terça-feira, 3 de outubro de 2023

A barca de passage do "Ti Manel Ameixa"

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Em dias outonais, mas estivais, mais uma vez nos lembrou a falta que fazia a barca do “Ti Ameixa”, para a travessia do Canal de Mira, frente à Costa Nova. Já há uns largos anos, fomos entrevistá-lo a casa dele.

O seu nome era Manuel da Graça, mas, por herança do avô, era conhecido por todos por Manuel Ameixa. O “Ti Ameixa”, como carinhosamente também lhe chamavam, foi uma figura emblemática do nosso concelho pela sua ligação à ria e ao vaivém das travessias efectuadas entre a Bruxa e a Costa Nova.

Nascido há 89 anos (12.10.1921) na Gafanha da Encarnação, o contacto do Ti Ameixa com a Ria começou logo na infância. Depois da escola, o seu maior prazer era ir à procura do pai para poder andar na apanha do moliço, tendo mesmo com 5 anos, aprendido a manobrar a barca.

Nessa altura, eram vários os grandes barcos mercantéis que faziam transporte de pessoas entre as duas margens, tendo o pai optado, então, por essa actividade em parceria com o filho, de 11 anos de idade (em 1932), num negócio que dava sustento a toda a família. Vinha muita gente de longe, sobretudo depois da vindima, para uns dias de descanso na Costa Nova.

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 Em primeiro plano, a barca, pelos anos 30…

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Celebravam-se ali muitos aniversários… e até os funerais passavam nas barcas!

Durante mais de 20 anos, Manuel Ameixa dedicou-se exclusivamente a esta actividade.

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 À vara…

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Mas, após a construção da nova ponte e a consequente diminuição de clientela, optou por ir trabalhar para as lanchas da J.A.P.A., não abandonando o transporte por completo. Durante os fins-de-semana e nas férias de Agosto ajudava o irmão (Adelino Ameixa) que, entretanto, ficara encarregue do negócio.

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Os Velhotes ao leme da sua barca…
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Com mais de sete décadas ao leme da sua barca, o Ti Ameixa recordou com saudade o último Verão (2006), em que fez a travessia.

Com o andar dos tempos e a falta de clientela mais acentuada, “Os Velhotes” viram-se obrigados a substituir as grandes barcas de 18 metros de comprimento, por exemplares de cerca de 12 metros, tendo sido uma delas ainda construída pelo Ti Agostinho Tavares, de Pardilhó. As últimas já foram produto das mãos de construtor do Sr. Evangelista Loureiro (Gadelha), do Seixo de Mira.

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A travessia em 1983…
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Não tinha memória de acidentes, apenas de um pequeno susto, quando, certo dia ao sair da Costa Nova, sozinho, se levantou vento com o qual não contava. Felizmente, conseguiu controlar a barca e seguiu viagem. Guardava, sim, boas recordações, quando outrora as raparigas cantavam, dançavam e o obrigavam a dançar com elas.

Todos os anos iam fazendo, ele e o irmão, as amanhações e decorações possíveis com “o engenho e arte populares”, que tinham.

Era a nossa barca da passagem, nos últimos tempos, até que deixou de existir.

Estas são as memórias de outros tempos, homenageadas pela CMI, quando em 2000, colocou uma barca que pertencia à família de Manuel Ameixa numa das rotundas da Estrada da Mota (in Agenda Cultural da CMI., Novembro, 2006).

Agora, a CMI. também podia incentivar alguém, que mantivesse o serviço da travessia, pelo menos de 1 de Julho a 30 de Setembro.

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Fotografias de Arquivo

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Ílhavo, 3 de Outubro de 2023

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Ana Maria Lopes

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