terça-feira, 15 de abril de 2014

Uma janela para o sal - XII


A encher a canastra…
 
Vai-se tirar o sal.
Longas e estreitas veredas de chão endurecido preenchem-se de montículos de cristais brancos – são os tabuleiros.
Quebrado, rido e encimado, ali escorre o sal puro, servido «sobre tabuleiro de lama endurecida».
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Homens e rapazes valentes chegam pelo fresco da manhã. Apetrecham-se de bilhas e tachos com o parco repasto, para enfrentar o duro carreto – é um tal encher, carregar e acarretar o primeiro tempero, cuidadosamente encanastrado... do tabuleiro para a eira.
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O moço enche a canastra... não com punhos de madeira, mas «à rasoila», que os tempos são outros.
Num ímpeto, o jovem rapidamente cobre-a de sal, fazendo-a transbordar.
Será ela a sua companheira ao longo do dia. Feita de tiras de madeira entrelaçadas, bem encanastradas, transforma-se no cesto de carrego do tempero da Ria.
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Entre as praias da marinha velha e o entraval, o marnoto aguarda serenamente o seu moço...
É o início do transporte do sal – do tabuleiro para o monte.
Ali plasmado junto à canastra, pensa… faz conta aos carregos de sal.
Cada meio dá cerca de três canastras, uma meia centena deles terão de ser colhidos ao longo do dia... uma canseira!
E o peso? Quase o meu!...
E o percurso? Meia centena de metros de tabuleiro duro e salpicado de cristais que desgastam e ferem as solas dos pés...
Mas há ir e voltar: um retorno leve num passo acelerado; uma canastra cheia e os pés em chaga.
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Audaz, o marnoto ergue a canastra e carrega-a sobre a cabeça do jovem, confiando-lha como se de uma oferenda se tratasse. Ele alomba com o peso, mas, no caminho para o malhadal, sorri... Vai atirar a primeira canastra de sal para a eira! Vai estreá-la!
Mas a correria ainda agora começou e o sol vai apertar...
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Quase nus, enfrentam o sol e a aspereza da salsugem, correndo, pisando, subindo e descendo machos e pranchas, percorrendo caminhos intermináveis, num vaivém… calejando os pés e castigando a cabeça de tanta canseira. Os seus corpos recebem a moira escorrida que estala a pele – é a vida dura na marinha!
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Nota – Para esclarecimento de linguagem técnica, consultar GLOSSÁRIO de Diamantino Dias.
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Imagens | Paulo Godinho | Anos 80
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12| 11 | 2013
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Texto | Etelvina Almeida |Ana Maria Lopes
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