quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Faina Maior - A Pesca do Bacalhau nos Mares da Terra Nova

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Era um firme desejo da Associação dos Amigos do Museu de Ílhavo concretizar a reedição do livro Faina Maior – A Pesca do Bacalhau nos Mares da Terra Nova, de Francisco Marques e Ana Maria Lopes (1996).

Por razões de vária ordem, ainda não tinha sido possível, mas, este Verão, ao arquitectarmos alguns posts sobre «Creoula – 1973, através da objectiva de António São Marcos», conseguimos ultrapassar, graças a um procedimento levado a efeito há cerca de vinte anos, um problema técnico que existia com essas fotografias. Enfim, foi superado.

Por outro lado, durante uns tempos, achámos alguma piada a que dois dos livros em que mais nos  tínhamos empenhado estivessem esgotados, mas, com o andar dos tempos, passámos a não achar tão curioso assim. Se, na realidade, não pudéssemos pôr as mãos à obra, satisfazendo o desejo dos Amigos do Museu, não seria muito fácil reerguê-la.

Entre as duas edições, decorreram 15 anos, o suficiente para que a técnica de “fabricar” um livro tivesse mudado como do dia para a noite. O texto, de dactilografado passou a digitado, as imagens, de suporte em papel, passaram a ser digitalizadas, melhoradas, tratadas, photoshopadas q. b.

Sem esquecer, o principal – reencontrá-las, entre tantas mãos por que passaram. O nosso muito obrigada a quem no-las cedeu.

Era nosso desígnio, pela falta do saudoso co-autor Francisco Marques, manter o livro inalterável. E com perseverança, conseguimo-lo.

O tema escolhido – a reportagem ou o relato – de uma campanha de barra a barra (neste caso, da de Aveiro), de um lugre da pesca do bacalhau à linha, dos anos 30, com toda a azáfama, dureza, angústia, saudade, sacrifício e empenho, nos gelos perpétuos, era imutável.

E assim se manteve.

Viajemos no tempo, percorramos o cais dos bacalhoeiros, entremos a bordo de um desses lugres…Faça-o connosco.

Na Gafanha da Nazaré, frente às ‘secas’ de bacalhau que ao correr da ria se estendem de Norte a Sul, estão amarrados, de proa e de popa, cerca de duas dezenas de lugres de três mastros, construções de madeira, cascos de diferentes cores, cada um com a preferida pela sua Empresa e que, ao longe, o identifica.
Airosos, cascos finos e elegantes, muitos deles, mastros bem guindados, graciosos paus de bujarrona. Entremos num destes veleiros, já em ablativos de partida.
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Foi com muita ansiedade e satisfação que, hoje, recebemos da gráfica, a edição pronta, nas suas 112 páginas e 142 fotografias de época, consagradas, a preto e branco.



2ª Edição – 2011


Será apresentada no próximo dia 19 de Fevereiro de 2011, sábado, pelas 16 horas, no Auditório do Museu Marítimo de Ílhavo.

Lá esperamos por todos os Amigos que nos trarão o aconchego próprio destes momentos.


Gafanha da Nazaré – Lugres e secas do bacalhau


Fez e continua a fazer história a Faina Maior.


Postal antigo – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 26 de Janeiro de 2011

Ana Maria Lopes
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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A bateira erveira de Canelas – III

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Para levar os donos ao S. Paio e antes da vinda para o museu, em fins de Agosto do mesmo ano, sofreu a sua última amanhação, junto ao esteiro de Canelas. Aqui está o Ti Arnaldo, a dar-lhe os últimos retoques de breu.


A última amanhação – 25.8.1994


A 5 de Outubro, fez a última viagem pela Ria, de Canelas, até ao esteiro da Malhada. Para nós, os Amigos Francisco Marques, Aníbal Paião e para mim, foi um feriado em cheio, a seguir-lhe a viagem desde que foi visível, a partir do Cais dos Bacalhoeiros e a recebê-la de braços abertos.

A recepção, no esteiro da Malhada…


Na colunata do último edifício do Museu, aí foi esperando que fosse incorporada no espólio da anterior Sala da Ria, que abriu as suas portas a 25 de Novembro de 1995.

E lá continua, agora no actual edifício, para quem a quiser visitar.


Ecos de um passado completamente morto…

Se não tivesse sido poupada à lei da extinção que a perseguia, teria acabado pelos esteiros de Canelas e Salreu, sem vestígios de existência, como tantas outras (última imagem) que por lá havia, já num completo estado de degradação.
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Fotografias – Arquivo pessoal da autora


Ílhavo, 21 de Janeiro de 2011

Ana Maria Lopes
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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A bateira erveira de Canelas - II

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Servia para mudar gado ou carrear estrume, transportava pessoal, ervas e apanhava moliço.
Embarcação de trabalho, chegou a deslocar-se até à feira dos treze, na Vista Alegre, ao canal de S. Roque para compra de sal e não faltava aos arraiais das festas setembrinas. Podia ter ou não leme, embora para ele estivesse preparada, falcas e vela. Com estes apetrechos se deslocava anualmente à romaria do S. Paio, servindo de abrigo aos seus donos, e proporcionando-lhes uns dias de reinação e de folguedo.

Bateira erveira no S. Paio de 1993


O que sempre tinha e que a distinguia das demais bateiras, eram quatro golfiões, bem salientes, dois à proa e dois à ré. Nos esteiros acanhados da região e, sobretudo, quando transportava gado, era deslocada, por terra, da margem, por duas pessoas, com o auxílio de duas varas, que “beiçavam” firmemente nos golfiões.

Em pesquisas, nos anos 80, pela ria, e sempre sequiosa de informações, soube que ainda poderia conhecer o mestre-construtor destas embarcações. Lá fui até casa dele em Canelas, o ti Arnaldo Domingues Rodrigues Pires (1921 – 1997), que, amavelmente, me mostrou o local, onde construía, à época, pequenas caçadeiras e os antigos moldes da última bateira erveira de Salreu, por ele construída em 1964. Orgulhava-se da obra.

Também tinha trabalhado com os Mestres Luciano e Manuel Maria Garrido, durante 31 anos, sobre os quais me confessou não serem dos mais hábeis na construção de barcos moliceiros.

Em Outubro de 1994, a referida embarcação foi adquirida pela Associação dos Amigos do Museu ao próprio dono, Sr. José Luciano de Andrade, conhecido pelo Ti Zé da Fonte.

Foi o próprio Ti Arnaldo quem ofereceu ao Museu os seus moldes, que lhe serviam de suporte à construção e que podem aí ser identificados com as respectivas partes da embarcação.

Antiga Sala da Ria – 1995

(Cont.)

Ílhavo, 14 de Janeiro de 2011

Ana Maria Lopes
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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A bateira erveira de Canelas - I

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Existe na Sala da Ria do MMI uma provocadora embarcação, completamente negra, e último exemplar genuíno da Ria. Já foi referida a propósito do modelo à escala que o Sr. Capitão Marques da Silva fez dela.



Na Sala da Ria do MMI


Mas, para mim, tem uma história muito mais especial.
A bateira erveira de Canelas, com registo de ervagens, é assim conhecida por Domingos José de Castro, por bateira moliceira ou de Canelas por Lamy Laranjeira e por moliceiro de Salreu por Octávio Lixa Filgueiras.
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“Namorei-a” durante anos, quando ainda nem sequer imaginava vir a ser directora do, à época, Museu Marítimo e Regional de Ílhavo, portanto, antes da década de noventa. Sempre que passava para o Porto, de comboio, uma excêntrica embarcação, a A 486 H, no esteiro de Canelas, quando ainda era navegável, atraía-me.


Bateira erveira de Canelas – Anos 80


Mais tarde, já pensava que havia de a conseguir para integrar o espólio da Sala da Ria. E assim foi – é a bateira erveira de Canelas que lá está.

É uma embarcação cujas linhas lembram exactamente um moliceiro, de que parece ser uma fiel miniatura. Com cerca de 9 a 10 metros de comprimento, 40 centímetros de pontal, 1,30 metros de fundo entre as cavernas e 2 metros de boca, a bateira erveira de Canelas tem 14 cavernas e é completamente embreada a negro, por vezes, enfeitada com umas pintas brancas, feitas “a carimbo”. Era construída em pinho com cavernas de carvalho e oliveira, que resistiam mais às águas paradas de Canelas, que apodreciam a madeira com muita facilidade.

(Cont.)

Ílhavo, 7 de Janeiro de 2011

Ana Maria Lopes
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sábado, 1 de janeiro de 2011

Mensagem de Ano Novo

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E lá chegou o Novo Ano!...


Ílhavo, 1 de Janeiro de 2011

Ana Maria Lopes
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