sábado, 5 de setembro de 2015

Beleza natural da Costa Nova

-
A Costa Nova é uma estreita faixa de terra, bordejada pelo mar e pela ria. Tem, consequentemente, uma orla marítima e uma orla lagunar bem distintas.
A sua beleza natural, ninguém lha tira, ou por outra, já lhe surripiaram uma tão grande fatia, que nunca mais foi ou será o que era.
O brilho prateado do seu mar em movimento ondulante, como quem vagueia ou procura alguma coisa e uma laguna calma e brilhante, de luminosidades mutantes, consoante a hora do dia, caracterizam-na e fascinam os seus amantes.
Alguns aspectos, como as ciclovias, quer a norte, quer a sul, as boas condições para caminhada, corrida, pedalada, patinagem, tornam-se extremamente convidativas.
Mas, como nem tudo o que «luz é oiro» e, este ano, talvez por ter tido por aqui uma estadia mais prolongada, tive tempo de contemplar algumas mazelas de que padece e que necessitavam muito mais cuidadas. Indicio:
-
Frente mar
-
Alguns, bastantes, passadiços, de madeira, que pretendem proporcionar melhor acesso à orla costeira, estão em muito mau estado, originando quedas, tropeções, feridas e outros estragos físicos. Por outro lado, em alguns casos, não dá bem para perceber se os passadiços facilitam a chegada à praia, se prejudicam a protecção dunar…
-
Frente ria
-
Há outras moléstias que, francamente, me desgostam e, sem querer ferir ninguém, gostava de saber, por que os anos se sucedem e estão na mesma ou pior.
Daqui, desta minha janela, fere-me olhar, constantemente, a antiga mota, virada para a ria, que já lambeu o areal e quase os palheiros. O que «resta desta memória» estará tão descuidado, porquê? Haverá alguma razão que eu desconheça?
Aqueles tristes e insignificantes lagos que pretendem memorar a ria (consegui-lo-ão?) que ladeiam a mota, terceiro ancoradouro das barcas de passage, construído pela JARBA em 1942, nunca estiveram em tal estado… Durante meia safra, foram depósito de água poluída, emporcalhada, esverdeada, apinhada de garrafas e de sacos plásticos. Depois de esgotado o resto da água, assim permanecem, vazios, secos, por pintar e por cuidar. A existirem, que existissem, ao menos, aprimorados. Mas, não. Estão o cúmulo do desmazelo.

A mota entre lagos vazios e descuidados

O relvado, pouco cuidado, amarelecido, mais parece palha para alimentar jumentos, que verdura para alimentar a vista, na sua frescura. Algumas folhas, caídas, acastanhadas, envelhecidas, descuidadas, das palmeiras, contribuem para a encenação de uma situação sombria.
Faltam-nos, desde o ano passado, dois moliceiros que nos serviam e embelezavam a ria, no seu navegar e que nos facilitavam a travessia para a Bruxa, típica na zona, para veranear e, possivelmente, degustar uma tosta, bifana ou empalhada, tão características do local. Quem sempre teve a barca da passage do outro lado da estrada, sente-se completamente truncada e presa na tal dita bela língua de areia.
No términus da Calçada Arrais Ançã, com o seu belo casario riscado, que não chega para «tapar olhos», a residentes e visitantes, começa o desmazelo pleno dos parques e campos desportivos (merecerão esse nome?).
Um parque infantil que já foi um «brinquinho», pelos anos 60, que frequentei assiduamente com crianças familiares, hoje, e já há uns valentes anos, torna-se ultrapassado, desactualizado, pela falta de higiene, beleza, e de segurança, nas poucas diversões disponibilizadas.

O pseudoparque infantil

E os campos que se lhe seguem – de ténis, por exemplo? Abandonados, sem controlo, de portas escancaradas e sem qualquer tipo de vigilância, rodeados de ervas, estão completamente subaproveitados.
E um outro, que se lhe segue, apelidado de campo de futebol? No mesmo ou pior estado.
Toda esta zona envolvente na frente ria, é amparada por uma construção, que já mereceu o pomposo nome latino de Pérgula, no meio de umas ervagens secas, brotadas em areal sórdido e imundo. 

Alvura da pérgula, no final dos anos cinquenta
Salva-se o Minigolfe, renovado no ano passado, local alternativo para crianças e familiares, em dia de nortada ou de mar picado, na falta de praia lagunar.

No minigolfe, com a ria, ao fundo
Bem esmiunçado, muito mais haveria que elencar, mas já chega de mazelas que deitam a perder o potencial natural da Costa Nova.
Continuando a pedalada pela ciclovia, para norte, deparamos com o aspecto desolador do bar do CVCN encerrado, bar esse que, de algum modo, já foi um ponto de encontro e de convívio, na praia.
Bar do CVCN encerrado
Também, no domínio de transportes, a estrada de Ílhavo/ Costa Nova quase não existe no mapa. As carreiras, apenas durante Julho e Agosto, são pouquíssimas e incertas, deixando «em terra», com a maior desfaçatez, mesmo quem é possuidor de passe mensal. E as pessoas que têm empregos sazonais na Costa Nova, não tendo transporte próprio, assim ficam a «a ver navios» …
-
O habitual festival de marisco «A ria A gosto», as natas do café Atlântida e as tripas do Zé das Tripas e suas variantes não chegam para animar a Costa Nova, durante a dita época balnear. Há que renovar e, sobretudo, cuidar.
-
Nas entrelinhas, poderá haver aspectos que desconheço, mas que cada um palpitará a seu bel-prazer. Ou haverá quem não concorde comigo?… Assim vejo – sem querer culpabilizar ninguém, mas sim chamar a atenção, pela positiva.
-
Costa Nova,  30 de Agosto de 2015
--
Ana Maria Lopes
-

Sem comentários: