segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A famigerada bateira erveira de Canelas...no MMI - 1

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(Esclarecimento)

Sobre a famigerada bateira erveira de Canelas, como Senos da Fonseca a trata, no seu último blogue Arquitectura Naval Lagunar, Bateiras, II parte, pensei se lhe havia de responder, não concordando inteiramente com algumas das afirmações que faz. Ter dúvidas é  salutar; sabendo eu que gosta que haja opiniões discordantes das suas, eis as minhas, com as quais pode não concordar:
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Em primeiro lugar, não tenho nenhum cargo oficial ligado ao Museu, presentemente; são heranças do passado (não haja confusões), mas o Sr. Engenheiro saberá(?) que aquela classificação foi feita por mim, já em 1995, aquando da inauguração da Sala da Ria em 25 de Novembro de 1995. E continuou na actual, no edifício renovado e remodelado, tendo-me tudo passado pelas mãos.

É muito natural com o feitio que me conhece das impressões marítimas e livreiras trocadas, que logo tenha imaginado que eu não deixaria de ir ao terreno, saber e ver o que se estava a passar lá por Canelas. Poderia ter-me enganado, poderia a classificação de D. José de Castro de 1943, em Estudos EtnográficosAveiro, estudo notável que muito prezo, ter influenciado a opção da nomenclatura que adoptei. Errare humanum est

Mas, a bem da classificação do património, voltei a Canelas para falar com Manuel Pires (n. em 4.2.1952), que trabalha, por gosto e jeito, em reconstrução de caçadeiras, quando tem que fazer e lhe sobra tempo do seu emprego fixo na Portucel e da agricultura.

É filho do construtor Arnaldo Domingues Rodrigues Pires (1921-1997), com quem conversei demoradamente por volta de 1985 e com quem estive mais vezes. O Ti Arnaldo trabalhou uns bons anos com o Mestre Luciano Garrido até 1970. Entretanto, estabeleceu-se num acanhado estaleiro onde me recebeu, ajudou a construiu muitos «barcos de Canelas» (longe ainda de eu estar no Museu), designação genérica por que também eram  conhecidos, em Canelas e Salreu.
Construiu a embarcação em causa em 1964 e ofereceu à própria instituição de Ílhavo, os moldes com que a construiu e que lá são exibidos. Dá a entender que o tipo de construção «encerrara», com a doação dos moldes.

A embarcação, na altura, estava no activo, mudava gado, transportava pessoal, transportava ervas, apanhava moliço e levava os seus proprietários até ao S. Paio. Mede 10. 00 metros de comprimento, 2.00 metros de boca e 0,48 m de pontal.

Barco de Canelas

Constatei que era emblemática em Canelas, porque não tendo nenhuma embarcação do «antigamente» que representasse o povo trabalhador, a Junta de Freguesia, em protocolo com a CME, mandou construir este exemplar, visitável,  a colocar, além, numas valas de água doce. Ainda permanece em casa do construtor, porque as valas, por agora, estão muito secas.

As suas medidas sofrem algumas alterações, devido à viagem que ele terá de fazer entre valas, e no resto, tinha umas ideias das construções do pai; já alguns moldes, os de roda da proa e popa construiu-os  novos, vê-se pelo estado e coloração da madeira e fez muita coisa a olho - testemunhou-me.



Portanto, as medidas sofrem um pouco do estado de conveniência do local para onde vai. Roubou-lhe, sobretudo ao comprimento, passou a ter 8, 82 metros, 2, 07 m de boca ,e de  pontal, 0, 55 m.

Nº de cavernas – 14 + 2 pares de golfiões elevados, à proa e à ré e outro par, à ré, à face, os do cagarete.

Tem bordo, com cinta e draga, para facilitar o percurso ao longo dele.

(Cont.)

Imagens – Do arquivo pessoal da Autora

Ílhavo, 3 de Outubro de 2011

Ana Maria Lopes

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