Joaquim Ruivo, homem da borda de água, com uma casa modesta de lavoura, com farta horta, saudáveis produtos, trata do gado e apanha junco para lhe renovar a cama. Num esteiro próximo de casa, abrigava o seu barco, que reconstruía, quando necessitava, participando também em amanhações de barcos de amigos. Ia ao moliço para uso próprio, quando o havia e decorava barcos, estando o dele sempre muito aprimorado. Além do mais, constrói cangas vareiras nas horas vagas…Um modus vivendi…
ESTÁ AQUI, MAS NAO É P' RA TI…
Daria um belíssimo pintor de moliceiros, se a luta pela vida lhe permitisse e houvesse número de embarcações que justificasse. Os motivos florais e as ramagens são em tudo idênticas às gravadas nas cangas.
Começou o ofício aos catorze anos, tendo feito já cangas para Cortegaça, Furadouro, Ovar, Murtosa, Torreira, Avança, Válega, Estarreja, Salreu, Canelas, Angeja, Vilarinho, Póvoa do Paço, Sarrazola, Oliveirinha, Frossos e S. João de Loure.
Genericamente, executa sempre o mesmo tipo de canga, gravada, esculpida, alta no centro, abatendo-se abruptamente, dos lados, para aí terminar em forma de disco. No entanto, tem algumas diferenças conforme as localidades e as funções a que se destina: mais ou menos baixa, mais ou menos larga, mais ou menos esculpida, mais ou menos forte, pintada ou envernizada.
Para a alagem das redes no mar, aí todos a queriam pintada, bem esculpida, a mais bonita de todas, se possível.
Alagem das redes na Torreira – Anos 80
Utiliza normalmente o eucalipto, embora já tenha usado o carvalho, amoreira e “langomeiro” (lamegueiro). Vai directamente aos pinhais, escolhe as árvores adequadas, trata com os donos, negoceia, põe abaixo, leva a madeira à serração e armazena a necessária, em casa.
Do mesmo “pranchão” (tábua em bruto) pode tirar duas ou três cangas, desde que pratique um bom aproveitamento da madeira, aproveitando as reentrâncias e convexidades de ambas.
J. Ruivo na sua oficina – Anos 80
(Cont.)
Fotografias – Cedência de Paulo Miguel GodinhoÍlhavo, 11 de Novembro de 2009
Ana Maria Lopes
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