Faz, exactamente hoje, quarenta e um anos, que Ílhavo viveu um dia festivo – 29. 12. 1968.
O evento não muito bem aceite por todos. Mas história é história e D. Manuel Trindade Salgueiro, figura eclesiástica e homem de cultura, de grande relevo, era de Ílhavo (1898 – 1965) e tem o seu Largo, amplo, lá em baixo, onde todos conhecemos, a que chamamos Praça ou Largo do Bispo.
Desde adolescente que manifestei gosto por manusear máquinas de filmar – aproveitemos, pois, e divulguemos três minutinhos de filme, francamente de má qualidade; mas o que se esperaria de uma jovem amadora, há 41 anos, com uma Bell & Howell, 8 mm, maneirinha, muda e de dúbia qualidade?
Ainda por cima, as sucessivas transformações por que a peça foi passando (de 8 mm para vídeo VHS, de vídeo para DVD, e deste para o reduzido formato Web/blog), produziram o que resta.
Ílhavo, terra de homens do mar, alia, sobretudo, a figura de D. Manuel, ao Bispo que, durante anos, entre as décadas de 40 e 60, celebrou a Missa campal e dirigiu as pomposas cerimónias da Bênção dos Navios Bacalhoeiros, em Belém, frente aos Jerónimos.
Filho de pescador desaparecido em naufrágio, sempre que visitava a sua terra natal, alojava-se na sua modesta casinha, aqui, na Rua João de Deus, nº 82, rezando missa, de madrugada, na capelinha privada de S. Domingos, sita à Rua do Curtido de Baixo, e já demolida.
Era domingo, numa manhã calma, luminosa e fria de Dezembro.
A Vila de então preparara-se para a recepção de ilustres visitantes.
Das janelas, pendiam luxuosas e aveludadas colgaduras; mariatos coloridos engalanavam as ruas apinhadas de curiosos. O relógio da torre marcava o meio-dia menos vinte, quando a comitiva saiu da Igreja Matriz, onde missa festiva havia sido celebrada. Do céu choviam milhares de papelinhos multicolores; estacionados ordeiramente, os Mercedes-Benz governamentais aguardavam os ocupantes; as vestes cardinalícias, no seu tom de nobreza, esvoaçam, por entre a populaça bisbilhoteira.
Os convivas, guiados pelo Senhor Dr. Amadeu Cachim, Presidente da Câmara, à época, fizeram o percurso a pé, entre a Matriz e o referido Largo, onde duas tribunas montadas para o efeito os aguardavam.
Após os discursos da praxe, a estátua do Bispo da Gente do Mar, da autoria do escultor Leopoldo de Almeida, foi descerrada pelo Senhor Presidente da República, para gáudio da multidão que acorreu à cerimónia. Algumas figuras etnográficas da vila, trajadas a rigor, emprestavam à festa um colorido característico. Depois de um almoço opíparo, servido à comitiva, entidades locais e convidados, houve lugar a romaria ao Museu Marítimo e Regional de Ílhavo, na altura, sito na Rua Serpa Pinto. O que prova que fosse quais fossem as suas instalações, o nosso Museu Marítimo, parece, sempre ter sido a grande Sala de Visitas de Ílhavo.
Caros amigos, desculpem a qualidade do filme, mas quem partilha o que tem, a mais não é obrigado.
Filme – Arquivo pessoal da autora
Ílhavo, 29 de Dezembro de 2009
Ana Maria Lopes