terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Inauguração da Estátua do Bispo do Mar

Faz, exactamente hoje, quarenta e um anos, que Ílhavo viveu um dia festivo – 29. 12. 1968.
O evento não muito bem aceite por todos. Mas história é história e D. Manuel Trindade Salgueiro, figura eclesiástica e homem de cultura, de grande relevo, era de Ílhavo (1898 – 1965) e tem o seu Largo, amplo, lá em baixo, onde todos conhecemos, a que chamamos Praça ou Largo do Bispo.

Desde adolescente que manifestei gosto por manusear máquinas de filmar – aproveitemos, pois, e divulguemos três minutinhos de filme, francamente de má qualidade; mas o que se esperaria de uma jovem amadora, há 41 anos, com uma Bell & Howell, 8 mm, maneirinha, muda e de dúbia qualidade?
Ainda por cima, as sucessivas transformações por que a peça foi passando (de 8 mm para vídeo VHS, de vídeo para DVD, e deste para o reduzido formato Web/blog), produziram o que resta.

Ílhavo, terra de homens do mar, alia, sobretudo, a figura de D. Manuel, ao Bispo que, durante anos, entre as décadas de 40 e 60, celebrou a Missa campal e dirigiu as pomposas cerimónias da Bênção dos Navios Bacalhoeiros, em Belém, frente aos Jerónimos.

Filho de pescador desaparecido em naufrágio, sempre que visitava a sua terra natal, alojava-se na sua modesta casinha, aqui, na Rua João de Deus, nº 82, rezando missa, de madrugada, na capelinha privada de S. Domingos, sita à Rua do Curtido de Baixo, e já demolida.

Era domingo, numa manhã calma, luminosa e fria de Dezembro.
A Vila de então preparara-se para a recepção de ilustres visitantes.
Das janelas, pendiam luxuosas e aveludadas colgaduras; mariatos coloridos engalanavam as ruas apinhadas de curiosos. O relógio da torre marcava o meio-dia menos vinte, quando a comitiva saiu da Igreja Matriz, onde missa festiva havia sido celebrada. Do céu choviam milhares de papelinhos multicolores; estacionados ordeiramente, os Mercedes-Benz governamentais aguardavam os ocupantes; as vestes cardinalícias, no seu tom de nobreza, esvoaçam, por entre a populaça bisbilhoteira.


Os convivas, guiados pelo Senhor Dr. Amadeu Cachim, Presidente da Câmara, à época, fizeram o percurso a pé, entre a Matriz e o referido Largo, onde duas tribunas montadas para o efeito os aguardavam.


Após os discursos da praxe, a estátua do Bispo da Gente do Mar, da autoria do escultor Leopoldo de Almeida, foi descerrada pelo Senhor Presidente da República, para gáudio da multidão que acorreu à cerimónia. Algumas figuras etnográficas da vila, trajadas a rigor, emprestavam à festa um colorido característico. Depois de um almoço opíparo, servido à comitiva, entidades locais e convidados, houve lugar a romaria ao Museu Marítimo e Regional de Ílhavo, na altura, sito na Rua Serpa Pinto. O que prova que fosse quais fossem as suas instalações, o nosso Museu Marítimo, parece, sempre ter sido a grande Sala de Visitas de Ílhavo.

Caros amigos, desculpem a qualidade do filme, mas quem partilha o que tem, a mais não é obrigado.




Filme – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 29 de Dezembro de 2009

Ana Maria Lopes

3 comentários:

João Reinaldo disse...

Homenagem justa e oportuna, no dia exacto do aniversário da inauguração da estátua do Bispo.
Quem mais se lembraria de tal facto?
Esse baú não tem mesmo fundo!!!
João Reinaldo

Unknown disse...

Florida, USA
28 de Dezembro, 2009

Tive a dita de assistir no altar a D. Manuel, na nossa Se Catedral de Aveiro, como jovem Escuteiro de 17 anitos. Que grande Homem e que grande Bispo.
Aproveito para deixar um grande abraco ao antigo condiscipulo do Liceu, Joao Reinaldo, que possivelmente ja nem se lembra de mim. Afinal, ja se passaram mais de 46 anos desde que nos vimos pela ultima vez.
Mas olha que, ha 3 anos, estando eu na Costa Nova na companhia do Quim Coelho, meu/nosso amigalhaco daqui, nos States, o Joao Peixoto reconheceu-me pela voz. Como eh evidente, seguiram-se os abracos da praxe. Passaram dois minutos e topo de frente com o Antonio Manuel (To Maneu, naqueles tempos).
Se Carlos Fonseca nao te diz nada, talvez Marquitos, do basket do Liceu e do Beira-Mar.
E agora, vais la?
Um abraco,
Carlos

fangueiro.antonio disse...

Boas.

Só temos a agradecer que compartilhe estas coisas connosco. Quem dera que tanto e tanto que anda guardado por instituições e museus, estivesse mais disponível desta forma.
Pergunto também quem são as figuras públicas de hoje que são recebidas com flores e multidão... .

Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt