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O meu avô Pisco, bisavô dos meus filhos e trisavô
dos meus netos…
Manuel Simões da Barbeira (Capitão Pisco) nasceu a 29 de Julho de 1885 e
era filho de João Simões da Barbeira, o Pisco,
marítimo, e de Joana Correia, de cujo casamento nasceram quatro filhos – Manuel
Simões da Barbeira, Francisco dos Santos Calão, David, que morreu muito cedo e
uma filha, Nazaré Correia.
Morador na Rua João de Deus, casou com Maria
Sacramento Simões, de cuja união nasceu Maria Manuela Sacramento Simões.
Desde que existem algumas provas, o Cap. Pisco comandou, com 23 anos, o iate Mondego, de 1908 a 1911, da praça da Figueira da Foz.
Nas campanhas de 1912 e 1913, passou para o comando do lugre Golfinho, da mesma praça.
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Nas campanhas de 1915 a 1917, comandou o lugre-escuna Figueira, que foi construído em Inglaterra em 1904 e na de 1918, o lugre Voador, da praça da Figueira da Foz.
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Vivo de referências da vida do meu Avô que
quero passar aos meus filhos e aos meus netos.
Na campanha de 1919, fora o segundo capitão do famoso lugre-patacho Gazela Primeiro.
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Manuel Simões da Barbeira, já na praça de Aveiro, começou por comandar o lugre Silvina, de 1921 a 1927.
Neste ano, abrandemos o ritmo dos navios e das
viagens e dediquemos algumas palavras à sua faceta empreendedora. Foi um dos sócios fundadores da empresa Testa
& Cunhas, Lda., constituída em 16 de Dezembro de 1927, enquanto, anteriormente,
já tinha feito parte da Empresa de Navegação e Exploração de Pesca, Lda., de
Aveiro.
Voltando aos navios, o Capitão Pisco comandou o lugre Cruz de Malta de 1928 a 1937, com uma interrupção em 1932, em que o navio não foi ao bacalhau.
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Na campanha de1938, fez a viagem inaugural do lugre de quatro mastros Novos Mares, aí se mantendo até 1942
(inclusive), acabando, então, a sua vida de mar.
Por informação do Jornal de Notícias de 8.12.1938, tive conhecimento de que o Novos Mares, no dia anterior ao entrar a barra e ao passar a restinga, encalhou, pelo que os restantes cinco navios, que aguardavam fora do porto, ficaram para o dia seguinte. Esse encalhe, felizmente, sem consequências, foi originado pelo lamentável estado da barra, agudizado pela não existência de motor, a bordo. Na campanha de 39 embora um pouco mais tardiamente, o Novos Mares já partiu com o novo equipamento, indispensável.
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Então, depois de muitas procelas, maus
bocados, aflições, preocupações, angústia, saudades da família, própria deste
tipo de vida rude e dura, ficou em terra, depois de cerca de quarenta anos de
mar, apto a, em 1943, iniciar assuas funções de Avô. Adorava-me, estragava-me
com mimos, levava-me com frequência à chegada das redes (artes), nas
companhas da Costa Nova, s, amiúde, no quadro da bicicleta, à seca, na Gafanha
da Nazaré.
Bonacheirão, bondoso, humano e afável,
empreendedor e trabalhador, entregou-se, após as fainas do mar, às visitas
sistemáticas à firma de que fora um dos sócios fundadores. As lides agrícolas,
ali, no quintal do Curtido de Baixo, ocupavam-lhe o resto do tempo. Deixou
marcas profundas na minha existência, e, ainda, hoje, guardo, com carinho,
alguns dos instrumentos náuticos de seu uso pessoal – em tempo incerto, não
saio sem consultar o “seu” barómetro. Curiosa, a diversidade de navios em que
embarcou. Daí, não ter sido fácil, mas atractivo e apelativo, articular as
informações. Partiu, cedo, numa viagem sem retorno, vítima de uma intervenção à
vesícula, malsucedida, em 16 de Fevereiro de 1953, com 67 anos.
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Ílhavo, 25 de Fevereiro de 2024
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Ana Maria Lopes
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