sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A bateira erveira de Canelas - I

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Existe na Sala da Ria do MMI uma provocadora embarcação, completamente negra, e último exemplar genuíno da Ria. Já foi referida a propósito do modelo à escala que o Sr. Capitão Marques da Silva fez dela.



Na Sala da Ria do MMI


Mas, para mim, tem uma história muito mais especial.
A bateira erveira de Canelas, com registo de ervagens, é assim conhecida por Domingos José de Castro, por bateira moliceira ou de Canelas por Lamy Laranjeira e por moliceiro de Salreu por Octávio Lixa Filgueiras.
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“Namorei-a” durante anos, quando ainda nem sequer imaginava vir a ser directora do, à época, Museu Marítimo e Regional de Ílhavo, portanto, antes da década de noventa. Sempre que passava para o Porto, de comboio, uma excêntrica embarcação, a A 486 H, no esteiro de Canelas, quando ainda era navegável, atraía-me.


Bateira erveira de Canelas – Anos 80


Mais tarde, já pensava que havia de a conseguir para integrar o espólio da Sala da Ria. E assim foi – é a bateira erveira de Canelas que lá está.

É uma embarcação cujas linhas lembram exactamente um moliceiro, de que parece ser uma fiel miniatura. Com cerca de 9 a 10 metros de comprimento, 40 centímetros de pontal, 1,30 metros de fundo entre as cavernas e 2 metros de boca, a bateira erveira de Canelas tem 14 cavernas e é completamente embreada a negro, por vezes, enfeitada com umas pintas brancas, feitas “a carimbo”. Era construída em pinho com cavernas de carvalho e oliveira, que resistiam mais às águas paradas de Canelas, que apodreciam a madeira com muita facilidade.

(Cont.)

Ílhavo, 7 de Janeiro de 2011

Ana Maria Lopes
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2 comentários:

fangueiro.antonio disse...

Boa noite.

Muito interessante este exemplo de um barco da ria, pois vejo nele um detalhe curioso: as pintas brancas. Encontro exactamente o mesmo motivo pintado em pequenos barcos de pesca, do "tipo poveiro", em fotos antigas de Leça. Das muitas fotos que tenho, várias vezes me questionei sobre a estranheza do barco cheio de pintas brancas a toda a longitude do mesmo, tal e qual no bordo superior e quase à linha de água.
Será apenas coincidência, ou "homens da água" que migraram e copiaram tal motivo?

Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt

cristina andrade disse...

Boa tarde!

Fiquei bastante emocionada com este post, pois sou neta do Ti Manel da Fonte como era onhecido na região e sou a filha do José Luciano, mais conhecido por Zé da Fonte ...Era pequena na altura em que a Drª Ana Maria Lopes "namorava" o meu avô ... lembro-me como se fosse hoje da azafama que era arranjar o barco para a grande viagem do ano o S. Paio da Torreira. Bem haja à Drª, em nome de toda a minha família.