquito, em cinco mercantéis, primorosamente decorados, em 23 de Maio de 1852.
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Foi também em mercantel feito bergantim real, que D. Manuel II, em 1908, em visita a Aveiro, se passeou, em visita à barra, conforme documentam as fotografias da época, in D. Manuel II e Aveiro, de Armando Tavares da Silva, publicado em 2007.

Séquito de D. Manuel II, em 1908

Fotos retiradas do Google e cedidas por amigos
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Ílhavo, 17 de Abril de 2015
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Ana Maria Lopes
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2 comentários:

Anónimo disse...

Há dias, aqui comentei mais este magnífico naco de cultura, dando meus parabéns à autora do blog.
Como agora verifico que nada ficou registado, muito menos por qualquer falta de moderação no então dito, e por uma questão de justiça, mais uma vez aqui estou a reiterar meus parabéns.
Cordiais saudações marinheiras,

Al bino Gomes

Ana Maria Lopes disse...

Caro Amigo Albino:
Há qualquer coisa nos seus e meus comentários que não «atinam» muito bem. Não sei porquê. Sempre que leio um comentário seu, dou-lhe entrada e sempre que tenho tempo, respondo. Mais uma vez agradeço e queira desculpar «qualquer coisinha». Cumprimentos.