Uma
paisagem que sempre me encantou – a travessia do Canal do Boco, entre as
traseiras da quase bicentenária Fábrica da Vista-Alegre e a Gafanha da Boavista
– com a sua luminosidade, a água espelhante, a barca de negro embreada, timonada
pelo barqueiro (Ó, da barca!...), a simplicidade tosca do trapiche… Hoje, figura humana enriquece
a paisagem. Mulher das Gafanhas…
Mulher
de trabalho, de pés descalços, veste com grande simplicidade: saia lisa, ajustada
e avental florido pelo meio da perna anafada. Blusa garrida e estampada, de
manga comprida. Carregada, quereria passar para a outra banda.
O
xaile típico, supostamente amarelado,
de lã, com cadilhos torcidos, caindo pelas costas, dobrado em diagonal, sustido
no braço esquerdo, envolve a afadigada mulher. Segura à cabeça, em equilíbrio,
um cesto de vime, pejado de lenha que acarreta para casa. Para atear a fogueira
onde as crianças se aquecerão enquanto cozinha, durante o inverno?
De
perfil…
Ó
da barca!...
De
frente, com rodilha a proteger-lhe a cabeça, de cabelo apanhado, faz prova de
esforço, com os braços em asas de ânfora, que sustêm e equilibram o peso da
lenha.
Poderia
ter inspirado algum escultor da VA?
Existe uma figura de mulher – tricana –, policromada, de cantarinha à cabeça,
que, de algum modo, me lembra esta mulher.
De
frente, para a fotografia
Ó
da barca!...
E
a grande e negra barcaça aproxima-se lentamente, para transportar a esforçada
passageira. Vidas e destinos!..............
Ó
da barca!...
Fotografias - Gentil
cedência de familiar de Cândido Ançã
Ílhavo, 6 de Abril de 2013
Ana
Maria Lopes
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