sábado, 4 de maio de 2024

ÚLTIMA CAMPANHA DA PESCA À LINHA. 1974.

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A prosa romanceada do mais recente livro de Manuel Martins, intitulado” Última campanha da pesca à linha”, foi elaborada a bordo do penúltimo navio da citada pesca  – “São Jorge”.

O primeiro episódio passa-se com o 25 de Abril, quando o navio “São Jorge”, navegava no canal com o mesmo nome, a caminho dos bancos da Terra Nova.

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“São Jorge” em S. Pierre, em 1974
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Desde que me comecei a interessar pela Faina Maior, já lá vão muitos anos, logo soube que, no ano de 1974, os únicos três navios que foram à pesca à linha, do bacalhau, foram o “O Ilhavense”, o “São Jorge” e o “Novos Mares, os três, navios-motor.

O “São Jorge” navegava serenamente, com mar de pequena vaga, a caminho dos mares da Terra Nova, a 22 de Abril de 1974.

Este navio, baptizara-o, eu, na Gafanha da Nazaré, com doze anos, e naufragara, por incêndio, entre a tripulação, com o imediato, Manuel Martins, que chegara a ver a morte, a 26 de Julho de 1974 – contrastes.

Depois de algumas pesquisas de fundos, para a pesca, a  primeira semana no Rocos fora proveitosa para todos. Mas, um dia, pela manhã, 26 de Junho, o “Ilhavense” emitiu um SOS, comunicando que tinha fogo a bordo. O capitão do “São Jorge” logo ordenou que fossem em auxílio do navio incendiado.  Em menos de meia hora, estava a 200 metros do dito navio, que já tinha o pessoal, dentro dos botes, na água, bem como a baleeira com os oficiais e a restante tripulação.

Um acidente!..., mas sem perda de vidas! Era um cenário desolador, para o pescador, já a salvo, ver o seu bote à deriva, para ser tragado pelo oceano. Entretanto, o “Novos Mares”, que estava mais distante, ainda chegou a tempo de salvar alguns náufragos, que, entretanto, foram levados até St. John`s, para ser tratado o repatriamento.

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“O Ilhavense”

Pelas condições climatéricas e pelas diversas notícias, chegadas de Portugal, o Verão, na Terra Nova, estava mesmo a ser um Verão quente…Muitas reuniões, muitas reivindicações, mutos problemas, mas nada se resolvia. Só o regresso a Portugal era o desejo dos tripulantes.

Era, pois, meio-dia de 26 de Julho do ano de 1974, quando os dois navios sobreviventes da frota branca, largaram de St. John`s. Era um adeus até sempre, na esperança de, no ano seguinte, regressarem, possivelmente, como tripulantes, a bordo de um arrastão.

Apesar de não serem as condições ideais, eram, contudo, boas condições para navegar para a terra-pátria.

Mal tinham acabado de comer a sopa do jantar, pelas 18 horas, sentiram a máquina parar. O ajudante, esbaforido, avisou: venham ajudar, há fogo na casa das máquinas!... Começou o capítulo o “naufrágio”, de todos o mais pungente e aflitivo. Todo o processo de salvamento para bordo do “Novos Mares” foi muito complicado e perigoso, mas o do imediato Norberto transcendeu tudo o que é narrável. O autor, Manuel Martins, apesar de o ter sentido na pele e na alma, optou por ser um narrador não participante, sob o heterónimo de Norberto, através de um narrador que conta, na terceira pessoa, o seu salvamento. Deixo para o leitor a avaliação de todos os pormenores e aflições. Já no “Novos Mares”, o Antenor disse para o imediato Norberto: Você salvou-se por um triz. É preciso ter uma força anímica muto forte para conseguir um feito tão audacioso.

Tendo atracado o “Novos Mares”, em St. John`s, o repatriamento dos náufragos seguiu-se nos trâmites habituais.

Sobrou o “Novos Mares”, que saiu da Terra Nova e chegou à Gafanha da Nazaré, sem peixe, carregado de sal, com a companha em greve, em inícios de Agosto de 1974.

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“Novos Mares”, à chegada…
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Terminava assim a epopeia da última campanha da pesca do bacalhau à linha, nos bancos da Terra Nova.

Ílhavo, 4 de Maio de 2024

Ana Maria Lopes