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Há muito que os naufrágios na barra
de Aveiro, nos princípios do século XX me atraem, mas, só há uns tempos, tive
disponibilidade para me entregar mais à sua redescoberta.
Em pesquisa sistemática do jornal “O
Ilhavense”, eis que a notícia do encalhe do lugre “Atlântico”, nos
finais de 1925, no regresso dos bancos da Terra Nova, me fez pensar e revirar
os apontamentos.
Para chegar ao lugre “Atlântico”, tive de regredir no tempo e
com trocas de impressões com amigos interessados, parece que cheguei a porto seguro…
Pesquisa ali, pesquisa acolá, listas
de navios, jornais, catálogos e o tal “puzzle” marítimo encaixa gradativamente.
O lugre “Atlântico”, ex-“Dolores”, de madeira, (tendo navegado sob bandeira dinamarquesa com os
nomes de “Urda”, de
A partir de 1910, surge registado no
porto de Aveiro, com o nome de “Dolores”, tendo sido seu capitão até 1916,
António José dos Santos e Augusto Fernandes Pinto (1916 e 1917).
Por informação da lista de navios portugueses de 1914, temos, então, a certeza de que era, pois, pertença da Parceria Marítima Aveirense e foi-o até 1917.
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Entre 1918 e 1921, passou para a
Companhia Aveirense de Navegação e Pesca, mudando o nome de “Dolores” para “Atlântico”,
em 1920.
Alcançámos o “Atlântico” …
Por ele passaram os Capitães Jorge
Fort’Homem (1919 e 1920) e Joaquim Gonçalves Guerra (1921).
Mas, a dança das sociedades não pára
e a partir de 1922 até 1925, é propriedade da Parceria Marítima Africana.
De
Por informação da Marinha, o “Atlântico”
naufragou por encalhe a sul da barra de Aveiro, em 30 de Outubro de 1925, por
motivo de avaria no leme, tendo sido salvos todos os tripulantes, através do
cabo de vaivém.
O relato do nosso jornal do primeiro
de Novembro de 1925, em notícia Navio
Perdido é muito mais emocionante e pormenorizado, pelo que respigo alguns
parágrafos:
“Quando ao largo da barra pairava uma quantidade de navios esperando a
entrada no porto […], o rebocador Vouga tentou sair, não o podendo fazer em
consequência da agitação do mar.
Entretanto, o “Atlântico” vendo o sinal do Forte, foi-se
aproximando, à espera de ocasião propícia. Como o rebocador não se aproximasse
[…], o navio veio singrando ligeiro, passou o banco de areia e, ao chegar perto
da “Meia-Laranja”, ficou sem governo, em consequência de uma vaga lhe ter
despiado a gaiúta e esta ter quebrado a roda do leme.
De terra, onde uma multidão esperava a entrada dos navios, ao ver-se que
o “Atlântico” corria o risco de se perder, houve um grito de angústia por
aqueles marinheiros, que estavam prestes a serem tragados pelas ondas, tão
perto de suas famílias e seus lares!
Sem governo, à mercê do vento e da corrente […], o “Atlântico” é
arremessado pelas vagas que lhe varrem o convés, um pouco a sul da
Meia-Laranja. Na impossibilidade de salvação do navio, o capitão ordena que a
tripulação (no total de 28 homens) se prepare para o abandonar. Estava salva a
tripulação!”
Com a vazante da maré, iniciaram-se
os trabalhos de recuperação dos salvados
e de grande parte da carga, constituída por 2 200 quintais de bacalhau. Era
capitão do lugre “Atlântico”, Marcos Luís Fraco e piloto, João Firmeza.
Ao local acorreram milhares e
milhares de curiosos, de Ílhavo, Aveiro, Gafanhas, Costa-Nova, para verem o
navio naufragado.
Pena é que entre tantos “mirones”,
nenhum tivesse feito disparar a objectiva, de modo que um documento visual
tivesse chegado, hoje, até nós, para enriquecer a narrativa, já por si, tão
forte e impressionante!
Pessoa amiga teve a gentileza de me enviar uma notícia de época, do “Comércio do Porto”, com foto e tudo.
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Ílhavo, 06 de Abril de 2021
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Ana Maria Lopes
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