quarta-feira, 27 de março de 2013

INÁCIO CUNHA - grande dia! - 1

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Começar é fácil…e depois? Como transmitir tanta emoção?
Em conversa com a amiga Etelvina, no facebook, a propósito do bota-abaixo da antiga, mas reconstruída lancha da carreira (Forte/S. Jacinto), PRAIA DA COSTA NOVA, palavra puxa palavra, e a Etelvina puxou pelas oportunidades, que, certamente, terei tido na vida de assistir ao bota-abaixo de «grandes» navios. E acertou! Não teria sido de nenhum Titanic, mas de vários navios-motor, sobretudo nos Estaleiros Mónica e, de outros, mais tarde, nos Estaleiros de São Jacinto. Hoje desactivados, estropiados e abandonados.
 
O facto de estarmos em conversa perante o feliz acontecimento da tentativa de dar nova vida à lancha histórica, fez-me ocorrer à memória, precisamente, uma travessia efectuada numa outra lancha, algo idêntica à PRAIA DA COSTA NOVA com a intenção de irmos, eu e Família, a S. Jacinto, assistir ao bota-abaixo do Inácio Cunha. Dia zarro, em que a ria estava encabritada, toldada pela mareta, que batida pela surriada vinha respingar nas vidraças das janelas da lancha. Nas caras de alguns convidados o balanço da embarcação quando entrou no canal, com a maré a bater-lhe pela amura e a sulada a bater-lhe pela amura de popa, registei algum empalidecer e até alguns gritinhos logo abafados, por vergonha dos restantes. Desembarcados no cais do Labareda, lá foram os convivas, de procissão até à carreira, onde majestoso, pousado no seu berço de construção, o Inácio Cunha esperava a benzedura, o partir da garrafa na roda de proa para então deslizar, majestoso e apressado ao encontro da água por que há muito ansiava. Na sua construção gastaram-se mais de 365 dias (a quilha tinha sido assente em 6 de Novembro de 1968), até que as suas formas elegantes, lançadas, esguias e harmoniosas, ficassem, por fim, acabadas.
 
Bota-abaixo é sempre sinónimo de nascença, dia festivo a recordar na vida da embarcação, data que ficará para sempre gravada na sua ponte de comando. Essa satisfação ajudava os presentes, a suportar o dia invernoso de fins de outono, de fortes bátegas tocadas pelo vento.
 
O meu pequenote, o Pedro, com 3 aninhos, ficou em casa, dado o temporal. Prontos para o evento, seguiam na lancha eu e o Jorge, meus Pais e a minha Avó, que, embora sendo a menos jovem, estava sempre pronta para participar em festejos do género.

Na carreira…


Dia 22 de Novembro de 1969. Pelas 15 horas, a maré não esperava. O navio, cuja mostra das obras vivas tornava ainda mais imponente mostrando o arcaboiço apropriado para o desempenho da exigente tarefa que lhe estava destinada – o arrostar com as tempestades nos mares do Norte, quando não o abrir gelo num campo branco que teria de ser quebrado para sua passagem e libertação – não deixava de impressionar.
 
Em dia festivo não faltava o mariato, código sinalético expressamente colorido, vistoso, próprio para chamar a atenção ao receptor da mensagem, esvoaçando ao vento, que conferia um colorido proa à popa.
 
O INÁCIO CUNHA, de seu nome, era uma moderna unidade, arrastão de arrasto pela popa, construído em aço, destinado à pesca longínqua.
Foi a construção nº 83 do Estaleiro, tendo uma arqueação bruta de 1547 toneladas, comprimento FF de 80,32 metros, boca de 12,50 e pontal de 8, 09 metros. Dois motores Diesel concediam-lhe a apreciável velocidade de 15 nós. O custo foi de cerca de 50 000 000$00.
Recordo-me de três dos seus comandantes – José Ângelo Ramalheira, António Manuel São Marcos e José Alberto Senos Ramalheira. Muitos outros ilhavenses e, não só, aí desempenharam variadas tarefas, com proveito assinalável, já que o Inácio Cunha iria ser um campeão da pesca ao longo da sua vida. 
Fornecidas as principais características técnicas, retomemos a que pretende ser uma emocionante narrativa.
 

  Convidados na tribuna

 
Junto à popa, montava o estaleiro uma espécie de tribuna ornamentada, onde recebia os convidados. No caso presente não eram muitos, dado o recente falecimento do Sr. Silvério Amador, sócio da Empresa proprietária, Testa & Cunhas, Lda.
 
Como era hábito, a bênção foi dada pelo Pároco da Gafanha da Nazaré, Sr. Padre Domingos Rebelo dos Santos, aspergindo-o e pedindo, para o navio e tripulação, os bons ofícios do divino.
 
– Que Deus o acompanhe!!! e o traga de volta com todos os seus tripulantes. De boa saúde e fartas pescas, terminaria o Padre Domingues a sua prédica.

 
Bênção…

 
A D. Adília Marques da Cunha Miranda, que já amadrinhara, em 1945, o navio-motor do mesmo nome, cortou então a fita que arremessava a tradicional garrafa de espumante contra a imponente roda da proa da nova unidade, fazendo-a em bocados, esguichando champanhe por todos os lados. Era o sinal para deixar correr o navio para a água.

Momento alto!...

(Cont).
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Ílhavo, 27 de Março de 2013

Ana Maria Lopes
 

sexta-feira, 22 de março de 2013

Abre hoje a Feira de Março

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Isto é só para lembrar… Para mim, a Feira de Março, apesar da vetustez dos seus 579 anos, já foi, já era. Já deu o que tinha a dar.
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Quando vinha de férias da Universidade, que agradável era ir até à Feira de Março! Era mesmo obrigatório experimentar as sensações dos divertimentos mais ousados, para a época – comboio-fantasma, cadeirinhas voadoras, poço da morte –, ir ao Circo, flanar, pavonear as toilettes já primaveris, almejar encontros agradáveis, flirtar, renovar as bijouterias, etc., etc.….
O ambiente favorecia a diversão!
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Mas porquê no Marintimidades, estas intimidades? Apesar dos meus verdes anos, os barcos moliceiros já não me eram indiferentes. E daí ficou a chapa que bati em 25 de Março de 1961. Não há dúvida que já atraíam as minhas atenções. Eis a prova.
 
 

Inauguração da Feira de Março – 1961

 
A ria, inspiradora e calma, espelhava a paisagem!
Estava um bonito dia primaveril! O Rossio é sempre o Rossio! Alimenta-se da água que bebe! Às vezes há umas excepções…
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Além do mais, era hábito os barcos moliceiros estarem presentes, por iniciativa dos arrais, movidos pela tradição, em razoável número, no Canal Central, para exibirem as suas elegantes formas e garridismo cromático. Com eles vinham, também, alguns mercantéis, mais pesadões, mas sempre pujantes senhores da Ria.
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Esta imagem deixa-me alguma saudade. Apesar de continuar a apreciar a beleza do Canal Central, algo mudou e, se calhar, não foi para melhor. Opiniões!...
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Com a Feira bem longe do Rossio, vamos a ver o que acontece, este ano, com a Festa da Ria, com os pouquíssimos moliceiros tradicionais que ainda restam. Aguardemos, pois, não estamos em tempo de milagres…
Leia mais no DA de hoje.
 
Fotografia – Arquivo pessoal da autora
 
Ílhavo, 22 de Março de 2013
 
Ana Maria Lopes
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sábado, 16 de março de 2013

A primeira galeota!...


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São 11 de Março. Eis o primeiro pregão! Galeooooota!
Andava à coca do primeiro anúncio, porque a época dela estaria prestes a chegar. Foi hoje. Este ano, pareceu-me ser mais cedo! Mas, com tempos tão incertos que têm estado, tudo é possível…
Galeooooota!
Eram quase seis da tarde e coquei à janela, por dentro dos vidros, dado o frio que fazia. Idêntica vendedeira, à de outros anos, de negro trajada, de balde amarelo na mão, com os pexinhos apreciados por alguns.
Por mim, nem por isso, mas para amanhã, já tenho almoço destinado. Foi mesmo o Marintimidades que me fez descer e comprar, para ter o prazer de recontar a apanha da galeota.
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 – Cara! – resmunguei eu – …um pires de chávena de café, rasinho, dois euros?
 – É a primeira, minha senhora!
 – Bote mais uma manchinha! – retorqui.
 – Num posso, que no é minha!
Mas, a vendedeira, da Costa Nova, calou-me com mais uns fiapitos de pexito.
 – Ah, até nem bendi mau, da framácia inté qui.
 – Boas bendas!

Galeooooota!

Pregão único, mas bem timbrado, prolongado e amiúde!
Compradoras assomam às portas!
Dura, de um mês a mês e meio, a venda da galeota pelas ruas de Ílhavo e zona das Gafanhas, porta a porta. Recordo os pregões desde sempre!...
No início da safra, é sempre cara como fogo; pudera! há um ano que não se lhe chinca!!!! Mas à medida que se banaliza (por se ir transformando no lingueirão), o preço desce, permitindo que bolsas menos abonadas lhe acedam.
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Sempre mais preocupada com as embarcações e processos de pesca usados do que com os prazeres gastronómicos, ia frequentemente até à Costa Nova (junto à Biarritz e San Sebastian), observar a sua apanha e ver as redes, bastante sui generis, nos trapiches, a secar. Pelos anos 80 recolhi os dados, que, agora, me dão um jeitão.
Hoje era capaz de já ter preguiça de andar de botas de água pela borda da ria ou junto às coroas, para gravar conversas e bater chapas.
A rede da galeota é uma arte de cerco ideada especialmente para a captura daquele peixe.
Consta, essencialmente, de uma tira de rede, que adelgaça para os calões, tendo, no centro, um rectângulo de pano branco. Este pano, antigamente um lençol já puído, é, actualmente, substituído por um cortinado também fora de moda, de nylon, de textura adequada.
O comprimento da rede é de cerca de 30.00 metros e os calões medem cerca de 0,40 m. de altura. A arte é feita com rede usada, de traineira.
Uma bateira vulgar (ou qualquer outro género de embarcação de fundo chato), é o tipo de embarcação utilizada neste processo de pesca.
 
 
A rede junto ao calão

 
Fica um pescador em terra aguentando o cabo do reçoeiro, enquanto a bateira se afasta da margem, largando a rede, a favor da corrente.
A partir do meio da rede, a embarcação dirige-se para a margem, completando o cerco, para o que fez um percurso, sensivelmente, em semicírculo.

 
 
A zona do pano branco da rede

 
Abicada a bateira, os pescadores saltam para a água e, em conjunto com o que havia ficado na margem, alam a rede. Vão-lhe dando sacudidelas rítmicas, para espantar e conduzir o peixe para o pano. Percorrem a tralha da cortiça, até que ao chegar ao centro, com a galeota agrupada junto ao pano, levantam a rede fora de água, deitando o produto do lanço no quete da embarcação.


 
Pescadores levantam a rede

 
A galeota, quando perseguida, esconde-se na areia branca, enterrando-se rapidamente. A arte aproveitou engenhosamente esta particularidade, pois o pano branco consegue enganar a galeota, dando-lhe a ilusão de areia. Por vezes, apenas dois pescadores lançam a rede.
A época da galeota começa em meados de Março e prolonga-se até aos fins de Abril, variando ligeiramente com a influência das condições meteorológicas, das marés, da transparência e calmaria das águas.
A galeota mais apreciada pelos entendidos é a primeira, por ser mais pequena (a larva do lingueirão). Depois de crescida, já não é tão saborosa (dizem os degustantes).

Apanhado o petisco sazonal, é preciso fazer o seu escoamento imediato no mercado da Costa Nova, nos restaurantes da zona, porta a porta, em grito estrídulo:

Galeooooota!

Compradoras aparecem às portas!

 
Avia-se a freguesa…
 

Curioso o processo de venda, no passeio ou à porta, medindo a porção a fornecer à cliente, pelas mais variadas e expeditas maneiras: a mais típica, a concha da mão, formada pelo indicador enrolado, circundado pelo polegar; o copinho de vidro, em alternativa ao pires da chávena de café e, modernamente, também, o copinho de iogurte.

 
 
A vendedeira prossegue…

 
E o pregão continua, estridente e bem-sonante: Galeooooota!
Regateia-se preço e medida; se a vendedeira é enganadeira, basta-lhe fechar mais os dedos, variando a capacidade da concha. Ou tenta pôr mais água enquanto a freguesa prefere o peixinho a nadar menos.
Em anos de fartura, no final de época, até se pode ajustar também ao quilo.
O petisco mais vulgar será a caldeirada; mas também há quem faça, posteriormente, uma papa rala de farinha de pau, recuperando a molhanca da caldeirada. Existe ainda uma receita mais sofisticada: as pataniscas (bolos) de galeota.
Galeooooota! Galeooooota! – Ouve-se cada vez mais ao longe!!!
 

Fotografias – Cedência de Paulo Miguel Godinho

Ílhavo, 11 de Março de 2013

Ana Maria Lopes
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terça-feira, 12 de março de 2013

A ida ao mar, em imagens, na Costa Nova (Anos 40) - 2

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(Cont.)


 

Entretanto, atingem-se as águas calmas e rema que rema, cia que cia, afastam-se cerca de 3 milhas da linha da costa.
E atrás do reçoeiro, corre, pela borda, a extensa manga da rede até à chegada do saco central, cuja abertura é sinalizada por uma bóia, normalmente, um pipo.
De regresso, percorrido o caminho inverso, lançada a segunda manga (manga de regresso ou de retorno) e o cabo da mão da barca, está na hora de abicar ao areal.
 

 

E o alar da rede que demora entre três a quatro horas, num incessante vozear de homens e mugir de animais, de cima a baixo, de baixo a cima, numa correria louca e desenfreada, assusta os presentes, que só atrapalham, quando não ajudam.
As várias juntas cruzadas, espicaçadas e aguilhoadas pelos boieiros, ajoelham sob o peso do esforço.
 
 
E «curiosos» e pescadores abençoam o saco da rede, em que o peixe fervilha num último estertor. Um peixeiro, talhado na arte, de navalha em punho, desmancha o porfio, desfazendo um dos juntoiros da rede. E outra faina começa – a da divisão do peixe, separação e venda na praia. Cada um com a sua mira!!!!

Imagens de Cândido Ançã, que aprecio e acarinho. Imagino que faltarão algumas do «abicar» do barco, porque, entretanto, na era da foto analógica, terá sido necessário mudar de rolo.
 
Ílhavo, 12 de Março de 2013

Ana Maria Lopes
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domingo, 10 de março de 2013

A ida ao mar, em imagens, na Costa Nova (Anos 40) - 1

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Conseguir, parcialmente, uma ida ao mar, em imagens, na Costa Nova, no final dos anos 40, não é, propriamente, fácil. Não é só farfalho, nem sorte. É preciso andar na esteira. Acontece a quem procura.
Teria os meus 7 anos e era visita assídua das companhas. O meu avô já deixara a longínqua e perigosa pesca do bacalhau para acompanhar e apaparicar a neta querida.
Mais tarde, renovei as minhas visitas, pois estes assuntos sempre me interessaram, por razões óbvias.
 
 
O barco da Costa Nova, de 4 remos bem cruzados, altivo e pujante, espera a hora da maré. No areal, a bombordo, redes e outros aprestos que os homens ultimam. Uma junta de cornígeros animais passa lentamente – a tal ruralização do litoral que encantou Unamuno.


 
Por ordem, todos os aprestos ocupam o lugar próprio na embarcação, – a manga de retorno, o saco que volteia a ré, a primeira manga e os cabos enrolados e acamados ordenadamente, à ré e mais a vante. A companha de bordo ocupa o lugar no barco e a de terra coopera. Poucos mirones. Meia dúzia de homens, no mar, de calça arregaçada, aguenta as varas, sobre as quais os rolos e o barco deslizam. À proa, o vareiro, em pé, vigia e ordena.


 
Arrais, sempre atento, à ré. Reçoeiro em terra. Momento de perigo. Os bois puxam o barco para a beirada do mar, a muleta, à ré, orienta. Após as três vagas sucessivas, o mar amolece (a mesma técnica para a entrada no banho, em tempos idos).
A esbelta embarcação bate no cavado da onda, que chapisca. Os remos equilibram. Mar chão e imenso. Mais imenso, ainda, o céu! A emoção é grande! É agora!!! Agora!!!

 
 

Um dos perigos foi ultrapassado. Já flutua. Uma segunda vaga é alcançada e superada com sofreguidão, evitando o atravessamento do barco de que poderia resultar o maior desastre.
 
Que siga em nome de Deus!!!
 
O pessoal afasta-se e juntas de bois fogem, assustadas pelo bater do mar, em forte correria, pelo declive do areal acima.

(Cont.)

Ílhavo, 10 de Março de 2013

Ana Maria Lopes
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segunda-feira, 4 de março de 2013

Barco do mar «versus» barca da arte xávega

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Um escrito diferente – pretende não ser informativo, mas reflexivo, para quem é atraído por estes assuntos, evidentemente. O dia ventoso e chuvoso a isso se presta.

Habituada desde menina e moça, a ir pela mão do meu avô, às companhas, na Costa Nova, ver chegar a rede, o barco do mar, para mim, seria corriqueiro, muito comum, à época.

E hoje, nem um barquinho do mar para amostra lá há, na referida praia, cujo nascimento (em 1808) esteve directamente aliado à vinda, para este local, das companhas que laboravam em S. Jacinto.

Longe de ir descrever uma ida ao mar ou elencar todas as partes do barco ou da rede (há belas descrições já feitas e refeitas), vamos picar os simpatizantes do Marintimidades, tal qual os pescadores aguilhoavam as juntas de bois para se despacharem, a seu mando.

A dita arte xávega anda nas bocas do mundo, sobretudo por causa do tamanho mínimo do peixe capturado. Numa sexta-feira transacta, foi a Lisboa, à Assembleia da República uma embaixada de «mirões» tentar defender os seus direitos e impedir as suas mínguas! Fizeram bem!
Temos, ultimamente, lido alguns testemunhos, além dos orais, já coligidos nos anos 60 do século XX, sobre a povoação de vários lugares marítimo-fluviais até ao reino dos Algarves, por pescadores ílhavos).
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Reflictamos, que é óptimo.
Sobre a embarcação:
 
Barco do mar ou barco da xávega?
Quais as origens?
Terá tido a ver algo com o famoso barco mesopotâmico de Ur…? Ou terá nascido da adaptação de «bateirões» à forte pancada do nosso mar ocidental?
Geograficamente falando, existe ou existiu, desde onde até onde?
Que barco surgiu primeiro, o menor e de 2 remos ou o maior e de quatro?
Que papel tiveram os «ílhavos» na sua difusão, ao longo do litoral?
A imagem pretende abrir horizontes e conduzir à reflexão:
 
Ida ao mar – Costa Nova – Anos 50
 
Já agora, sobre a arte:
 
Arte de arrastar ou arte xávega?
Que origem terá tido?
Qual o verdadeiro tamanho e composição da rede?
Quando é que os cintos de alar foram substituídos pelas juntas de bois… (e, estas, pelos tractores)?
 
Barca da arte xávega – Algarve – Anos 60

Esta barca, então apropriada para um mar chão, no exotismo das suas formas e decoração, enfeitiçou-nos, embora sem a altivez, nem a esbelteza de formas e o arrojo do nosso barco do mar.
De passagem, entrementes, houve na Costa da Caparica, também uma bela embarcação, no seu olho muito sui generis e de bicas bem igualadas em altura, tal qual uma meia-lua. Tal denominação de meia-lua colou-se-lhe. Terá sido uma adaptação do nosso barco do mar, com algumas particularidades locais?
Tudo o indica. Ei-lo, ainda em meio uso:
 
Meia-lua – Costa da Caparica – Anos 60

Há quem também o designe por saveiro, mas, atenção, o termo saveiro é um pouco traiçoeiro.
Desde a embarcação de rio, de fundo chato, adaptada à pesca do sável, ao barco do mar (?), até a uma pequena embarcação de quilha, algarvia, utilizada, antigamente como auxiliar da arte da sacada, vale quase tudo. Atenção à localização geográfica!
Ao longo do tempo fomos aprendendo muito e, cada vez, tendo mais dúvidas, umas ténues, outras mais profundas.
Profundas, profundas, foram as marcas que o litoral nos gravou a fogo, na mente, quando, com pouco mais de vinte anos e boa companhia, o percorremos ávida e incansavelmente.

E no declínio da vida, lá regressamos sempre que possível, se bem que, de embarcações, não haja muito que nos encante. Mas, sempre, o MAR!
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Fotografias – Arquivo da autora do blogue
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Ílhavo, 4 de Março de 2013
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Ana Maria Lopes
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