
Texto de Joana Martins.
Actuação do Grupo de Fados Raízes de Coimbra, Luís Góis, Jorge Tuna, Durval Moreirinhas e outros.
Sobre o mesmo assunto, poderá consultar Livro Jorge Godinho.
Ílhavo, 28 de Setembro de 2008
Ana Maria Lopes
"Marintimidades" foi criado para falar das coisas do mar, da ria, de embarcações, de artes, de museologia marítima e de eventos que surjam dentro desta área, publicitando-os, e sobre eles detendo um olhar...
Nas belas proas dos moliceiros…
As participantes na folia eram Maria Manuela Vilão, Rosa Maria Moura, Eneida Viana e eu.
E hoje, o que é que temos? A procissão, o fogo de artifício, uma feira infernal e pouco mais. Por vezes, com a intervenção aparatosa da A.S.A.E.
No entanto, ainda se vai passar à Costa-Nova a Senhora da Saúde. Nem gosto, sequer, de ver a casa fechada. Tradição…apesar de já não ser o que era. É a que temos. É para respeitar e tentar transmitir…
Imagens – Arquivo pessoal da autora
Costa-Nova, 24 de Setembro de 2008
Ana Maria Lopes
Creoula atracado, na sua elegância…
Os objectivos, dessa vez, no dia 18, foram uma visita especial da tripulação à Exposição Faina Maior, o lançamento de uma colecção limitada, de três pratos comemorativos da Exposição, em porcelana Porcel, com os motivos: Lugre “Creoula”, Alando o Trol e Clareando Cabos.
No dia 19, foi a entrega da palamenta de um dóri, preparada por uma equipa do “Museu”, tendo-nos sido muito úteis para tal trabalho o saber e prontidão de Francisco Ramos e Manuel Chuvas (Rupio). Eram impecáveis, sempre que os seus serviços marítimos artesanais eram solicitados. Nenhum pormenor era esquecido.
O Creoula tinha dóri, mas faltava-lhe toda a palamenta: remos, com as respectivas forras de couro e pinhas de anel, um par de forquetas com os respectivos estropos, os quetes da proa e da ré, alças da proa e popa, alça da escota, mastro, vela, vertedouro, búzio, foquim, faca e balde de isco, gigo, linha de mão, rile, linha da zagaia, nepas, pino, tortor, bicheiro, desmbuchador, trol e respectivo cesto, grampolim, balão, ferro, polé e pingalim. Tudo isto, "o museu conseguiu" com maior ou menor esforço, para aparelhar o dóri do Creoula, fielmente, a preceito e “à moda antiga”. Nada podia faltar.
A destreza dos dois “velhos lobos-do-mar” o Chico Ramos e o Rupio, ao manusearem a linha, estralhos e anzóis, não fazia crer que tantos anos já haviam passado. Saber de experiência feito, que não esquece…
Além disso, a tripulação teve o prazer de conviver com antigos oficiais do navio, num encontro emotivo de gerações distintas, vocacionadas para o mar.
Da esquerda para a direita, em planos alternados: João Sílvio, José Leite, João Fernandes Matias, José Negócio, Elmano da Maia Ramos, Francisco da Silva Paião (Capitão Almeida), Francisco Marques, Comandante Sá Leal e Marques da Silva.
Mais uma vez, os oficiais de Ílhavo estiveram grandemente presentes no comando deste navio emblemático, enquanto lugre da pesca do bacalhau.
O Comandante Sá Leal aprecia a “obra”
Dado o bom relacionamento entre o navio Creoula e o museu, este aproveitava a itinerância do navio para a divulgação do nome desta instituição museológica. Acordou-se, então, preparar uma exposição para bordo do Creoula, a ser inaugurada no porto da Gafanha da Nazaré, no ano seguinte.
Desta empatia nasceu o bom relacionamento que subsiste entre Creoula e Ílhavo/Museu.
Tal como hoje, por coincidência, o Creoula também se encontra cá, chegado de Lisboa, para sair no dia 23 e se integrar na Regata dos 500 Anos do Funchal. Bons ventos e boa viagem!
Fotografias – Arquivo pessoal da autora
Ílhavo, 19 de Setembro de 2008
Ana Maria Lopes
A importância deste acontecimento para Ílhavo
Campanha do Argus – 1950 – Alan Villiers
Embora eu tenha algum receio de multidões, tenciono usufruir ao máximo do privilégio de ter em casa os grandes veleiros para visitar, proporcionando-nos, espectáculos de rara beleza. Faça o mesmo, pois viverá momentos inesquecíveis.
Bons ventos e boas marés para todos!
Imagens – Arquivo pessoal da autora e do Comandante João Reinaldo
Ílhavo, 14 de Setembro de 2008
Ana Maria Lopes
Um pouco da história destas regatas
Alexander von Humboldt – 1906 – Alemanha
Capitan Miranda – 1930 – Uruguai
T S Pelican – 1948 – Reino Unido
Pogoria – 1948 – Polónia
Shabab Oman – 1971 – Oman
Steppe
CLASSE B
Far Barcelona
Tecla
CLASSE C
Gedania
Juan de Langara
Spaniel
Viva
CLASSE D
Challenger 1
Challenger 4
Endeavour
Steppe
À laia de “rebuçado”, para ir fazendo crescer água na boca, aqui fica a imagem de alguns dos mais imponentes grandes veleiros (Classe A) que participam na Regata do Funchal 500 Anos, incluindo o nosso Creoula.
(Cont.)
Ílhavo, 11 de Setembro de 2008
Ana Maria Lopes
Camponesa de Ílhavo – Séc. XIX
Há uns bons 16 anos, tive no museu algumas afáveis conversas com o Arquitecto Quininha, de quem sempre fui amiga, sobre a pintura, trajes e cerâmica expostas. Eram sectores que ele privilegiava, talvez por gostos e saberes, que não eram, nem vieram a ser, sectores fortes, naquela casa: a colecção de pintura é pobre e não criada segundo um estudo prévio, os trajes são praticamente inexistentes e, alguma cerâmica, razoável, recolheu a reservas há já alguns tempos.
Ele gostava especialmente de trajes e sabia muito de ourivesaria. Um dia, quando veio de Lisboa, numa das suas visitas frequentes a Ílhavo, trouxe-me carinhosamente aquele postal da Camponesa de Ílhavo, óleo de F. José Resende, (1825 – 1893), que encontrara à venda no então M.N.A.C. Apreciei-o, guardei-o, mas agora dou-lhe mais valor. O tal quadro vem citado no Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses de F. de Pamplona.
Levou-me a ir confrontá-lo com um outro existente no Museu, algo idêntico. Com a ideia segura que tinha, consultada a colecção on-line de pintura, encontrei-o. – A mulher… também de chapeirão!...
É este:
Camponesa de Ílhavo do Séc. XIX
Francisco Resende – Col. do MMI.
Coincidências: A Camponesa de Ílhavo (o mesmo título), revela-nos o traje da camponesa de Ílhavo, em finais do século XIX. Figura altiva, esta mulher também enverga um chapeirão de aba com lenço, camisa branca, corpete e saia, escuras, e apresenta-se descalça. É um óleo sobre metal de 1875.
O primeiro quadro a que me refiro, que deverá estar nas reservas do actual Museu do Chiado, enriqueceria um pouco mais a nossa colecção, mas as pertenças de cada museu são para se respeitarem, salvo raras excepções de depósitos e cedências.
Segundo descrição de Senos da Fonseca no seu Ensaio Monográfico, a pp. 342 e 343, a lavradeira de Ílhavo (Século XIX) envergava saia de serguilha (fraldilha), colete de fazenda (mesmo de veludo), preso no peito por abotoadura de prata, de par, debruados os botões a cetim amarelo; lenço habitual. Usava uma cinta com que fazia descer ou subir a saia, do meio da perna ao tornozelo. No pescoço, cordão de filigrana.
Algumas semelhanças e alguns pormenores diferentes.
Este primeiro óleo de F. José Resende, talvez, pelas cores empasteladas de uma luminosidade sombria que usa, e pela elegante posição da figura em causa, é de uma nobreza e beleza extraordinárias. Parece demasiado rica e nobre para camponesa. No entanto, está descalça…
Um grande lenço vermelho lavrado, sobre a cabeça, abraça, lateralmente, o chapéu de feltro preto debruado a cetim, de abas bastante largas. Bonita algibeira debruada e brincos compridos de ouro dão um último toque ao vestuário que enobrece a camponesa, segundo a paleta do artista. Não dá para apreciar muito bem se o chapéu, dado o peso da sua aba, tinha fitas ou presilhas que iam da orla à copa exterior, para que as abas não descaíssem.
O grande pintor Francisco José Resende interessava-se mesmo pelo traje da camponesa de Ílhavo – pelo menos, dois quadros conhecidos, parecidos, sobre o mesmo tema…
Mais algumas representações deste género conheço, neste caso, Ílhavas – Vendedoras de sardinha, litografia de Joubert, de meados do século XIX, colecção do MMI., outras de menor qualidade gráfica, o caso do postal do Museu de Ovar, que representa a mulher e o homem de Ovar.
Foi agradável “desenterrar” esta pintura que me levou a relacioná-la e compará-la com outras de que tinha uma memória mais ou menos fresca.
Ílhavas – Vendedoras de sardinha – M.M. de Ílhavo
Aqui fica o registo das minhas cogitações domingueiras… Há sempre algo que motiva a feitura de um blog.
Fotografias – Arquivo particular da autora e imagens on-line do MMI.
Ílhavo, 9 de Setembro de 2008
Ana Maria Lopes
Até o nosso prémio Nobel Egas Moniz no seu livro de memórias A Nossa Casa não deixa de referir o encanto do S. Paio:
Na festa de S. Paio, a grande romaria da gente ribeirinha, a ria coalha – se de barcos que provêm de todas as freguesia marginais. Abundam os moliceiros lindamente embandeirados (…) que formam na Torreira a frota da alegria.
São as famílias e amigos do proprietário do barco que o enchem de raparigas airosas, de olhos escuros e tez morena, e de rapazes desempenados e garbosos, tisnados pela maresia.
O S. Paio é representado pela figura de um menino e está ligado às gentes que fazem da pesca o seu principal sustento, mas não só. Até porque na região a pesca interpenetra a agricultura numa simbiose perfeita do homem com a natureza: terra, ria ou mar. Quem não se lembra do Joaquim Ruivo, exemplo perfeito desta interpenetração? – tem gado e intensa vida de lavoura, no seu moliceiro, pelo menos, apanhava junco e moliço para uso pessoal, trabalha nas reconstruções ou “restaurações” dos barcos como ele lhes chama, decorava barcos e constrói as bonitas cangas vareiras.
A ligação do santinho padroeiro ao vinho, sobejamente conhecida, também terá a ver com a plena época das vindimas, em que a festa se realiza.
Quadra:
Ó S. Paio da Torreira
Ó milagroso santinho.
Hei-de cá voltar p´ró ano
Lavar o Santo com vinho.
Daí a ligação um pouco aberrante da relação entre o divino (as crenças, a fé) e o profano, cenas não das mais recomendáveis que os romeiros são levados a cometer como um desacato mais agressivo ou discussão mais acesa. Tão depressa o peregrino se entrega aos mais profundos actos de devoção, como apanha uma enorme borracheira e pragueja por tudo quanto é canto e esquina. Será em homenagem ao S. Paio milagreiro que transformava o precioso néctar em líquido santificado, segundo uma tradição antiga em que o santo era banhado em vinho?
“S. Paio da Torreira”
“Terás sempre lugar no meu coração”
Mais uma vez, este ano, a romaria do S. Paio já tem programa de festas. São destaques do cartaz: a procissão, o fogo de artifício no mar e na ria, regata de bateiras (à vela), a corrida de chinchorros, as rusgas e a regata de moliceiros. Esta e o concurso de painéis têm lugar no dia 7, domingo, respectivamente às 16 horas e trinta e 10 horas da manhã.
Na segunda-feira, dia 8, dia de S. Paio, às 10 horas realiza-se a tradicional missa campal, seguida da habitual procissão.
Fonte: “Murtosa – Uma terra a descobrir – Romaria do S. Paio da Torreira”, texto de Ana Maria Lopes e Fotografia de Carlos Pelicas
Fotografias do Blog – Arquivo pessoal da autora
Ílhavo, 4 de Setembro de 2008
Ana Maria Lopes