Joaquim Ruivo (tive, agradavelmente, notícias dele, noutro dia), e ainda mantém esta ocupação.
Em primeiro lugar, a canga é cortada – explicou-me –, sendo constituída pela parte inferior, direita, o braço, que termina lateralmente em dois círculos, as maçãs ou romãs e pela parte superior, recortada em forma de castelo – o pente.
Para aperfeiçoamento de todas as partes direitas, é metida a garlopa (plaina grande), para desempenar, aplainar e desengrossar, pois a canga é mais grossa no braço que no pente.
Rectificadas todas as medidas, feitas as quininhas em volta do pente e das maçãs, entra em desenho. Após uma marcação central e longitudinal com régua, o artista grava a compasso o que pode, para então riscar a lápis os desenhos.
Estes – refere – vai-os armazenando na cabeça, para serem usados, consoante a inspiração do momento. Dentre os motivos centrais mais frequentes, sobressaem a sagrada custódia, o vaso de flores, a cruz de Cristo, a flor-de-lis, o escudo português e o signo-saimão.
Os elementos decorativos menores são linhas e flores picadas, ramagens dispostas ou não em friso.
Marcadas as furações (furos necessário às piaças, tamoeiro e coleiras), toda a superfície da face frontal da canga é recoberta de motivos entalhados e pouco vazados.
A face posterior também é gravada e pintada, embora menos ricamente; é no verso que surgem normalmente as iniciais do jugueiro e a data da conclusão da obra.
Em primeiro lugar, a canga é cortada – explicou-me –, sendo constituída pela parte inferior, direita, o braço, que termina lateralmente em dois círculos, as maçãs ou romãs e pela parte superior, recortada em forma de castelo – o pente.
Para aperfeiçoamento de todas as partes direitas, é metida a garlopa (plaina grande), para desempenar, aplainar e desengrossar, pois a canga é mais grossa no braço que no pente.
Rectificadas todas as medidas, feitas as quininhas em volta do pente e das maçãs, entra em desenho. Após uma marcação central e longitudinal com régua, o artista grava a compasso o que pode, para então riscar a lápis os desenhos.
Estes – refere – vai-os armazenando na cabeça, para serem usados, consoante a inspiração do momento. Dentre os motivos centrais mais frequentes, sobressaem a sagrada custódia, o vaso de flores, a cruz de Cristo, a flor-de-lis, o escudo português e o signo-saimão.
Os elementos decorativos menores são linhas e flores picadas, ramagens dispostas ou não em friso.
Marcadas as furações (furos necessário às piaças, tamoeiro e coleiras), toda a superfície da face frontal da canga é recoberta de motivos entalhados e pouco vazados.
A face posterior também é gravada e pintada, embora menos ricamente; é no verso que surgem normalmente as iniciais do jugueiro e a data da conclusão da obra.
Após o risco, segue-se a talha, que o artista designa pelo nome de moldura. Utiliza formões, goivas de vários tamanhos e ferrinhos de fundo, também de diversas dimensões, para os diferentes gravados. Em movimentos rítmicos de martelo, o desenho ganha relevo, a cada batedela.
São cores alegres, porque a vida do campo também o era. Esta ligação entre as cores e a labuta na terra imprime a este tipo de trabalho artesanal uma carga antropológica muito forte, bem como sentimentos religiosos muito enraizados nas vivências de um povo.
As cores mais usadas são o amarelo (para fundo) o rosa vivo, o encarnado, o azul, o laranja e o verde. As tintas, hoje industriais, eram, primitivamente, preparadas com anilinas em pó a que se juntava óleo de linhaça e secante líquido.
Chegou o momento final do encabelamento, que se traduz na aplicação de maçanetas ou touças de pelo de cauda de cavalo, no rebordo superior do pente (cinco a sete tufos), e no das maçãs (cinco tufos), pretas e brancas, alternadamente.
Quanto à antiguidade deste tipo de peça, referem Ernesto Veiga de Oliveira e os seus colaboradores, in Sistemas de atrelagem dos bois em Portugal, Lisboa, 1973, que todos os exemplares de jugos que conhecem, quando datados, são-no sempre e unicamente a partir da segunda metade do século XIX, sendo o exemplar datado mais antigo, de 1868. Este período corresponde a uma melhoria de vida campesina, reflectida nomeadamente na decoração de outras alfaias agrícolas e no engrandecimento da vida e casa rurais.
Na sua opinião, os grandes jugos lavrados representarão, provavelmente, o desenvolvimento de uma dessas anteriores cangas de tábuas, modestas e sem grande valor.
Será que a decoração do barco moliceiro também testemunha um processo idêntico? Terá ele enriquecido as suas roupagens, pela mesma época, para denotar, como alfaia agrícola que era, a pujança do seu dono? De barco indiferenciado, ter-se-á transformado num exemplar exuberantemente decorado, até por influência, também, da vinda de algumas gentes nortenhas para a região?
É uma hipótese perfeitamente aceitável, até porque os primeiros barcos eram quase despojados de decoração e a própria decoração, de que há documentos fotográficos (princípios do século XX), era extremamente modesta, moderada e simplista.
Fotografias – Cedência de Paulo Miguel Godinho
Ílhavo, 15 de Novembro de 2009
Ana Maria Lopes
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