Neste
8 de Agosto, em que o Museu de Ílhavo cumpriu as suas 78 primaveras, a AMI teve
o prazer de enriquecer a colecção de pintura, que, desde há dois anos, se exibe
em sala apropriada para o efeito, – o melhor dos nossos maiores e não só…. temas
marítimos ou lagunares, dentro de determinadas
correntes que se consideram essenciais na colecção.
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Em
dia de Documentário sobre varinas, o que havia de ser?
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A
lembrança foi um interessante original a tinta-da-china, de Arlindo Vicente, adquirido em leiloeira,
de temática regional, datado de 1928,
cheio de varinas – Gente da Barra
e da Ria de Aveiro. O traço lembra, em muitos aspectos, o nosso João
Carlos.
Personalidade
multifacetada, advogado e pintor autodidacta, militante antifascista, Arlindo Vicente saltou para a ribalta, quando,
em 1958, disputando a campanha para
Presidente da República, desistiu a favor da candidatura de Humberto Delgado.
Em
1970, trocou a advocacia pela pintura, tendo levado a efeito a sua primeira
exposição individual de pintura, na SNBA.
Tinta-da-china
de Arlindo Vicente
A
cena parece situar-se junto do Canal Central, em Aveiro, em que o bico de uma
gaivota em voo alado, como que em bailado, tenta beijar a bica de um moliceiro, de velas prenhes e
remendadas.
Em
primeiro plano, embeleza a cena um casal de pescador e varina.
Ele,
figura alta e esguia, descalço, veste calça branca, com camisa quadriculada e,
na cabeça, barrete negro, terminado pela tradicional borla.
Sobre
o pé, de chinelinha abicada de verniz, das varinas, bate-lhes saia rodada
riscada ou quadriculada, salientando-lhe as ancas bamboleantes. Cinta ou faixa
iça-lhe a saia, mais ou menos, consoante o necessário. Sobre a cintura fina,
assenta um avental claro, por onde espreita a tradicional algibeira, para os
trocos. Blusa branca de manga comprida e decotada salienta-lhes o peito roliço
e sedutor.
Sobre
o rosto esguio, assenta-lhes lenço de estampados diversos, ora caído para trás,
ora envolvendo o rosto, encimado por chapéu de feltro de aba baixinha e copa
mediana. Sobre este, a típica rodilha em que assenta a canastra alongada que
expõe o peixe prateado aos passantes.
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– Quem quer sardinha vivinha a saltar? –
apregoam.
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E são assim as varinas de Arlindo Vicente, na sua desenvoltura e elegância.
Costa
Nova, 9 de Agosto de 2015
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Ana Maria Lopes
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