O trabalho tem como objectivo uma (re)visitação do litoral, com base nos inquéritos in loco, levados a cabo nos anos 60, que deram origem à minha tese de licenciatura “O Vocabulário Marítimo Português e o Problema dos Mediterraneísmos”.
Repeti, então, para minha recreação, a visita ao litoral pelos anos 80, tendo guardado religiosamente o material, escrito e fotográfico, versando, sobretudo, e só, as embarcações “tradicionais”.
Actualmente, no 1º decénio do ano 2000 (2006/2007), séc. XXI, era altura de levar a cabo uma terceira geração de trabalho de campo, para constatar, praticamente, a "morte" anunciada das ditas embarcações tradicionais marítimas.
São intervenções que distam umas das outras 20 anos, que permitem tirar algumas conclusões, sempre tendo como termo de comparação a obra-base de Baldaque da Silva “Estado Actual das Pescas em Portugal”, de 1891.
Presentemente, senti que o que havia a fazer era percorrer incessantemente todo o litoral para recolher documentalmente um ou outro exemplar, quase todos embarcações miúdas, fotografá-las (é o mínimo que se pode fazer), descrevê-las, medi-las, para que a sua memória perdure e haja elementos para se reconstituírem, se para tal houver interesse. Sobretudo, divulgá-las. Num quotidiano em que as comunidades cada vez mais voltam as costas ao mar, a cultura marítima corre o risco de se perder.
Algumas associações e instituições de defesa do património marítimo lutam com este problema.
O que nos resta fazer perante este panorama?
Contracapa
Colocam-se algumas hipóteses possíveis e viáveis, sujeitas a análises e reflexões, de recuperação de embarcações:
- Devemos e podemos voltar a construir essas embarcações recuperando os modelos, as formas e as técnicas de construção naval, isto é, as tais réplicas navegantes, como os casos da lancha poveira do alto, a “Fé em Deus”, da Póvoa de Varzim, da catraia de Esposende, de algumas embarcações do rio Tejo, recuperadas por Câmaras ribeirinhas (a Câmara do Seixal é emblemática, neste capítulo) e do caíque de Olhão recuperado pela Câmara Municipal de Olhão, em 2002?
- Devemos musealizá-las, como é o caso do Museu Marítimo de Ílhavo com as embarcações da Ria e do Museu de Marinha de Lisboa, com diversos tipos recolhidos e expostos em seco, para citar dois dos casos que me são mais familiares?
- Devemos utilizá-las como elementos decorativos em rotundas ou centros comerciais, com toda a exposição ambiental a que estão sujeitas?
- Devemos promover a sua utilização, mantendo-as operativas, nem que seja numa actividade subsidiária, como o caso das regatas dos moliceiros da ria de Aveiro e outros exemplos?
- Ou simplesmente, devemos estudá-las e divulgá-las, utilizando software informático, mostrando as virtualidades deste tipo de representação computorizada, a chamada reconstrução virtual em 3 D?
Depois da apresentação pormenorizada e documentada do material recolhido nas três épocas, expomos as principais conclusões a que chegámos (160 páginas de texto, a duas colunas, 140 fotografias e nove planos de embarcações.
E editora? Pela experiência que vamos tendo, sabemos que não é tarefa fácil. Com o trabalho praticamente terminado, quase nem queria acreditar que as Edições Culturais da Marinha tivessem englobado esta obra no seu plano editorial de 2008. Assim foi e os prazos cumpriram-se. Muito trabalho, muita ansiedade, alguns pequenos dissabores, que foram ultrapassados. Tarefa cumprida. Mais um sonho, que, com paixão e muito trabalho, se tornou realidade.
Capa
O lançamento da obra será no próximo dia 24 do corrente mês, em Lisboa, no Museu de Marinha, no Pavilhão das Galeotas, pelas 17 horas e 30.
A apresentação da obra estará a cargo do Professor Doutor Álvaro Garrido, Director do Museu Marítimo de Ílhavo.
A apresentação da obra estará a cargo do Professor Doutor Álvaro Garrido, Director do Museu Marítimo de Ílhavo.
Fotografias – Arquivo pessoal da autora
Ílhavo, 20 de Novembro de 2008
Ana Maria Lopes
6 comentários:
Boa noite.
Todos os seus "Devemos..." têm resposta positiva, pois há tanto e tanto que se pode fazer com estes Barcos. Como já tenho escrito, o que está em questão vai muito para além do "objecto barco", pois em volta deles a lista de possibilidades é enorme sem que sejam usados só na pesca ou transporte.
Vão-se fazendo umas coisas, mas somos "demasiado ricos, maritimamente escrevendo" para que nos fiquemos por umas coisas.
Que este seu novo documento ajude a abrir mais alguns olhos e devagar lá chegaremos. Outros já chegaram, mais a norte.
Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt
Ao ler o seu artigo, pensei na descentralização das actividades culturais. Abandonar os centros típicos de cultura e implementar um museu numa comunidade à beira mar que esteja condenada ao colapso financeiro. Trata-se de um museu de cariz nacional, com embarcações de todo o pais, que serve para representar os nossos antepassados e relembrar que temos que virar costas à Europa e olhar para o horizonte do oceano atlântico que é tão vasto e rico em recursos. Nesse local vamos estudá-las e divulgá-las, para nunca mais esquecer, que o “Regresso ao Litoral” não é só no verão.
E regressados ao litoral com os nossos (agora sim) "barcos" típicos, cá estamos a reforçar as opiniões dos comentaristas anteriores e a desejar que as apresentações da obra, quer no Museu de Marinha em Lisboa, hoje, quer no Museu Marítimo de Ílhavo, no próximo sábado, sejam coroadas de exito.
Parabéns à autora e uma saudação especial ao João Galocha, por ter entrado neste circuito e aderido à causa.
JR
A DrªAna Maria,com os seuslivros(espero pelo da "décalage"de 40 anos sobre a sua licenciatura,pois tenho o 1º,o da tese...)e com este "blog"já fez mais do que a musealização física.E no caso do blogue,para mais,com um grau de profissionalização extremo.Cumprimentos,"kyaskyas".
Não é meu hábito responder a comentários anónimos, de um tal "Kyaskyas" que não sei quem é, mas, na realidade, dá-me que entender o interesse que revela pelo meu blog. Deve passar algum tempo a ler o Marintimidades!...
Estou procurando informações sobre a origem das embarcações portuguesas do tipo fragata e cangueiro. Existe no Brasil muita semelhança com os "saveiros" que foram comuns na região onde os portugueses chegaram em 1500. Agradeço se me enviar contatos e referências. Obrigado. Marcelo Montanhese, Bahia, Brasil, marcelomontanhese@yahoo.com.br
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