domingo, 9 de agosto de 2015

AMI enriquece espólio pictórico do MMI

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Neste 8 de Agosto, em que o Museu de Ílhavo cumpriu as suas 78 primaveras, a AMI teve o prazer de enriquecer a colecção de pintura, que, desde há dois anos, se exibe em sala apropriada para o efeito, – o melhor dos nossos maiores e não só…. temas marítimos ou lagunares, dentro de determinadas correntes que se consideram essenciais na colecção.
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Em dia de Documentário sobre varinas, o que havia de ser?
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A lembrança foi um interessante original a tinta-da-china, de Arlindo Vicente, adquirido em leiloeira, de temática regional, datado de 1928, cheio de varinasGente da Barra e da Ria de Aveiro. O traço lembra, em muitos aspectos, o nosso João Carlos.
Personalidade multifacetada, advogado e pintor autodidacta, militante antifascista, Arlindo Vicente saltou para a ribalta, quando, em 1958, disputando a campanha para Presidente da República, desistiu a favor da candidatura de Humberto Delgado.
Em 1970, trocou a advocacia pela pintura, tendo levado a efeito a sua primeira exposição individual de pintura, na SNBA.

Tinta-da-china de Arlindo Vicente

A cena parece situar-se junto do Canal Central, em Aveiro, em que o bico de uma gaivota em voo alado, como que em bailado, tenta beijar a bica de um moliceiro, de velas prenhes e remendadas.
Em primeiro plano, embeleza a cena um casal de pescador e varina.
Ele, figura alta e esguia, descalço, veste calça branca, com camisa quadriculada e, na cabeça, barrete negro, terminado pela tradicional borla.
Sobre o pé, de chinelinha abicada de verniz, das varinas, bate-lhes saia rodada riscada ou quadriculada, salientando-lhe as ancas bamboleantes. Cinta ou faixa iça-lhe a saia, mais ou menos, consoante o necessário. Sobre a cintura fina, assenta um avental claro, por onde espreita a tradicional algibeira, para os trocos. Blusa branca de manga comprida e decotada salienta-lhes o peito roliço e sedutor.
Sobre o rosto esguio, assenta-lhes lenço de estampados diversos, ora caído para trás, ora envolvendo o rosto, encimado por chapéu de feltro de aba baixinha e copa mediana. Sobre este, a típica rodilha em que assenta a canastra alongada que expõe o peixe prateado aos passantes.
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 – Quem quer sardinha vivinha a saltar? – apregoam.
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 E são assim as varinas de Arlindo Vicente, na sua desenvoltura e elegância.

Costa Nova, 9 de Agosto de 2015
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Ana Maria Lopes
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