Em
maré de irmãos, mais uma belíssima fotografia, sd., e cliché do Capitão Almeida (muito possivelmente), do irmão Paião, mais novo – Capitão Júlio da Silva
Paião (1905-1945).
Com
mágoa, não conheci, este homem do mar, porque partiu demasiado cedo. Tendo
conhecido, desde muito jovem, a Senhora D. Vicência Fonseca, sua viúva, porque
frequentava na mesma casa as explicações da Senhora D. Micas Fonseca, sei lá…
não tinha idade para relacionar as famílias, nem nunca o teria sabido.
Eis
que no lançamento do primeiro livro do Engenheiro Fonseca Nas Rotas dos Bacalhaus – Séc. IX
ao Séc. XVI, em 2005, na avidez de me inteirar do seu conteúdo, dei de
caras com um depoimento, de que respigo umas palavras, que, para mim, foram
mais fortes, afectuosas e comoventes do que todo o resto – sempre disse o que
pensava a esse respeito.
Refere
o autor: - Mas fi-lo acima de tudo, por
reconhecimento a tantos com quem convivi, de quem ouvi histórias de pasmar – e
de encantar! –, que me deram uma vida plena de orgulho ao poder ajoujar-me à
auréola da sua grandeza. De todos esses, que tantos foram! – seja-me permitido
destacar (…) em particular o meu tio e padrinho, Cap. Júlio Paião – figura de
enorme prestígio entre os seus pares, homem singularmente austero, de uma frontalidade que raiava a dureza no
trabalho, mas onde coexistia uma babada e quase obsessiva dedicação a este seu
sobrinho (…) com quem, diariamente, anos
a fio, percorri de bicicleta os caminhos para o ancoradouro do CRUZ
DE MALTA
(…).
Ainda
por cima, no Cruz de Malta, o navio mais velhinho e de menor capacidade de Testa
& Cunhas, mas, talvez porque tivesse sorte, era considerado a mascote, uma espécie
de talismã, para a empresa.
Apressei-me a ir àquelas relíquias que são as fichas do Grémio,
uma grande ajuda para identificações de homens, navios e cargos e tudo batia
certo.
Segundo a mesma fonte, fora piloto no José Alberto, da praça da Figueira da Foz, em 1936, piloto e/ou imediato, alternadamente, no Gazela I, da praça de Lisboa, entre os anos 1937 a 40 (inclusive),
sendo capitão o seu irmão Francisco. E com fotógrafo a bordo, mais um bonito cliché, no Gazela, em 1937, enquanto
piloto, imagem datada e documental.
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A bordo do Gazela, em 1937
Em 1942, tivera a
oportunidade de passar para navios da praça de Aveiro, nomeadamente para Testa
& Cunhas, tendo feito a campanha de 1942
como piloto do Novos Mares, lugre de
4 mastros construído em 1936, nos
Mónica, que o meu avô Pisco inaugurara, nesse ano, só à vela, em viagem à
Groenlândia. Ter-se-iam cruzado, pois o meu avô deixou o mar, nessa última
viagem de 42. Coincidências!…
O Cap. Júlio Paião transitou para o Cruz de Malta, nos anos de 1943
e 44, como capitão, tendo já
chegado abalado de saúde, no fim da viagem. Com promessa da empresa de que
viria a comandar o Novos Mares, pois
já estava na carreira o navio-motor Inácio
Cunha, a vida não o deixou enfrentar mais do que uma longuíssima viagem,
que a todos espera, mais tarde ou mais cedo, viagem sem retorno.
À direita, no Cruz de Malta
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Ílhavo, 28 de Fevereiro de 2016
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Ana Maria
Lopes
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2 comentários:
Ao ver esta referência ao CRUZ DE MALTA, apetece-me aqui evocar o que foi a agonia de tão bonito lugre, que num belo dia de sol, eu vi naufragar na Terra Nova, naquele fatídico 1958, ano em que também se afundaram outros velhos lugres, como o ANA MARIA, MARIA DAS FLORES, MILENA, SANTA ISABEL, etc.
Estava então a bordo do Gil Eanes, quando aquele navio, altas horas da madrugada, foi abandonado com «água aberta».
Ao ser dado como perdido, e para abreviar a sua agonia, chegaram-lhe fogo, como se fosse uma espécie de «eutanasia»...
A verdade é que durante todo o dia, aquilo era só fumaça, que se prolongaria quase até ao por do sol, altura em que o navio finalmente soçobrou de popa, com o gurupés bem apontado ao céu, como se fora um dedo acusador, para quem assim o abandonou.
Cordiais saudações marinheiras,
Al bino Gomes
Caro Sr. Albino:
Obrigada pelos seus testemunhos.
Cumprimentos
Ana Maria Lopes
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