sexta-feira, 17 de junho de 2022

MOLICEIROS A MEMÓRIA DA RIA

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“Foi a melhor homenagem que te podiam ter feito” – alguém opinou junto à ria, perante o painel de proa de BB do moliceiro “S. Salvador”.

Parece que sim, respondi. Será? Singela, mas muito sincera, por parte José Oliveira (Zé Manel), com a anuência da proprietária da embarcação, Maria Emília Prado Castro. Sensibilizou-me, sem dúvida.

Vou andar a vogar pela ria, em quadro flutuante, pelo menos, por uns tempos. E mais não digo.

Conhecemos o Zé Manel, pintor, eu e o Miguel, em 1989, enquanto pintava o moliceiro «JOÃO MANUEL», A 2040 M, em terreno verdejante e arenoso, à beira ria, foto nº 129, reproduzida em “Moliceiros – A Memória da Ria” (2ª edição).

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O Zé Manel a pintar em 1989, à beira-ria…
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Segui-lhe a execução com entusiasmo, indo três tardes à Torreira, frente ao Museu-Estaleiro, um dos mais belos recantos da ria, para reter o seu desenvolvimento, nas diversas fases de execução. Inspirado numa fotografia, depois de os painéis já delineados e pintados a verde, vermelho e amarelo (belas cercaduras florais), surgiu o esboço do rosto por decalque em papel vegetal.

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Pintura das cercaduras florais
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Passados dois dias, o rosto já decorado, em tom rosa cárneo, cabelo branco revolto, óculos delineados ao pormenor, já se identificava a pessoa, por quem a conhecesse. Sobre a ria e céu azuis, alguns moliceiros, lateralmente, enquadravam a figura central.

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Motivo central a  meias tintas…
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Na terceira tardada, a pintura está quase concluída. Muito trabalho, na nossa ausência tinha sido feito, pois o moliceiro tem mais três painéis e mais alguns adornos em locais de referência. Com a Etelvina de assistente e boa companhia, presenciámos a técnica do “sombreado” a preto, tão importante, com “o biquinho de pardal”, pincel de cerdas muito fininhas, que transmite o realce final à decoração.

Para terminar, a legenda, em tetras maiúsculas e entre aspas, como é hábito, sobre tira de fundo róseo – «MOLICEIROS – A MEMÓRIA DA RIA», o grande livro, vivido, pesquisado e escrito por mim, com o maior dos entusiasmos e fotos do meu filho Paulo Godinho, um jovem à época, com o entusiasmo próprio da idade.

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Pronto, com a “modelo” por perto
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Já posso “partir” para a outra margem, à falta de “barca”, navegando sobre a ria, em painel flutuante de moliceiro. Muito grata ao Zé Manel, que conheço há 33 anos e de quem tenho acompanhado o percurso, com alguma regularidade, até hoje, quer em painéis pintados de novo, quer como júri de painéis de moliceiros, desde 1988.

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Painel flutuante, pronto a navegar 
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Ílhavo 17 de Junho de 2022

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Ana Maria Lopes

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