terça-feira, 19 de julho de 2011

Retratos do litoral português - 3

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Nazaré. Anos 60


Homens e crianças varam um barco do candil, ao cair da tarde; mais ao longe, homens e mulheres de crianças ao colo, alam a característica rede da neta.

Era uma Nazaré pobre, mas autêntica. Alavam-se redes e varavam-se embarcações de dia e de noite.
O movimento era ininterrupto.

Esta Nazaré era um alforge de imagens para consagrados fotógrafos estrangeiros, onde colhiam “clichés” que já não encontravam noutra parte do mundo.


Homens e mulheres empurram o barco para o mar


Escreve Álvaro Garrido, em folheto sobre a exposição Fora de Bordo, patente no MMI, espécie de lugar de síntese do ’mar português’, a Nazaré foi o laboratório favorito dos fotógrafos que vieram e voltaram, transmitindo a outros, com certeza, que certas imagens só se podiam ali fazer. Nos anos cinquenta e sessenta, as enseadas e praias de pescadores portuguesas eram lugares de vida e de morte, de conflito e de sobrevivência, espaços de fronteira habitados por tipos humanos que a modernização das pescarias já fizera desaparecer noutras paragens do ‘mundo desenvolvido’. Daí, talvez, a representação visual de sentido exótico que releva de várias fotografias, o privilégio atribuído às mulheres, aos velhos e crianças que em diversas se nota e, noutras ainda, a construção de imagens de tipo naturalista que nos mostram o mar como cenário e as suas gentes como personagens típicas de um certo imaginário etnográfico.

Também de outros pontos do nosso litoral vamos passar a apresentar imagens da mesma época, que consideramos dignas de divulgação.

 
Imagens – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 19 de Julho de 2011

Ana Maria Lopes
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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Concurso de Painéis - 2011

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Pelo que fui sabendo, nunca houve um Concurso de Painéis (a 3 de Julho) tão simples de advogar – apenas cinco (?) barcos moliceiros têm pinturas novas, a saber: o «PARDILHOENSE», o «ZÉ RITO», o «A. RENDEIRO», «ANTÓNIO GARETE» e «DOS NETOS», três dos primeiros painéis, castiços e apelativos “quadros”, da paleta do pintor Zé Manel, e os dois últimos, com um ar mais naïf e menos elaborado, produto de familiares dos proprietários.

Poderia haver, eventualmente, mais um ou outro que eu já conhecesse do último S. Paio, mas que, para Aveiro, poderia ser novo.

Relativamente à classificação do Concurso, de que fez parte um júri rotineiro, mas conhecedor, ficou em 1º lugar, o «ZÉ RITO», em 2º, o «A. RENDEIRO», em 3º, o «JOSÉ MIGUEL», em 4º, o «PARDILHOENSE», reconstruído este ano com enlevo, cujo proprietário é o Miguel Matias. Em 5ºlugar, o «INOBADOR», em 6º, o «DOROTEIA VERÓNICA» e em 7º, o «DOS NETOS».

Eis alguns painéis premiados:

«NÃO ME ESTRAGUES A INTERRADÉLA!...»


«VOU-TE PÔR NA LINHA QUERIDO!...»


«ABRE-ME O TEU LIVRO...»


«FERNANDO EM PESSOA!...»


Predominância dos painéis maliciosos? Talvez não. Para a próxima, divulgarei mais alguns de outras temáticas.
Mais uma regata, mais um concurso. Será difícil, que a próxima, a do Emigrante, no Bico da Murtosa, seja vivida com mais fervor. A ver vamos! Faço votos.

Fotografias – Arquivo pessoal da Autora

Ílhavo, 8 de Julho de 2011

Ana Maria Lopes
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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ventos contrários refrescam Regata da Ria - 2011

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A festa que é anunciada como uma das características da região, realizada no Verão, tem como pano de fundo a Ria. A organização está a cargo da Câmara Municipal de Aveiro, do Turismo Centro de Portugal, da AMIRIA e de outras associações do concelho.

A Regata da Ria (2 de Julho) é ou já foi o ponto alto das chamadas Festas da Ria. Perde em moliceiros, mas ganha em visibilidade…apregoa o D.A. de 28. 6. 2011. Amigos, permitam-me discordar, porque regata que se preze vive das embarcações e dos seus arrais, embora um pouco de publicidade não lhe faça nada mal.
Estavam inscritos dez moliceiros, contra os treze do ano passado e contra os 44 do ano 2001, mesmo já em tempos de crise patrimonial náutica tradicional.

À última da hora, acabaram por se inscrever treze, mas 3 exemplares não respeitavam o tamanho habitual da embarcação. Mais valia que não se exibissem e, muito menos, que nunca os tivessem construído.

Eu sei e todos sabemos que as dificuldades económicas são muitas, e que as despesas avultadas da manutenção dos barcos, sem se alimentarem do seu sustento primitivo, o moliço, levaram muitos proprietários a desfazer-se deles, com mágoa e dissabor. Foi o caso, à laia de exemplo, do «RICARDO SÉRGIO», barco vencedor da corrida do ano passado. O que lhe fizeram!!!!!!!!!!!!!

O «RICARDO SÉRGIO» prestes a cortar a meta, em 2010

Outros, pouquíssimos, entusiastas, teimam, contra ventos e marés, em manter os barcos aparelhados de forma tradicional, eventualmente, para se dedicarem ao turismo, em ria aberta e à vela, sempre que possível. Ventos de feição e boas bolinas!!!!!!!!!!!

Et voilà o cisne da ria, com não sei quê de ave e de composição de teatro! Lírica, desactualizada e não competitiva! Serão adjectivos que me encaixariam que nem uma luva! Dirá o leitor amigo… Olhe que não! Olhe que não!

Em dia semi-nublado soprado por uma lebe arage, a espera dos barcos saturou passantes, curiosos, amigos e familiares, mas vento é vento e a falta dele resulta neste tipo de atraso.

O ambiente não era nada animador pelo Rossio, pelo menos para mim. Ou seria o que o meu olhar alcançava? Melhor não averiguar.
Alguns barcos, que entretanto desistiram da regata, tendo-se deslocado também a motor, foram chegando – o caso do «A.RENDEIRO», na imagem.



Pouco antes das 8 horas da tarde e até às 9 h, chegaram os verdadeiros moliceiros tradicionais, a concurso.

Ocupantes, cansados de esperar, mas encharcados de uma tarde amena de ria, lembram náufragos descobertos. Valeu a pena. Quem corre por gosto, não cansa mesmo!
Vencedores da regata:

1º prémio – «DOROTEIA VERÓNICA», do arrais Gonçalo Vieira.

2º prémio – «ZÉ RITO» do arrais Zé Rito.

3º prémio – «ANTÓNIO GARETE» do arrais António Garete.

4º prémio – «ZÉ MIGUEL», do arrais Jorge Vieira.

5º prémio – «RICARDO SÉRGIO», com o arrais Marco, ex-proprietário.

6º prémio – «PARDILHOENSE», do arrais Miguel Matias.

Em último, mas estreante em regatas, «S. SALVADOR», da J. F. de Ílhavo. É de ficar cliente.

O «PARDILHOENSE» foi o primeiro dos não profissionais. P'rá frente, Miguel!

E notícias frescas deram-nos a saber que o moliceiro do António Garete já vai ficar por Aveiro, sabemos para quê. Em Aveiro, são decepados…

É caso para encontrar justificação para um título de ontem, no Jornal de Notícias – Derradeiros moliceiros correm para não morrer.

Será mesmo a tal morte anunciadíssima?

Força aos poucos resistentes!

Fotografias – Arquivo pessoal da Autora

Ílhavo, 4 de Julho de 2011

Ana Maria Lopes
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