Em fins de verão, na zona lagunar, as festividades religiosas vão-se sucedendo: Senhora da Boa Viagem no último domingo de Agosto, no Torrão do Lameiro, S. Paio da Torreira, dia 8 de Setembro (e dias anteriores ou seguintes), procissão fluvial da Nossa Senhora dos Navegantes, em meados de Setembro, na Gafanha da Nazaré, Nossa Senhora da Saúde, na Costa-Nova, no último domingo de Setembro, Nossa Senhora das Areias em S. Jacinto, no primeiro domingo de Outubro e mais uma ou outra santidade espalhada pela região. Para muitas destas festas, o barco moliceiro era o meio de transporte favorito, porque também servia de casa nos dias de romaria. Esta tradição com o desenvolvimento de estradas e meios de transporte tem vindo a acabar. Mais sorte tem o S. Paio da Torreira que ainda é o ponto de encontro do maior e mais variado número de embarcações.
S. Paio – Anos 80
Na festa de S. Paio, a grande romaria da gente ribeirinha, a ria coalha – se de barcos que provêm de todas as freguesia marginais. Abundam os moliceiros lindamente embandeirados (…) que formam na Torreira a frota da alegria.
São as famílias e amigos do proprietário do barco que o enchem de raparigas airosas, de olhos escuros e tez morena, e de rapazes desempenados e garbosos, tisnados pela maresia.
O S. Paio é representado pela figura de um menino e está ligado às gentes que fazem da pesca o seu principal sustento, mas não só. Até porque na região a pesca interpenetra a agricultura numa simbiose perfeita do homem com a natureza: terra, ria ou mar. Quem não se lembra do Joaquim Ruivo, exemplo perfeito desta interpenetração? – tem gado e intensa vida de lavoura, no seu moliceiro, pelo menos, apanhava junco e moliço para uso pessoal, trabalha nas reconstruções ou “restaurações” dos barcos como ele lhes chama, decorava barcos e constrói as bonitas cangas vareiras.
A ligação do santinho padroeiro ao vinho, sobejamente conhecida, também terá a ver com a plena época das vindimas, em que a festa se realiza.
Quadra:
Ó S. Paio da Torreira
Ó milagroso santinho.
Hei-de cá voltar p´ró ano
Lavar o Santo com vinho.
Esta dicotomia de sentimentos está constantemente presente na decoração dos barcos moliceiros. E também a presença da Virgem na proa dos chinchorros e da Nossa Senhora ou da cruz de Cristo na bica do barco do mar não serão também indícios de uma forte religiosidade?
Eis alguns painéis de moliceiros em que o motivo central é religioso, neste caso, a representação do S. Paio da Torreira, celebrado nos dias 5 a 8 de Setembro.
Eis alguns painéis de moliceiros em que o motivo central é religioso, neste caso, a representação do S. Paio da Torreira, celebrado nos dias 5 a 8 de Setembro.
“S. Paio da Torreira”
“Terás sempre lugar no meu coração”
Na segunda-feira, dia 8, dia de S. Paio, às 10 horas realiza-se a tradicional missa campal, seguida da habitual procissão.
Fonte: “Murtosa – Uma terra a descobrir – Romaria do S. Paio da Torreira”, texto de Ana Maria Lopes e Fotografia de Carlos Pelicas
Fotografias do Blog – Arquivo pessoal da autora
Ílhavo, 4 de Setembro de 2008
Ana Maria Lopes
2 comentários:
Parabéns, belo post a assinalar a data.obrigado.
Ana
Como sempre os teus escritos são muito bons,mas a história do roubo do S. Paio é hilariante .ahahahhahahahhahah..
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