domingo, 5 de julho de 2009

A ponte das Duas Águas, num domingo de Julho


Hoje, com o movimento que há, seria impensável.

Mas, atenção que as pontes não andam lá muito seguras, ultimamente, por este país! Basta nos lembrarmos da tragédia de Entre-os-Rios!

No dia 5 de Julho de 1951, um domingo como hoje (há 58 anos), a ponte de madeira das Duas Águas, que ligava o Forte à Barra, arriou, abrindo uma brecha de uns bons pares de metros, exactamente no momento em que passava uma camioneta de carga.

Milagrosamente, para lá do mergulho e afundanço da camioneta, não houve mais consequências nefastas, pois que os seus três tripulantes safaram-se a nado, depois de um grande susto.

Aspecto da ponte, após o acidente – 1951


As forças vivas do concelho deveriam, pois, actuar. Continuando a velha ponte a servir de passagem entre as duas margens da ria, várias dezenas de pessoas teriam a sua vida em risco!
Diz que se ouviram lamentos: – Agora… mais um compasso de espera para o comércio da Costa-Nova e da Barra. Quem compensa?

A tragédia não atingiu maiores proporções, porque a camioneta de passageiros que seguia atrás, pôde ser travada a tempo. O condutor, com perícia, conseguiu recuá-la para terra firme.

Na imprensa da época, lê-se com frequência – Ponte interrompida para obras, Ponte Farol /Barra sujeita a benefício…
Lembro-me dessa agruras, a que os mais novos achavam muita piada, mas os mais velhos nem tanto…
Uma camioneta de cada lado… e os passageiros tinham de passar a ponte a pé (expressão com que se brincava), com o tremelicar contínuo dos barrotes, que, nas junções, deixavam a água corrente e profunda, à vista, lá em baixo.

Durante esse interregno houve momentos, devido ao corte da ponte, em que nem esse tipo de travessia era possível!


Havia um plano para a construção de uma ponte em cimento armado que tardava. Só ficou pronta no Verão de 1975, com acessos ainda provisórios e em Março de 77, a velha ponte de madeira, foi demolida.

Mais uma imagem da ocorrência – 1951


Então, o serviço da travessia entre a Costa-Nova e a Gafanha da Encarnação era sobrecarregado, para o que não estava preparado.
Estavam, à época, ao serviço da travessia duas lanchas da carreira, a Rosa Branca e a Costa-Nova, que não aprovaram por muitos anos. Recorreu-se, de novo, às pesadonas barcas da passagem.

A Rosa Branca, à esquerda da Mota


Como a afluência era muita, lê-se na imprensa regional de então, a 1 de Agosto, que chegou a haver pequenos incidentes na travessia, em dois domingos seguidos.
“ (…) Estava atracada à mota da Costa uma lancha da carreira. O povo foi entrando e os barqueiros não notaram que um dos bordos da embarcação estava em cima da mota. Quando se afastou aquela, como o povo era muito, a lancha inclinou-se tanto que alguns passageiros e algumas bicicletas foram cuspidos à água.
Houve pânico, alarido, mas felizmente o acidente não resultou senão num banho forçado (…)".

Mas, pasme-se: - notícia de 10 de Agosto de 1951 anuncia: " (…) A ponte das Duas Águas já dá passagem a carros ligeiros (…)", apesar do travejamento continuar sempre a tremelicar.

Meu Deus! Parece que as obras eram mais rápidas pelos anos cinquenta do que agora, pois actualmente, na praia, no Verão, ainda continuam a perseguir-nos!...

Nos meus sete anos, recordo-me da ocorrência, mas sem grandes pormenores. Foi um desaforo na Costa-Nova! Quem, porventura, tiver um conhecimento mais profundo do acontecimento, poderá acrescentar algo mais. Agradece-se…

Saiba mais aqui.

Fotografias – Arquivo pessoal da autora

Costa-Nova, 5 de Julho de 2009

Ana Maria Lopes

7 comentários:

Anónimo disse...

Quatro notas relativamente à bonita fotografia da Mota:

1ª: A excelência estética de todo o conjunto que era a Mota.

2ª: O magnífico fim de tarde (o Sol já está baixo e a rondar para WNW).

3ª A embarcação "Costa Nova", aproada a sul, a "rasar" a cobertura da Mota.

4ª: As crianças sózinhas -situação impensável hoje em dia- a brincar junto à água, talvez à pesca de caranguejos com uma lasca de bacalhau como isco.

Anónimo disse...

Não "tomo escarmento"e volto aos comentários.
1 . Não havendo ponte na Vagueira(nem,quasi,água...)chegaram a passar-se carros em "trens"de 2 barcas,lado a lado,com uns barrotes a uni-las.Julgo que foi solução apenas para escoar os carros "aprisionados"na Costa Nova.
2 . Na Gafanha da Encarnação,um sr.Conde,provavelmente ascendente dos actuais construtores,construiu 2 barcos,a motor,mas DE RODAS LATERAIS,como os do Mississipi.Acho que aos mesmos barcos foram retiradas as rodas de pás laterais,e colocado um (pequeno) hélice.É essa versão que aparece na fotografia.(suponho...)
Cumprimentos,"kyaskyas".

Anónimo disse...

No blogue "ramalheira.no.sapo"está uma fotografia de uma das lanchas de rodas laterais(tipo Mississipi).Pelo menos é o que parece pelo "borbotar"da água a meia-nau ...E é dia das festas...
Cumprimentos,
"kyaskyas"

Anónimo disse...

Numa espécie de despedida,ciente de uma certa "descentragem"em relação ao "mainstream"do MARINTIMIDADES,acrescento um elemento que me "saltou" da memória : Um dos dois primitivos barcos (tipo Mississipi) chamava-se "Ausenda Conde".O Outro não me lembro.Fui acompanhando a sua construção,à borda de água, mais ou menos onde hoje está a marina (ANGE ?...),quando por ali passava(só na maré cheia,claro...),a bordo do "Navegador I"ou de "II".Bons tempos !...Até sempre !..."kyaskyas@sapo.pt"

Anónimo disse...

Numa espécie de "post scriptum"ao meu comentário de 10 de Julho,apenas duas anotações: Uma ao próprio comentário,outra ao texto da Dr.ªAna Maria:
1 . Consolidou-se-me na memória que o 2ºbarco (a pás laterais...)era afinal...o "Rosa Branca",a que a Drªalude.
2 . Sobre a (actual)ponte : Entre a rapaziada dizia-se que o ilhavense Engenheiro Matias,alto dirigente nas Obras Públicas,era o autor dos planos da ponte,a qual previa a reconstrução da "estrada velha"da Barra,para a qual,realmente,ainda existe a respectiva passagem!...(o vão do lado do mar,que lá está,julgo que DESAPROVEITADO!)
Melhores cumprimentos,"kyaskyas@sapo.pt"

A. Cravo disse...

Ana Maria: - Se eventualmente o desejares, para enriquecimento dos teus conhecimentos em "Maritimidades", podes falar com o único acidentado ainda vivo, de seu nome Francisco Ramos, residente na Rua de Stº António (Junto ao Zézé das Caldeiradas) na Gafanha da Nazaré!... Ele foi o último a libertar-se do interior da cabine do camião!!!

Ana Maria Lopes disse...

Boa noite:
Obrigada, amigo Cravo. Anoto o nome do Senhor e a referência e tentarei procurá-lo.