quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Faina do Creoula em 1973, através da objectiva de António São Marcos

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Para poder saborear os prazeres da Costa Nova, durante o mês de Agosto, sem despender muito tempo nas pesquisas do Marintimidades, resolvi lançar mão de umas famosas e belíssimas fotos amavelmente cedidas pelo Comandante António São Marcos, em que pôs à prova a sua paixão por este género artístico, durante o regresso da última campanha do bacalhau do navio Creoula (1973).

Foram muito utilizadas na ilustração de diversas publicações e estiveram também na base de uma impressão de seis selos que os CTT editaram, em 24 de Junho de 2000, sobre A Faina Maior – a pesca do bacalhau.
Com tantas cedências, empréstimos e mudanças de «mãos», as imagens não tiveram grande destino e acabaram por se extraviar, primeiro, as películas e, mais tarde, as próprias fotos.

Quando me haviam passado pelas mãos, dada já a inexistência de negativos, encarreguei-me de lhes mandar fazer umas reproduções, em que perderam alguma qualidade, mas que são o que delas resta.

Demasiado contrastadas, com ausência de cinzentos, não estão tão boas como eram os originais, pois os meios de que dispúnhamos, à época (1991), não eram os de agora.
As minhas desculpas, pois, ao Autor e leitores, mas, mesmo assim, creio que irão ser bastante apreciadas pelos apaixonados por esta «rude e cruel aventura», que atrai muitos admiradores.
E, de post em post, ir-se-ão sucedendo, organizadas por temas.
Espero não ter dado por mal gasto o tempo despendido na sua organização e identificação.

O Creoula fotografado de bordo de uma baleeira.


(Cont.)

Fotografias – Gentil cedência do Comandante António São Marcos

Costa Nova, 29 de Julho de 2010

Ana Maria Lopes

domingo, 25 de julho de 2010

A matola ou ladra - Bateira da Ria de Aveiro




Em maré de preciosos modelos de pequenas embarcações tradicionais da Ria de Aveiro, cá vai mais uma:

A matola ou ladra é a mais pequena das bateiras aplicadas nos trabalhos da Ria.

Matola, na anterior Sala da Ria, no MMI – 1985


De construção muito simples e até pouco cuidada, utilizava-se principalmente como auxiliar dos moliceiros, quando recolhiam moliço em zonas inacessíveis.

Não tinha bancada, nem escalamões para aplicação de remos. Vinha a reboque ou dentro dos barcos e, por ser leve, facilmente era passada sobre os baixos, até aos lugares onde ia ser necessária.

Vi algumas vezes esta embarcação a trabalhar na limpeza dos viveiros das marinhas de sal. As algas que aí cresciam gadanhavam-se todos os anos na primavera, sendo depois transportadas nestas bateiras até aos esteiros e então carregadas nos moliceiros que as aguardavam.

O sobrenome de ladra, julgo que lhe foi atribuído por, às vezes, ser utilizada por pescadores e caçadores furtivos.

Na época em que apareciam os patos-reais nos viveiros das marinhas, os melhores lugares de caça estavam facilmente ao alcance durante as noites de luar, transpondo estas pequenas embarcações sobre as barachas* até à posição pretendida para a caçada.

Para executar o meu modelo, fiz o levantamento cuidado do exemplar que se encontra na
Sala da Ria do Museu Marítimo de Ílhavo.


O modelo

Utilizei madeira de tola e de choupo nos costados e fundo. Nas cavernas e nas rodas de proa e popa, apliquei ramos de limoeiro.

Pintei o costado e o fundo com tinta preta para imitar a cor do breu, com que as originais eram protegidas.

A escala utilizada foi de 1/25, por ser a mais apropriada.

As medidas habituais:

Comprimento………………..4.25 m
Boca…………………………1.25 m
Pontal………………………..0,40 m

* Muretes feitos de lama, que, no mandamento das marinhas, dividem os compartimentos dos caldeiros.




Lisboa, 30 de Junho de 2010
António Marques da Silva



Fotografias da autora do blog

Ílhavo, 25 de Julho de 2010

Ana Maria Lopes


sexta-feira, 16 de julho de 2010

Porto de St. Jonh's em 1958


Pessoa amiga, que viveu a situação, deu-me a conhecer esta imagem, que vai fazendo história (actualmente, tudo também faz história, é moda…). Ei-la, a frota portuguesa, a famosa White Fleet, recolhida no porto de St. Jonh’s, em Outubro de 1958 (vão lá 52 anos), do ciclone Helena (identificado sempre por nome feminino, cuidado)!


Não desaproveito, pois, a oportunidade de a divulgar…

Ílhavo, 16 de Julho de 2010

Ana Maria Lopes


domingo, 11 de julho de 2010

E os painéis renovam-se...11 de Julho de 2010


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No Canal Central, em Aveiro, um júri escolhido para o efeito, classificou os painéis das embarcações, que, ontem participaram na Regata. Os donos das que apresentaram pinturas novas receberam 450 euros e ao vencedor do Concurso de Painéis foi entregue um prémio de 200 euros. Foi ele o INOBADOR, pertença da PT, que costuma estar à guarda do CVCN. Exibiu quatro curiosos painéis, dois de carácter religioso que evocam o Stº. Amaro e a Nossa Senhora da Saúde e dois, maliciosos, que jogam com o duplo sentido de banda larga e Meo, ao mesmo tempo que publicitam produtos relacionados com a empresa.

Vai sendo um incentivo à manutenção dos poucos barcos moliceiros que ainda existem e um estímulo à renovação anual das pinturas, como era tradição.
Passando uma vista de olhos pelos painéis e respectivas legendas, na expectativa de encontrar alguma referência a factos actuais ou do quotidiano, tipo, crise governamental, crise socioeconómica, casamento homossexual, vinda de sua Santidade o Papa Bento XVI a Portugal, a morte do Prémio Nobel Saramago, o Mundial de Futebol, nada…mas era hábito. Não, nada! Para se abstraírem da dita “crise”, os pintores da ria resolveram refugiar-se, salvo raras excepções, na tradicional malícia de uma forma um pouco abusiva e demasiado evidente. Terá sido?

Notei também que alguns dos painéis do ano passado se mantinham, não tendo sido renovados, ou sofrendo, apenas, uns ligeiros retoques.

Só tive hipótese de observar cuidadosamente os de estibordo, mas Amigos, de opinião credível, confirmaram que o mesmo acontecia nos de bombordo.

O José Manuel de Oliveira continua a ser o pintor reinante, a quem pertencem algumas das melhores cenas.

Faço votos para que as Regatas do Emigrante e a do S. Paio, ambas no concelho da Murtosa, sejam mais entusiastas e participadas.

Pela evocação de Santos padroeiros, pelos trocadilhos, pelos duplos sentidos, eis alguns dos painéis com que mais engracei:

«Ó MÃE DO CÉU VALÉI-NOS AGORA.»

«Sra. DA SUD BALEINOS»


«QUERES QUE EU TE META O MEO?»


«AINDA DAMOS UMAS GAITADAS!»


«AGARRA-TE BEM AO PAU.»

Fotografias – Ana Maria Lopes

Ílhavo, 11 de Julho de 2010

Ana Maria Lopes

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sábado, 10 de julho de 2010

Volta a Regata da Ria - Julho 2010


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Cerca de uma dezena (11) de barcos moliceiros (cinco réplicas não são moliceiros) voltaram, hoje, a colorir as águas da Ria, numa regata que tem sido uma referência nos eventos náuticos da região. Surge integrada nas Festas da Ria e além da C.M. de Aveiro, contou também com o apoio da Associação dos Amigos da Ria e do Barco Moliceiro.
A partida foi da Torreira, cerca das 14 horas e a chegada aconteceu em Aveiro, junto da antiga lota, por volta das 17.

Ainda bem que ela se vai mantendo, mas, hoje, pela pouca quantidade de barcos e pelo pouquíssimo entusiasmo de participantes e espectadores, temo que deixe de o ser. Até as embarcações participantes, após a chegada, se exibiam, no Canal Central, de mastros arriados! Os mastros, vistos de longe, já se impunham e marcavam presença!!!

A situação económica que actualmente se vive afecta tudo! Ainda têm sido estas regatas que têm aguentado o barco moliceiro, com tudo aquilo a que tem direito e em toda a sua plenitude e elegância. As embarcações, em crescimento, dedicadas ao turismo, que nos é dado observar diariamente no canal de Aveiro, com as alterações a que são obrigadas por variadíssimas razões, sobejamente conhecidas, poderão ser tudo, menos barcos moliceiros autênticos. Os festões de plástico colorido, que exibem entre as bicas da proa e popa são de gosto duvidoso e lembram romarias minhotas enxovalhadas. Talvez para atenuar a falta do mastro e vela? Não, não conseguem!

A imagem que imortalizou o barco, de cisne deslizante, pelas águas calmas da ria, desapareceu.

Na Revista Costa Nova, CMI, 1932


Oxalá que, um dia, as entidades competentes não se venham a arrepender…da leveza de decisões que vêm tomando, relativamente a esta adulteração, que entristece e angustia. São outros tempos e outras conjunturas económico-sociais que teremos de aceitar?

Imagens de arquivo (anos 80) de moliceiros, em regata, à bolina e com vento de popa.

As velas animam a ria…

A bolinar…

Com vento de popa…


Não nos foi possível acompanhar a regata de perto, e, quem, porventura o fez, já não conseguiu saborear imagens de tão grande beleza e emoção, que proporcionaram em anos anteriores.


O vencedor da regata foi, pelo segundo ano consecutivo, o Mestre Marco Silva, da embarcação RICARDO SÉRGIO. Receberá um prémio no valor de 150 euros e cada participante com barco moliceiro ganhará 300 euros.

Ler mais em o Diário de Aveiro de 11.7.2010.

Não me apetece alongar; a perspectiva e o cenário não me inspiraram e, se nada mais disser, não corro o risco de lamentar cada vez mais o destino a que o barco vem sendo votado.

A adaptação à actividade turística tem trazido bastante mais movimento à cidade, e um melhor conhecimento da zona lagunar citadina, é verdade, e lucros às empresas operadoras, também, suponho, mas que o barco perdeu toda a sua beleza, nobreza, dignidade e identidade, disso tenho a certeza. E os saberes feitos do saber-fazer e do saber-ser? Vão-se perdendo. E a terminologia náutica e ribeirinha? Vai-se delapidando e diminuindo…
Basta de lamúrias…

Fotografias – Cedência de Paulo Miguel Godinho (Arquivo)

Ílhavo, 10 de Julho de 2010

Ana Maria Lopes

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terça-feira, 6 de julho de 2010

Patacha - Bateira do Baixo Vouga


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Esta simples e modesta embarcação, utilizada pelos lavradores do Baixo Vouga, é, na sua humildade, merecedora da nossa observação.

Há poucos anos, ainda podia ser vista, cumprindo a missão para que foi criada, transportando pessoas e alfaias agrícolas, através dos esteiros deste rio, para os férteis campos de milho e arroz.
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Pateira de Fermentelos – Anos 80


As medidas habituais são:

Comprimento…..+ ou – 5,00 m
Boca……………+ ou – 1,00 m
Pontal…………..+ ou – 0,30 m

Construía-se a partir das três tábuas do fundo, unidas por sete travessas, que funcionavam como cavernas. Este, de traçado fusiforme, é ligeiramente alargado na parte da
popa.
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Três lanchas, patachas ou bateiras…


Nas extremidades, assentam dois blocos de madeira de forma triangular, com rebaixos para receber as tábuas dos costados. Estes pregam directamente nos lados do fundo e nos rebaixos dos blocos da proa e da popa. Para manter a curvatura dos costados, era aplicada uma forte bancada, um pouco a da secção mestra.
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Modelo


Para fazer o meu modelo, utilizei madeira de choupo e a escala de 1/25 por entender a mais apropriada.



Lisboa, 29 de Março de 2010

António Marques da Silva



Fotografias – Arquivo da autora

Ílhavo, 5 de Julho de 2010

Ana Maria Lopes
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