sábado, 2 de dezembro de 2023

Rotas Lagunares - Introdução

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Este tema implica regredirmos no tempo, o suficiente, e não é assim tanto, em que a laguna era a grande auto-estrada líquida, pois não havia rotas terrestres, na zona, que pudessem transportar mercadorias e passageiros.

As rotas lagunares estão forçosamente ligadas às embarcações – mercantel, (saleiro), moliceiro, bateira moliceira, bateira do junco e bateira berbigoeira, que mais tarde passou a ser mercantela.

A primeira conversa do grupo uariadeaveiro, em colaboração com a Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro, iniciou-se pelo tema “As embarcações e as rotas na Ria de Aveiro”, entregue aos palestrantes Senos da Fonseca, eu própria e Helder Ventura, tendo tido  lugar a 12 de Fevereiro de  2015. Já lá vão 8 anos.

Senos da Fonseca ocupou-se das principais embarcações lagunares, as maiores, situando o seu aparecimento, de acordo com as necessidades dos utilizadores e a evolução geográfica da laguna, que considerou formada, a partir do século IX. Referido o principal por Senos da Fonseca sobre as embarcações, fiquei com o caminho aberto para me deter sobre as principais rotas lagunares, já que o tempo concedido para tal, era fugaz.

Talvez possamos considerar, sem cometer nenhuma infidelidade histórica, o mercantel como uma das primeiras embarcações de fundo chato, nascida nos tempos modernos (depois dos séculos XV, XVI) construída para sulcar a laguna, servindo vários projectos.

De facto, teria sido o mercantel, a embarcação (comummente designada por barca) que terá servido, tão eficazmente, de vários modos, a economia lagunar.

Houve necessidade de fazer evoluir, uma nova embarcação de fundo chato, que calasse pouca água e que albergasse cerca de 15 toneladas, que se adaptasse à condição geográfica lagunar, que aproveitasse para sua propulsão, os ventos mais dominantes desta região, o norte e o noroeste, para navegar de popa (fazer popas) ou para bolinar (navegar à bolina), avançando contra o vento, aproveitando-o, na sua vela latina quadrangular, mais tarde. 

Assim nasceu o mercantel.

É bastante conhecida uma gravura de mercantéis no Rossio, em Aveiro, datada de 1877. Tiveram o seu auge até meados, (sétimo decénio) do século XX.

Anteriormente, teria havido umas barcas de rio acima, idênticas, quantas vezes abicadas à proa e a ré, de vela tosca de pendão que aproveitavam a brisa matinal do rio e a corrente, para subirem e a brisa da tarde para descerem, trazendo outras mercancias de lá para cá, necessárias, como madeirame, vinhos, e produtos diversos artesanais para feiras.

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Barcas de rio acima de vela de pendão

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Nos rios Vouga, Águeda e Cértima, são referidas nas Memórias Paroquiais escritas pelo prior de Águeda, em1758, umas barcas semelhantes, que transportavam rios acima, mercadorias, sobretudo sal e peixe, também para o cais de Águeda e para os portos secos, locais para onde era distribuído o sal por outros pontos do país.

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Barcas em Águeda, em 1920

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A estrada norte/sul mais próxima passava por Águeda, Mealhada e Albergaria.

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Ílhavo, 2 de Dezembro de 2023

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Ana Maria Lopes

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