quinta-feira, 3 de março de 2016

Homens do Mar - Francisco da Silva Paião - 4


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Desta vez, «vem à baila» o grande Capitão Francisco da Silva Paião, conhecido por Capitão Almeida, aqui, em viagem no Argus, em 1965, junto do seu fiel guardador de bordo, o Zulu, – cão de água – era hábito, em foto de autor desconhecido. Quem não se lembra da sua figura generosa, simpática, nos últimos anos, vergado pela dureza da vida – 53 anos de mar.
Quantas vezes o recebi no museu e com ele conversei, com o merecido carinho!!!
Nascido em Ílhavo (1903-1997), tinha como irmãos Manuel Silva Paião, António Trindade da Silva Paião, Adolfo Simões Paião, Júlio Silva Paião e Maria Celeste Paião, se memória não me atraiçoa.
Casou com a Senhora D. Berta Teles, que conheci bastante bem. Eram praticamente meus vizinhos, ali, na Rua de Camões.
Segundo uns apontamentos seus que me chegaram às mãos, enquanto praticante, foi torpedeado na 1ª Grande Guerra Mundial, a bordo do Atlântico, 30 de Setembro de 1918.
Entre estes dois anos, terá feito algumas viagens como piloto no comércio, no vapor Mourão, Maria Amélia e no iate Tricana do Porto.
Fez uma viagem, como piloto, em 1921, no lugre Venturoso, de 4 mastros, da praça do Porto.
Iniciou a actividade da pesca do bacalhau como piloto do lugre Lusitânia (Figueira da Foz) no ano de 1922, actividade que exerceu até 1926.
Em 1927 e 28, pilotou o lugre Leopoldina, também da praça da Figueira.
Depois da viagem de 1929, a bordo do AVE, do Porto, transitou em 1930, para o histórico lugre-patacho Gazela, onde fez uma viagem como primeiro piloto, seguida de outra, em 1931, no Neptuno II.
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Intervalou a sua entrada na Parceria Geral de Pescarias, no Barreiro/Lisboa, com uma viagem de 2º piloto no vapor Maria Amélia.
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Retomou a Parceria, e, desta vez, definitivamente, como capitão do Argus velho, assim foi conhecido, construído em Dundee, em 1873, que veio a ser o meu homónimo «Ana Maria», da praça do Porto.
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A bordo do Gazela, entre 1937 e 1940
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E retomou o lugre-patacho Gazela, ao tempo, como capitão, entre 1937 e 1940, seguindo-se o malfadado Hortense, entre 1941 e 43, o famoso lugre Creoula, hoje o célebre NTM, de 1944 a 1957 (inclusive), para ultimar a sua carreira como capitão do afamado Argus, entre 1958 e 1968.
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A bordo do Argus, em 1958
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O tal Argus!!!!, construído em 1939, na Holanda, que fez viagens turísticas nas Caraíbas com o nome de Polynésia, e que todos conhecemos bem, à espera da sua sorte, atracado ao cais dos bacalhoeiros da Gafanha da Nazaré.
Deu baixa à Caixa da Marinha Mercante, após a viagem de 1968, com 65 anos de idade.
No intervalo das viagens ao bacalhau, fez algumas deslocações no Hortense à ilha de S. Miguel, Açores.
Ainda deixou alguns relatos de viagem, cerca de uma vintena, que chegaram a ser publicados no jornal O Ilhavense, durante os anos 80.
Ainda teve a paciência de nos deixar elementos, que, cruzados com outros, mos permitiram fazer este apanhado da sua longa e tormentosa vida de mar.
E além dos registos escritos, legou-nos alguns clichés, fortíssimos, e de rara beleza. A máquina fotográfica seria muito elementar para a época, mas os resultados congelaram excelentes imagens no tempo.
Era o decano da sua classe, nesta terra de marujos e mar, em Portugal. Dele escreveu Priscilla Doel no seu livro Porto’ Call… «o capitão Almeida tem um estilo de vida talvez dos mais exemplares e dignos, tendo sido sempre respeitado por toda a gente».
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Foi este o Capitão Almeida que conheci e cujos relatos ouvi, sempre sobre assuntos marítimos. Almeida que conheci e cujos relatos ouvi, sempre sobre assuntos marítimos.
Ílhavo, 20 de Fevereiro de 2016
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Ana Maria Lopes
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