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As “NAMY” da minha vida…
São hoje objectos de
museu as minhas bateiras.
Cada uma com a sua
história e a sua época. Estão, presentemente, em exibição, na Sala da Ria do
MMI.
A que época remontar?
A primeira, graciosa, apitorrada, branquinha e verde, a NAMY, A 7892. H existe pelo menos desde 1935, com 76 anos e pertencera, primeiro, a minha Mãe, com o nome de NENÉ. Tenho muita pena de nunca me ter vindo parar às mãos nenhuma foto dela com esse nome, mas sei bem que assim foi.
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Foi na NENÉ que as meninas dos anos trinta, na Costa Nova, passaram a sua meninice na Ria, em competições de remo, em são convívio, no então Bico, nas coroas, na apanha de bivalves, à pesca de recreio, já que as espécies piscícolas abundavam, então, nessa época: grossas enguias, belas e espalmadas solhas, robalinho prateado, alguma tainha distraída e, frequentemente polvos de olhar fixo e aspecto repugnante. Era assim a nossa ria.
Notícia escrita, fidedigna, da sua existência, obtenho-a através de O Ilhavense de 15 de Setembro de 1935, em que aparece como participante, na modalidade caçadeiras, em grandiosa regata então efectuada na Costa Nova, no dia 15 de Setembro de 1935.
Lemava-a D. Felicidade Mano e era remador Mário Graça.
E todos os longos verões, a NENÉ ia para a Costa, enquanto passava os invernos bem acolhida e vigiada no travejamento dos armazéns da carpintaria da seca, onde se construíam e reparavam os dóris, sob a vigilância do sr. Zé Vicente.
Em
1943, nasci eu e fizeram grande desfeita à dona da embarcação. O meu Avô
rebaptizara a bateirinha com o nome
da neta – NAMY (Ana Maria), diminutivo
que não pegou à nova proprietária.
Em documento oficial comprovativo do seu cancelamento, por más condições de segurança, em 10.7.1985, tive conhecimento exacto das suas dimensões – comprimento, 4.90 metros, boca, 1.14 m. e pontal, 0.30 m – e que tinha sido adquirida na Secção náutica do Clube dos Galitos, por 200$00.
Em 22 de Setembro de 1946, mais uma vez, foi concorrente das Regatas da Senhora da Saúde, na 3ª corrida das caçadeiras, com Maria Isabel Duarte Silva como timoneira e Ruy Peixe, aos remos, segundo o jornal da nossa terra (20. 9. 1946).
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E
assim começámos como as moçoilas do tempo da minha Mãe a usufruir da ria de uma
forma directa e saudável, como hoje não é possível.
Algumas inovações: passeios até à Biarritz com aproveitamento de marés, banhocas reconfortantes, mergulhos da proa, travessias até à Bruxa a nado, com apoio da bateira ou a remo e tudo o mais quanto a imaginação nos despertasse fazer.
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No parecer de Alberto Souto, pelos anos 30, estas aprimoradas bateiras eram encomendadas pelos capitães dos antigos lugres de Ílhavo para que os filhos pudessem usufruir dos prazeres da ria, quando, em férias, na Costa Nova.
Era eu quem a amoirava com frequência, enfiando a argola de ferro no colorido moirão frente à casa de Verão. Tempos em que se recolhia, a nado!!!!!
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Já casada e mãe do primeiro filhote, saboreámos os três os prazeres de uma maré viva, cheiinha, transbordante, reflectida, em que os roliços remos de forqueta cortavam a água espelhada.
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Foi esta a vida da minha primeira NAMY, aquela com que tentei o Amigo Marques da Silva a recriar em miniatura, com as mãos que já lhe conhecemos. Parece uma jóia.
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Ílhavo, 19 de Abril de
2011 (26. Fevereiro. 2023)
Ana
Maria Lopes
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