domingo, 5 de março de 2023

"Molinete" do "Faina Maior", em 2009

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Na senda do programa “O Meu Museu”, que iniciei, a convite do director do MMI, Nuno Miguel Costa, muitos episódios me assolaram a memória e este foi um deles – a história do molinete.

“Certo dia, quando o nosso saudoso amigo Capitão Francisco Marques terminava a construção do Faina Maior” e com grande satisfação me foi mostrar o seu trabalho, perguntei-lhe se não pensava instalar-lhe um molinete. Ele olhou para mim e, com amargura, disse-me que não se sentia com forças para isso. Não mais se tocou no assunto.

Mais tarde, já em Lisboa, conversei com o amigo Dr. Manuel Leitão, que, com a sua sempre pronta solicitude, logo me apresentou um conjunto de desenhos detalhados dos molinetes que se usavam nos palhabotes de Gloucester. Era completamente igual ao que eu conhecia do “Gazela”, só que de dimensões apropriadas a um navio como o Faina Maior”.

Guardei estes planos, mas não falei no assunto a ninguém, por não ter oportunidade.

Construi, então, uma maquette à escala e apresentei ao Sr. Director do Museu e ao Sr. Presidente da Associação dos Amigos do Museu a ideia da sua possível construção.

A minha proposta foi aceite em reunião da AMI e o Dr. Aníbal Paião, de imediato, deu ordem para a iniciação dos trabalhos, pondo à disposição as oficinas, os armazéns e o apoio logístico necessário para se dar início à obra.

Contactei o mestre José Vareta, a quem mostrei os desenhos e a maquette, para saber se estava disposto a dar seguimento a esta tarefa.

Observou tudo com atenção, e aceitou o trabalho, com a condição de ter apoio do serralheiro para acompanhar e executar os trabalhos em metal, para os transportes e suporte financeiro para a aquisição das madeiras necessárias.

O trabalho começou e logo se mostrou a todos os que o acompanharam, de uma atracção invulgar.

Foi bom voltar a ver riscar, serrar, unir e dar forma àquelas grandes peças de madeira que, dia a dia, iam mostrando as colunas, o tambor e as bonecas que começavam a dar vida à “velha” peça feita agora de novo.

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Na Pascoal…
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Depois, voltámos a ver trabalhar a enxó de ribeira, guardada há tantos anos, mas que o mestre ainda manobrava com mestria.

Começava o acerto das ferragens que, depois de devidamente aplicadas, davam movimento ao nosso molinete.

Trabalhava, rodava e até “cantava” como os seus “irmãos” a bordo dos navios.

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No MMI…
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Chegava o dia de partir para o seu lugar e lá seguiu desmontado na camioneta que o levou até ao Museu de Ílhavo, onde o mestre Zé Vareta, que já tinha construído o “Faina Maior” ia agora terminar o seu trabalho colocando no castelo de proa o molinete para virar a amarra».

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No MMI…
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28.4.2009 – António Marques da Silva

 

Fui acompanhando o trabalhado, sempre com curiosidade e entusiasmo, e fotografando as suas diversas fases.

Mais uma vez, estamos muito gratos ao Amigo Marques da Silva, pela boa vontade, espírito de pesquisa, saber e paciência.

Obrigada, Capitão Marques da Silva!

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Ílhavo, 5 de Março de 2023

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Ana Maria Lopes

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