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No primeiro de Janeiro de 1986,
quando dava os últimos retoques à mesa, para o almoço de boas-vindas ao Ano
Novo, toca o telefone… Está? O que acabei de ouvir, pela voz perturbada do Dr. A.
Alberto Cunha?...
Sem perdas pessoais, até porque, na
altura, não estava ninguém a bordo, o Capitão
Pisco naufragara. Faz, exactamente, hoje, trinta e seis anos.
Como fora, como não fora…Todos
comentámos que o Novo Ano (1986) estava a começar com “óptimas” entradas…
Junto à Marginal da Figueira da Foz,
onde hoje é o porto comercial, durante a invernosa noite, o arrastão costeiro Capitão Pisco estava atracado por fora
do Santa Mãe Laura, arrastão
igualmente costeiro, pertença da empresa de pesca Sociedade Brasília.
Por força da corrente, na vazante, os
cabos do Santa Mãe Laura partiram e
os dois navios foram de enxurrada, com a força da correntia, pela barra fora, quais brinquedos de criança.
O Santa Mãe Laura estatelou-se nas pedras do molhe e partiu-se de
imediato – era de madeira.
O Capitão Pisco saiu a Barra, contornou o molhe e foi encalhar no Cabedelo,
a sul da Figueira da Foz.
O mestre pedira para o levarem para
bordo, de helicóptero, a ele e ao motorista, mas, impossível, devido às
péssimas condições de tempo e mar. Ali ficou, meses e meses, dado como perdido.
A mútua considerou a perda total do
navio e indemnizou a empresa, tendo ficado com os salvados que vendeu.
Com o alvará, construiu-se, para
substituição da unidade, no Estaleiro Naval do Mondego, na Figueira da Foz, o
arrastão costeiro para crustáceos Cygnus.
Fiquei, mais tarde, com um salvado de grande importância afectiva
para mim, o sino, embelezado por um primoroso trabalho de marinharia.
Além de alindar a entrada da casa de
praia, anuncia visitas e serve de mote a uma história “verdadeira” para os
netos. Era uma vez… um barquinho verde, que, numa noite de mau tempo, …
No domingo seguinte, num soalheiro,
mas gélido dia de inverno, eu e o Miguel fomos “ver para crer” e imortalizámos o
naufrágio com estas “chapas que batemos”.
Comentários para quê?
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Imagens – Arquivo pessoal da autora
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Ílhavo, 1 de Janeiro de 2022
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Ana Maria Lopes
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