
Até o nosso prémio Nobel Egas Moniz no seu livro de memórias A Nossa Casa não deixa de referir o encanto do S. Paio:
Na festa de S. Paio, a grande romaria da gente ribeirinha, a ria coalha – se de barcos que provêm de todas as freguesia marginais. Abundam os moliceiros lindamente embandeirados (…) que formam na Torreira a frota da alegria.
São as famílias e amigos do proprietário do barco que o enchem de raparigas airosas, de olhos escuros e tez morena, e de rapazes desempenados e garbosos, tisnados pela maresia.
O S. Paio é representado pela figura de um menino e está ligado às gentes que fazem da pesca o seu principal sustento, mas não só. Até porque na região a pesca interpenetra a agricultura numa simbiose perfeita do homem com a natureza: terra, ria ou mar. Quem não se lembra do Joaquim Ruivo, exemplo perfeito desta interpenetração? – tem gado e intensa vida de lavoura, no seu moliceiro, pelo menos, apanhava junco e moliço para uso pessoal, trabalha nas reconstruções ou “restaurações” dos barcos como ele lhes chama, decorava barcos e constrói as bonitas cangas vareiras.
A ligação do santinho padroeiro ao vinho, sobejamente conhecida, também terá a ver com a plena época das vindimas, em que a festa se realiza.
Quadra:
Ó S. Paio da Torreira
Ó milagroso santinho.
Hei-de cá voltar p´ró ano
Lavar o Santo com vinho.
Daí a ligação um pouco aberrante da relação entre o divino (as crenças, a fé) e o profano, cenas não das mais recomendáveis que os romeiros são levados a cometer como um desacato mais agressivo ou discussão mais acesa. Tão depressa o peregrino se entrega aos mais profundos actos de devoção, como apanha uma enorme borracheira e pragueja por tudo quanto é canto e esquina. Será em homenagem ao S. Paio milagreiro que transformava o precioso néctar em líquido santificado, segundo uma tradição antiga em que o santo era banhado em vinho?
Eis alguns painéis de moliceiros em que o motivo central é religioso, neste caso, a representação do S. Paio da Torreira, celebrado nos dias 5 a 8 de Setembro.


“S. Paio da Torreira”
“Terás sempre lugar no meu coração”
Mais uma vez, este ano, a romaria do S. Paio já tem programa de festas. São destaques do cartaz: a procissão, o fogo de artifício no mar e na ria, regata de bateiras (à vela), a corrida de chinchorros, as rusgas e a regata de moliceiros. Esta e o concurso de painéis têm lugar no dia 7, domingo, respectivamente às 16 horas e trinta e 10 horas da manhã.
Na segunda-feira, dia 8, dia de S. Paio, às 10 horas realiza-se a tradicional missa campal, seguida da habitual procissão.
Fonte: “Murtosa – Uma terra a descobrir – Romaria do S. Paio da Torreira”, texto de Ana Maria Lopes e Fotografia de Carlos Pelicas
Fotografias do Blog – Arquivo pessoal da autora
Ílhavo, 4 de Setembro de 2008
Ana Maria Lopes
2 comentários:
Parabéns, belo post a assinalar a data.obrigado.
Ana
Como sempre os teus escritos são muito bons,mas a história do roubo do S. Paio é hilariante .ahahahhahahahhahah..
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