domingo, 31 de outubro de 2010

Embarcações lagunares...em 1950

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Neste dia 31 de Outubro, em que todas as notícias amarguram, dia triste por natureza, em que o vento e a chuva de um dia invernoso, em pleno Outono, ajudam a complementar o cenário, que fazer, que, de alguma maneira, distraia das intempéries?

Tive o privilégio de ter ao meu alcance fotografias de Alan Villiers, relativas à Campanha do Argus, em 1950, para observar, comparar e tratar. Entre elas, esta chamou-me a atenção, e o cenário, ao autor, pelos vistos, também.
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A nossa Ria, na Gafanha da Nazaré, em 1950!

O tempora! O mores!
Que espectáculo!
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Não queria, por vezes, ser tão saudosista, no sentido algo negativo que, por vezes, querem atribuir ao termo.

Mas, hoje, já que se festeja o Halloween, ou, mais portuguesmente falando, o Dia das Bruxas (yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay), gostaria de ter poderes mágicos, que me permitissem, por instantes, rever a «nossa» Ria de outros tempos.
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Desfeito o feitiço, lá voltaria ao presente... presente este...com que futuro?
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Imagem – Alan Villiers
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Ílhavo, 31 de Outubro de 2010

Ana Maria Lopes
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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Marinha Portuguesa - Nove Séculos de História

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Ao fim da tarde de ontem, numa das mais nobres zonas de Lisboa, frente ao Tejo, teve lugar, no Museu de Marinha, a cerimónia do lançamento do livro da autoria do seu Director, Comandante José António Rodrigues Pereira, «Marinha Portuguesa – Nove Séculos de História», dado à estampa pelas Edições Culturais da Marinha, em aprimorada publicação de iconografia abundante.

Na presença do Senhor General Ramalho Eanes, Presidente da Comissão de Defesa Nacional, Dr. José Luís Arnaut, do Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, Dr. Marcos Perestrello, do Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Fernando Melo Gomes, e de outras autoridades, um vasto e atento público assistiu à sua apresentação pela professora Doutora Manuela Mendonça, Presidente da Academia Portuguesa de História, no Pavilhão das Galeotas, entre a rusticidade das embarcações tradicionais e a nobreza das embarcações reais.


Autor e apresentadora

Como refere o autor: Hoje, como antes, o Mar permanece como elemento fundamental para o futuro do País. Assim foi no Século XX com a criação da ZEE, assim será no Século XXI com a concretização do projecto de alargamento da plataforma continental, sempre com a Marinha na nobre missão de garantir aos portugueses o uso do seu mar.

A História da Marinha é uma História de Portugal vista do mar porque não é possível dissociar o Mar dos acontecimentos fundamentais da História do país.

Como afirma o Almirante Melo Gomes no Prefácio, a sua falta era sentida não só pelos marinheiros como pelos historiadores e investigadores que agora passam a dispor de uma obra de referência que apresenta também uma importante iconografia relacionada com o nosso passado.

Correspondendo a um desafio lançado pelo CEMA, em 2003, esta obra é o culminar de um processo de investigação iniciado pelo Comandante Rodrigues Pereira sobre a História da Marinha ao longo de nove séculos, que durou sete anos de pesquisa.

Neste livro de 643 páginas, reúnem-se, pela primeira vez, os acontecimentos mais importantes da nossa história marítima e o que representam para Portugal.

O Comandante Rodrigues Pereira entrou para a Escola Naval a 01 de Setembro de 1966 e especializou-se em electrotecnia em 1971-72, durante o seu percurso na Marinha. Prestou serviço em diversas unidades navais e em terra. Passou à reserva por limite de idade em 2005 e desde 07 de Fevereiro de 2006 é Director do Museu de Marinha.

Após a cerimónia, teve lugar a habitual sessão de autógrafos.


Rodrigues Pereira autografa o livro a Aníbal Paião

Além de ensinamentos que sempre se colhem, esta cerimónia proporcionou excelentes momentos de convívio entre os convidados.

Ílhavo, 28 de Outubro de 2010
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Ana Maria Lopes
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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Preservação da barca da passagem

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Mas as memórias de outros tempos, homenageadas pela CMI não ficam por aqui...
Assistimos com frequência a vários Encontros que visam a preservação das embarcações tradicionais.

Ainda há pouco tempo, o tema SOMOS CAPAZES DE TRANSMITIR O PATRIMÓNIO MARÍTIMO ÀS GERAÇÕES FUTURAS? era debatido por estudiosos de cerca de quinze países, no Ecomuseu do Seixal.

A pseudo-solução de expor numa rotunda, a céu aberto, uma embarcação, é um convite urgente para uma morte anunciada. As diferenças de temperatura suportadas, o sol tórrido, a chuva fria, os vandalismos de hoje e a ausência de qualquer manutenção, aceleram o processo.

O interior da barca…2010


Vista de popa


Pormenor da proa


E magoa ver uma, outra, e outra, e muitas vezes em que passamos à rotunda da Estrada da Mota, a barca Os Velhotes, A 738 TL, a degradar-se, transformada num montão de lenha mais apropriada para ser consumida por labaredas.

E se isto me acontece a mim, que sentirá o Ti Manel, que, apesar da vetusta idade (89 anos) e dos achaques, ainda dá a sua voltinha de bicicleta até à Ria e até à barca? Que solução lhe dar?

Seremos nós capazes de preservar todas as embarcações tradicionais de que gostamos e que fazem parte das memórias das gentes ribeirinhas? Ou teremos de lhes arranjar uma auto-sustentabilidade, servindo-as, sem nos servirmos delas?...

Fotografias da autora do Blog.

Ílhavo, 22 de Outubro de 2010

Ana Maria Lopes
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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A barca da passage do Ti Manel Ameixa

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O seu nome é Manuel da Graça, mas, por herança do avô, é conhecido por todos por Manuel Ameixa. O «Ti Ameixa», como carinhosamente também lhe chamam, é uma figura emblemática do nosso concelho pela sua ligação à ria e ao vaivém das travessias efectuadas entre a Bruxa e a Costa Nova.

Nascido há 89 anos (12.10.1921) na Gafanha da Encarnação, o contacto do Ti Ameixa com a Ria começou logo na infância. Depois da escola, o seu maior prazer era ir à procura do pai para poder andar na apanha do moliço, tendo, mesmo com 5 anos, aprendido a manobrar a barca.

Nessa altura, eram vários os grandes barcos mercantéis que faziam o transporte de pessoas entre as duas margens, tendo o pai optado, então, por essa actividade em parceria com o filho, de 11 anos de idade (em 1932), num negócio que dava sustento a toda a família. Vinha muita gente de longe, sobretudo depois da vindima, para uns dias de descanso na Costa Nova.

Em primeiro plano, a barca, pelos anos 30…

Celebravam-se ali muitos aniversários… e até os enterros passavam nas barcas!
Durante mais de 20 anos, Manuel Ameixa dedicou-se exclusivamente a esta actividade.
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À vara…
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Mas, após a construção da nova ponte e a consequente diminuição de clientela, optou por ir trabalhar para as lanchas da J.A.P.A., não abandonando o transporte por completo. Durante os fins-de-semana e nas férias de Agosto ajudava o irmão (Adelino Ameixa), que entretanto ficara encarregue do negócio.
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Os Velhotes ao leme da sua barca…
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Com mais de sete décadas ao leme da sua barca, o Ti Ameixa recorda com saudade o último Verão (2006), em que fez a travessia.

Com o andar dos tempos e a falta de clientela mais acentuada, «Os Velhotes» viram-se obrigados a substituir as grandes barcas de 18 metros de comprimento, por exemplares de cerca de 12 metros, tendo sido uma delas ainda construída pelo Ti Agostinho Tavares, de Pardilhó. As últimas já foram produto das mãos de construtor do Sr. Evangelista Loureiro (Gadelha), do Seixo de Mira.


A travessia em 1983…

Não tem memória de acidentes, apenas de um pequeno susto, quando, certo dia ao sair da Costa Nova, sozinho, se levantou vento com o qual não contava. Felizmente, conseguiu controlar a barca e seguiu viagem. Guarda, sim, boas recordações, quando outrora as raparigas cantavam, dançavam e o obrigavam a dançar com elas.

Todos os anos iam fazendo, ele e o irmão, as amanhações e decorações possíveis com «o engenho e arte populares» que tinham.

Era a nossa barca da passagem, nos últimos tempos, até que deixou de existir.

Estas são as memórias de outros tempos, homenageadas pela CMI, quando em 2000, colocou uma barca que pertencia à família de Manuel Ameixa numa das rotundas da Estrada da Mota (in Agenda Cultural da CMI., Novembro, 2006).

(Cont.)

Barca antiga – Cliché de João Teles
Fotografias de Arquivo

Ílhavo, 14 de Outubro de 2010

Ana Maria Lopes
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terça-feira, 12 de outubro de 2010

A Lenda do Titanic continua...

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Pelo que acabei de ler no blog Pela Positiva, do Professor Fernando Martins, a lenda do Titanic continua a ter algo a ver com Ílhavo.
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Pela quantidade de posts que dediquei a este navio, pelas exposições a ele referentes que visitei, pelo "mito das suas colheres de prata" que me persegue, o artigo interessou-me sobremaneira.
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Ler a notícia, aqui.
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Ílhavo, 12 de Outubro de 2010
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Ana Maria Lopes

domingo, 10 de outubro de 2010

Lembranças de um pescador do lugre Milena

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A Net tem destas coisas.

Boa tarde Sr.ª D. Ana Maria:

Desde já, agradeço todo o conteúdo fotográfico e informativo, que com prazer deixa ao encontro de qualquer " navegador " via Internet.

Passo à minha apresentação:

O meu nome é Ana Margarida Belo Rebelo. Sou da Praia da Torreira e desde tenra idade convivo com as mais maravilhosas histórias da arte piscatória.

Fiquei extremamente comovida ao encontrar o seu blog. Ao relembrar as histórias que o meu avô contava do "seu Milena".

O meu avô (Joaquim António da Silva Belo) fez a última viagem do Lugre.
Era um Homem feliz ao falar do seu " barquinho " de eleição.

Confidenciou várias vezes, que o Milena era o mais esplêndido de todos os seus " irmãos".

Para além das histórias, vivem também, quadros a óleo e miniaturas do Milena (Envio, em anexo, algumas fotos).

No cafezito dos meus pais, estão expostas todas estas recordações, para manter viva a lembrança.


Miniatura do lugre Milena


Miniatura de um dóri do Milena


Representação pictórica «naïf»


Muito obrigada.

Atenciosamente,

Ana Belo

6. 10. 2010

São escritos salutares como este que nos incentivam a procurar mais e mais, e sempre, histórias da Faina Maior.

Sabendo nós o que foi a dureza da pesca à linha do bacalhau, ainda existiu quem tivesse tido gratas recordações dos seus lugres, conservando-lhes a memória. Nem a agrura do naufrágio (1958) do Milena por que passou este antigo pescador, o desalentou!

Para de algum modo agradecer a atenção desta leitora, lembrei-me de procurar no MMI, nas fichas vindas do Grémio, a de seu avô, e fazer-lhe a surpresa de lha dar a conhecer por este meio.

Ficha do GANPB

E quem sabe? Enviar-lha,  para que, emoldurada, possa acrescentar as recordações do cafezito de seus pais, na Torreira. Envie-me o seu endereço, por favor.

Obrigada, Ana Belo, pelo seu sincero testemunho.
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Ficha do Grémio gentilmente cedida pelo MMI.

Ílhavo, 10 de Outubro de 2010

Ana Maria Lopes
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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Apontamento sobre o barco moliceiro do Ti Adelino Ameixa

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Também na Gafanha da Encarnação houve pintores populares de moliceiros, que lhes reformularam as pinturas sempre que necessário.

Foi o caso do Ti Adelino Graça, por alcunha o Ameixa, que fez, também, até ao Verão de 1988, a travessia de passageiros na barca da passagem, entre a Gafanha da Encarnação e a Costa Nova, colaborando durante alguns anos com Manuel Ameixa, seu irmão mais novo.

O Ti Adelino ao leme da barca da passage


Mas o Ti Adelino (1911-1990), como ele me confessou, nasceu num moliceiro, começou a gatinhar nas painas da proa e por lá foi vivendo com uma irmã até aos sete anos. Mais tarde, passou a ter barco próprio, até que se desfez do último em proveito do Museu de Marinha, de Lisboa, em 1979. Tinha sido construído em 1964 pelo Mestre Henrique Lavoura, nascido em 1930, em Pardilhó.

E lá está, albergado no Museu de Marinha, exposto ao público, no Pavilhão das Galeotas, não em grande estado de conservação. Exibe os painéis, de uma grande singeleza e ingenuidade, pintados pelo seu último proprietário, não sem um ou outro erro ortográfico e até o uso do grafema N, invertido. Os de estibordo:


Cta. NOVA – ADELINO GRAÇA (o AMEIXA)


NAO HABACALHAO

Merecia uma profunda amanhação, porque é uma embarcação com passado…

Fotografias de Arquivo

Ílhavo, 7 de Outubro de 2010

Ana Maria Lopes
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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Luciana Casanova, modelista do EMS


Entre mim e o Ecomuseu Museu do Seixal existe alguma permuta de afectos, desde há longos anos.

Numa volta pelo litoral do país, em 1988, tive curiosidade de ir conhecer o recém-criado Ecomuseu do Seixal, que, à época, apenas tinha o Núcleo Naval, onde se exibiam algumas rigorosas miniaturas estuarinas do Tejo, produto da habilidade, saber e precisão do Sr. Arnaldo Cunha (1918-2000).

Na altura, coleccionava algumas maquetas de embarcações (hoje, deixei-me disso, devido aos cuidados de conservação que exigem e aos preços exorbitantes), sobretudo marítimas, mas, a beleza, forma e policromia de algumas miniaturas do Tejo, fascinaram-me. Só o preço é que era praticamente proibitivo.

Decorria aí, então, uma Acção de Formação sobre construção naval, na vertente de miniaturas de embarcações, organizada conjuntamente pela CMS e IEFP, orientada por Arnaldo Cunha, de que era aluna Luciana Casanova (1936).



Na oficina do EMS, em 2008


Os seus modelos atraíram-me e tentaram-me mesmo a encomendar-lhe um, mais acessível, de que gostei – o dito catraio do Tejo. Mas a acessibilidade, para a época, tinha que se lhe dissesse – custava a módica quantia de 25.000$00.

Instada a pagar um sinal pela encomenda, metade do valor, lá regressei com o preço da embarcação entalado nos gorgomilos…

Foi-me entregue em Agosto, trazida por pessoas de Ílhavo que residem na zona e costumam passar o Verão, na Costa Nova.

E lá está, desde essa altura, exposta com carinho, na minha casa de praia.



Miniatura do catraio

O catraio, construído, à escala 1/20, uma das menores embarcações do Tejo, tinha diversas utilizações, podendo ser, também, uma embarcação de recreio. Eram frequentes as regatas entre este tipo de barcos.

Poderia armar de várias maneiras, mas este apresenta-se, com uma bujarrona, à proa, e com dois mastros; no maior, arma uma vela quadrangular, de espicha, e no menor, uma pequena catita, também de espicha.

O curioso é que entre mim e a Luciana criou-se alguma empatia e ela, sempre que lá vou, faz-me uma grande festa, lembrando, em voz alta, que fui eu a pessoa que lhe comprou a primeira maquette. Por várias razões, também não a esqueci mais.

Luciana Casanova entrou no quadro do funcionamento do EMS, na mesma actividade e, ainda, há cerca de uma semana, aquando da realização do 7º Congresso do European Maritime Heritage, lá estive e o encontro foi amistoso e esfuziante, como sempre.
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Na oficina do EMS, em 2008

Pessoa profundamente conhecedora da matéria chamou-me a atenção para o valor actual da miniatura do catraio que a Luciana me fizera em 1988 – mil duzentos e cinquenta euros.

Meu Deus! Se já lhe dava valor, ainda mais passei a apreciá-lo e vou fazer por que fique melhor preservado.

Histórias de embarcações e afectos…

Fotografias de arquivo

Ílhavo, 4 de Outubro de 2010

Ana Maria Lopes
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