segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Tragédias marítimas ... que enlutaram a nossa terra...


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Como já referi, muito mais do que pensamos, se perderam gentes ilhavenses no mar. Em qualquer dos mares, que é todo um. 
Sabendo que dois amigos meus, irmã e irmão, perderam o Pai num naufrágio, há mais de 50 anos, na altura, não lhe dei o merecido valor da perda.
Agora, que pondero mais os factos e os aprecio mais, lembrei-me de ir revirar os jornais da época, para saber se a notícia tinha sido dada e com que profundidade a tinham tratado. 
E no jornal «O Ilhavense» de 10 de Dezembro de 1965, está-se a aproximar o aniversário, dei de caras com o que pretendia.
Na primeira semana do corrente mês, há 53 anos, Ílhavo saiu enlutado de uma grande tragédia marítima.
Havia desparecido o velho cargueiro «João José I», naufragado ao norte do Furadouro, na sua viagem de Lisboa ao Porto, nos fins de Novembro. Vapor onde navegavam 9 homens, que perderam a vida, sendo de Ílhavo, o cozinheiro, Manuel Francisco Grilo, de 45 anos e o motorista, Leopoldo dos Santos Barreto, de 60 anos, homens muito admirados e estimados pelos camaradas pelo seu profissionalismo e capacidade de trabalho.
O cargueiro «João José I», antigo Merwestein, que o capitão João Cândido Cristiano comandou durante muitos anos, fazia viagens de cabotagem sob o comando do capitão cabo-verdiano, Manuel da Silva.

O cargueiro «João José I»
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Saíra de Lisboa para o Porto e a quatro horas de Leixões ainda o capitão comunicava com a esposa, dizendo-lhe que o navio estava a meter água. Nada mais se soube. E esta tragédia marítima poderia ter ficado por aqui…
Teria sido melhor? Pior? Esperou-se um dia, outro e outro, até que…
Cenas muito chocantes se seguiram.
Deu à costa, perto de S. Jacinto, o corpo do desditoso cozinheiro ilhavense Manuel Francisco Grilo de 45 anos, casado com Alzira Chibante.
O coração da família dos outros tripulantes desaparecidos apertou-se mais um bocadinho, numa esperança … de quê? Seria sempre uma má esperança, que talvez diminuísse um pouco a dor da perda. Seria? Não faço ideia, nem opino sobre tal…
Na manhã do dia 6 de Dezembro, encontrado por um pescador madrugador, apareceu arrolado o corpo de Leopoldo dos Santos Barreto, na praia da Costa Nova, um pouco ao norte da casa do conhecido, à época, Dr. Ferreira da Costa. O desafortunado motorista era casado com Júlia Vidal Figueiredo (Mariazinha) e pai da Maria Alice e do Júlio Barreto, meus amigos, e, ao tempo, respectivamente, professora do Externato de Ílhavo e finalista do Instituto Superior Técnico de Lisboa.
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Leopoldo Barreto
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Perante a cena traumática e arrepiante e cumpridas as disposições legais, o corpo, depois de colocado numa urna, foi velado, na Costa Nova, na sala da casa «das Rolinhas», irmãs do capitão Salta e daí para o cemitério de Ílhavo, em funeral, no dia seguinte.
Leopoldo Barreto andava há cerca de 34 anos no navio, que lhe havia servido de sustento para si e para a Família. Nele, agora, encontrou a morte.
O jornal «O Ilhavense» lastimou o sucedido, desejando que as famílias dos desditosos marinheiros encontrassem a resignação para o desgosto que as feriu perante perda tão dolorosa.
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Ílhavo, 03 de Dezembro de 2018
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Fotos cedidas pelos filhos
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Ana Maria Lopes-


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