Na Costa-Nova, enquanto se vão fazendo as limpezas e preparando a casa para o Verão da criançada, fui escolhendo umas revistas e deparei com uma pequena brochura – Creoula.
Folheei-a, recordei as últimas vindas do Creoula aqui à Gafanha e fui salpicando a leitura.
O Creoula é um lugre de quatro mastros. Construído no início de 1937 nos estaleiros da CUF para a Parceria Geral de Pescarias, o navio foi lançado à água no dia 10 de Maio e efectuou ainda nesse ano a sua primeira campanha de pesca. Um número a reter é o facto de ter sido construído no tempo record de 62 dias úteis.
Estas informações já são sobejamente conhecidas.
.
Em 1979 o navio foi comprado à Parceria Geral de Pescarias pela Secretaria de Estado das Pescas, para nele ser instalado um museu de pesca.
Havia experiências anteriores muito negativas (o caso do Hortense), mas, tendo-se verificado o bom estado do casco, deliberou-se que o Creoula se manteria a navegar e seria transformado em Navio de Treino de Mar (NTM), para apoio na formação de pescadores e possibilitar a vivência de jovens com o mar. E assim foi.
Em 1 de Junho de 1987, por despacho oficial, o Creoula foi formalmente entregue ao Ministério da Defesa Nacional, passando a ser designado como Unidade Auxiliar de Marinha (U.A.M.) e classificado como navio de treino de mar.
Para tal, o navio sofreu algumas alterações de peso, tendo sido nessa recuperação muito importante o papel que desempenhou o Comandante António Marques da Silva, pelo seu vasto saber e conhecimento do navio, enquanto navio da pesca do bacalhau à linha, com dóris.
Termina assim a dita brochura:
Novas terras, novas gentes, usos e costumes diferentes a desvendar!
Novos conhecimentos a adquirir, experiências e desafios a vencer!
Um tempo para trabalhar – um tempo para lazer e divertimento!
…E, no fim, uma saudade nos olhos de quem parte e de quem fica.
É esta a magia de um navio carregado de história, no qual gerações de pescadores ganharam arduamente a sua vida, e onde hoje a juventude aprende a olhar o infinito do mar como só os marinheiros o podem fazer.
Bem-vindos a bordo!
Então, … parei as arrumações para respigar estas frases, só…, e mais nada?
Não, nem pensar! Algo “na manga” me fez meditar.
Tive a sorte de conviver de muito perto com dois dos actores do grande elenco que constituiu a última viagem aos Grandes Bancos do Creoula – 1973 – António São Marcos, o imediato, e o saudoso Francisco Marques, o comandante.
Melhor ainda, tive a sorte do António ter uma habilidade rara para fotografia, que pôs em prática nesta viagem, e eu possuir, por ele cedidos, uns tantos belos diapositivos desta epopeia, que ficou histórica.
Obrigada, António São Marcos, pois assim vamos surpreender e maravilhar os leitores deste blog, os amantes do mar e da aventura e os muitos apaixonados pelo Creoula, que já nele viajaram ou que gostarão de o vir a fazer.
Daqui ressalta, no meio de uma vida árdua, penosa e dura, o romantismo, o mito e a magia de uma lenda.
Saboreemos, pois.
Folheei-a, recordei as últimas vindas do Creoula aqui à Gafanha e fui salpicando a leitura.
O Creoula é um lugre de quatro mastros. Construído no início de 1937 nos estaleiros da CUF para a Parceria Geral de Pescarias, o navio foi lançado à água no dia 10 de Maio e efectuou ainda nesse ano a sua primeira campanha de pesca. Um número a reter é o facto de ter sido construído no tempo record de 62 dias úteis.
Estas informações já são sobejamente conhecidas.
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Em 1979 o navio foi comprado à Parceria Geral de Pescarias pela Secretaria de Estado das Pescas, para nele ser instalado um museu de pesca.
Havia experiências anteriores muito negativas (o caso do Hortense), mas, tendo-se verificado o bom estado do casco, deliberou-se que o Creoula se manteria a navegar e seria transformado em Navio de Treino de Mar (NTM), para apoio na formação de pescadores e possibilitar a vivência de jovens com o mar. E assim foi.
Em 1 de Junho de 1987, por despacho oficial, o Creoula foi formalmente entregue ao Ministério da Defesa Nacional, passando a ser designado como Unidade Auxiliar de Marinha (U.A.M.) e classificado como navio de treino de mar.
Para tal, o navio sofreu algumas alterações de peso, tendo sido nessa recuperação muito importante o papel que desempenhou o Comandante António Marques da Silva, pelo seu vasto saber e conhecimento do navio, enquanto navio da pesca do bacalhau à linha, com dóris.
Termina assim a dita brochura:
Novas terras, novas gentes, usos e costumes diferentes a desvendar!
Novos conhecimentos a adquirir, experiências e desafios a vencer!
Um tempo para trabalhar – um tempo para lazer e divertimento!
…E, no fim, uma saudade nos olhos de quem parte e de quem fica.
É esta a magia de um navio carregado de história, no qual gerações de pescadores ganharam arduamente a sua vida, e onde hoje a juventude aprende a olhar o infinito do mar como só os marinheiros o podem fazer.
Bem-vindos a bordo!
Então, … parei as arrumações para respigar estas frases, só…, e mais nada?
Não, nem pensar! Algo “na manga” me fez meditar.
Tive a sorte de conviver de muito perto com dois dos actores do grande elenco que constituiu a última viagem aos Grandes Bancos do Creoula – 1973 – António São Marcos, o imediato, e o saudoso Francisco Marques, o comandante.
Melhor ainda, tive a sorte do António ter uma habilidade rara para fotografia, que pôs em prática nesta viagem, e eu possuir, por ele cedidos, uns tantos belos diapositivos desta epopeia, que ficou histórica.
Obrigada, António São Marcos, pois assim vamos surpreender e maravilhar os leitores deste blog, os amantes do mar e da aventura e os muitos apaixonados pelo Creoula, que já nele viajaram ou que gostarão de o vir a fazer.
Daqui ressalta, no meio de uma vida árdua, penosa e dura, o romantismo, o mito e a magia de uma lenda.
Saboreemos, pois.
Uma pilha de sete dóris com peia reforçada, para enfrentar temporal
Envergando uma nova vela latina, em viagem
Dóris aguardam vez para atracar
Dóris à borda, a garfar peixe (descarregar com garfo)
Quetes do convés com peixe, antes da escala
Fotografias – Amável cedência do Comandante António São Marcos
Costa-Nova, 7 de Junho de 2008
Ana Maria Lopes
6 comentários:
Bom dia.
Bela maneira de começar uma semana de trabalho com umas raridades destas. Com a minha predilecção por dóris, não podia ser melhor. Além disso, fotos do Creoula "pescador" são muito raras e as centenas que se vão descobrindo na internet ocultam de certa forma o passado deste lugre, mas a vida de Marinha assim o impõem.
Reparo que afinal os dóris não eram vermelho-tinto como os actuais (representativos) no Creoula.
Muito obrigado pela sua partilha de mais uns tesouros bacalhoeiros.
AF
Lindíssima homenagem aos lugres-bacalhoeiros e, em especial, a todos os que neles embarcaram, em especial no CREOULA!
(estou aflita com muito trabalho em véspera de feriado... mas virei cá de novo deixar um comentário mais consentâneo com esta fantástica homenagem ao nosso Creoula)
Um beijinho!!
Fotografias e memórias do CREOULA de grande interesse. O CREOULA na última campanha de pesca, no final de capítulo tão duro para o navio e respectivas tripulações. Além do interesse documental destas imagens, a sua observação traduz o quanto o navio e os seus utentes actuais se aburguesaram. O CREOULA hoje é um navio lindo, mas obviamente não é mais o lugre bacalhoeiro da velha Parceria. E fico aqui a imaginar como seria o cheiro do navio nessa época, a ferrugem a babar o costado...
As minhas memórias mais antigas deste navio e do ARGUS são de Lisboa com os navios na Doca nº 2 do Estaleiro da Rocha a beneficiar as obras vivas em preparação para nova campanha.
Obrigado por divulgar estas belas imagens...
Luís Miguel Correia
Uma excelente narrativa e imagens invulgares, para mim.
Grata por esta imensa partilha.
Um abraço carinhoso ;)
É mais uma das delícias a que já nos habituou!
Pena é que não tenha "aberto mais o jogo" acerca das "...experiências anteriores muito negativas "(o caso do HORTENSE)", pois estou convencido de que muito boa gente não conhece o destino trágico dessa "peça", também maravilhosa, que poderia estar hoje "viva" como estão o "Creoula", o "Argus", o "Gazela Primeiro".
Ou será que isso vai ser assunto para outra surpresa sua?
Parabéns ... continue!
JR.
são sempre de recordar as histórias do Creoula!! obrigada por as trazer aqui ;)
António Fangueiro, penso que inicialmente eram vermelho-tinto, tal como os navios!! mas durante a guerra os navios foram pintados de branco para evitar que fossem alvejados e provavelmente nessa altura "despintou-se" também os dóris...
nota: hoje deu na RTP2 um documentário sobre a pesca do bacalhau que também vale a pena ver
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